terça-feira, julho 17, 2007

Ida ao Bosque

Nos primeiros dias de Verão, o cansaço acumulado ao longo de um ano de trabalho e a proximidade das férias encaminham o corpo e a mente para horas de descanso, preferencialmente serenas. Este ano, a chegada tardia dos dias quentes de Verão, com fins de semana chuvosos ou corridos a “nortada”, atiram a família para outras paragens que não a praia, tão perto de casa.
Encontra-se em contextos urbanos nas cidades de média dimensão, óptimas soluções para programas alternativos. Cidades com a história preservada, com várias ofertas para os tempos livres - desde o lazer em família a actividades didácticas - e sobretudo, urbes com reabilitações urbanas bem conseguidas, de forma a oferecer espaços amplos às populações, que prontamente se adaptam e adquirem hábitos de os frequentar.
Outra solução são os contactos com a natureza, em locais adequados. A observação da dinâmica dos animais em contraste com a tranquilidade do reino mineral ou vegetal, tornam-se nos passeios predilectos. Longe das áreas protegidas em serranias, os montes mais próximos não foram repovoados com espécies animais diferentes das existentes e raramente, podemos mostrar aos filhos mais do que rebanhos de vacas, ovelhas ou cabras. Simplesmente, gado. Bovino ou caprino.
A fauna bravia existente nas redondezas limita-nos as observações a ornitológicas. Esporadicamente, ainda assim. Sem esquecer os rastejantes de vária índole. Para quem, nas traseiras de casa é visitado por várias espécies de aves de rapina e voadores nocturnos, espera encontrar uma maior diversidade que vá de encontro as expectativas do imaginário dos mais pequenos numa ida à floresta. Permanece nas suas cabeças, a ideia dos animais vivendo em comunidade em pleno bosque.
É certo que a adaptação dos animais, dito selvagens, ao círculo humano é uma realidade. Testemunhos de um javali às portas de S. João da Madeira, provocando um acidente no IC2, há uns anos atrás, servem para assegurar ter presenciado um esquilo e mais tarde uma raposa a atravessar uma estrada no concelho da Feira. No entanto, tudo isto são observações isoladas sem qualquer hipótese de repetição. Provavelmente incursões do género da dos heróis do filme infantil “Pular a Cerca”.
A recepção no bosque não podia ter corrido da melhor maneira. No escuro da noite, um vulto de médio porte, em plena estrada, surgiu na frente do carro. Ao seu lado, o pequeno filho. A primeira impressão foi tratar-se duma vulgar cabra, meia perdida junto à estrada. Focando melhor, a surpresa de reconhecer uma mãe cervídeo e o seu “bambi”, alargou o contentamento familiar. O instinto maternal da corça foi comprovado por todos, pois a retirada da estrada só foi efectuada, quando o filhote estava em local seguro, fora do quentinho alcatrão, numa noite com temperaturas de 4º centígrados.
O resto do fim de semana foi chuvoso, quase nem víamos paisagens, por isso, das restantes e anunciadas espécies de animais, em habitat natural, existentes na reserva escolhida, nem vê-los.
Por estarmos em Espanha, aproveitámos, nas tréguas da chuva, para contemplar a harmonia paisagística das margens do Lago de Sanabria. Descobrindo, ou relembrando, ter por lá passado D. Quixote a caminho de mais uma aventura. Além das paisagens, os nossos vizinhos, conseguem preservar muito bem o seu património. Visitar Castelos faz também parte dos roteiros familiares. Este de Puebla de Sanabria, tão próximo de Portugal, não sendo muito grande tem o seu interior mais recheado e melhor aproveitado do que a maioria dos Castelos Nacionais, nos quais apenas se mostra muralhas, torres de vigia e ameias.
O regresso ficou marcado, pelo encanto de ver, pela primeira vez, Trás-os-Montes verde no Verão. As novas vias de comunicação permitem percorrer imensos quilómetros no interior do País, numa só tarde. Além desta vantagem, oferecem-nos óptimas oportunidades para o deslumbramento com a paisagem nacional: as belas e encantadoras encostas Durienses, quer atravessando o planalto ora rochoso, ora verdejante da Beira Alta. A incerteza do território.
Os estímulos duma viagem ficam nos actos e brincadeiras das crianças. No regresso à praia, ao construir um Túnel com o irmão, escavando na areia, a Luisinha optou por fazê-lo em curva, tal como tinha visto na A24, perto de Castro Daire. É certo que não memorizou a sua localização, referindo-se ao “Túnel da viagem a França”. Baralhada por ao regressar a Portugal, mal se transpõe a fronteira, ter atravessado uma aldeia com um nome deste país.

(a publicar no dia 19/07/07)

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