A propósito da eliminação da selecção de futebol de Portugal no Euro 2008, repetiu-se até à exaustão na comunicação social a expressão “o futebol é um jogo de 11 contra 11, em que no final ganha a Alemanha”.
Esta frase poderia ter sido inventada por um português, tipo um jornalista a fazer a cobertura do campeonato, ou por um jogador ou mesmo um técnico, no final do jogo da passada semana, ou então, após o jogo do campeonato do Mundo de 2006, no qual os germânicos conquistaram o terceiro lugar. Porém, não foi.
O seu autor, Gary Lineker, avançado inglês que jogou pela selecção do seu país entre 1986 e 1992 teve que pronunciá-la, certamente, em desespero. Nesse período, em fases finais das principais competições de futebol, a Inglaterra - além de não ter feito nada de assinalável - jogou com a Alemanha apenas no Mundial de 1990. Nas meias-finais, em encontro entre ambas as selecções, a Inglaterra perdeu, no desempate por grandes penalidades, após o empate a uma bola no final do tempo suplementar, com o golo inglês a ser apontado precisamente pelo autor da frase transcrita anteriormente. Mais tarde em 1996, no campeonato da Europa, provavelmente com Gary Lineker como comentador desportivo, a Inglaterra voltou a perder com a Alemanha, precisamente nas meias-finais e novamente, por desempate por grandes penalidades. Nessas duas competições, os alemães ergueram o troféu. Aliás, os últimos conquistados.
As competições internacionais entre selecções criam por vezes a noção de equipas intransponíveis para alguns. As chamadas bestas negras. A Espanha esteve oitenta e oito anos sem vencer a Itália; mais recentemente Portugal ganhou sempre a Inglaterra e à Holanda, em contrapartida tem perdido com a França; outros exemplos existem e por vezes, fazem-se afirmações como a de Gary Lineker, contextualizada numa época mas, sem significado futuro.
Mal estaríamos se assim fosse.
Na época do avançado inglês, a Alemanha perdeu nos Campeonatos da Europa de 88 e 92 com a Holanda. Em 88, assisti ao jogo da meia-final inserido numa aposta entre clientes holandeses e um alemão, dono de um bar. A passagem à final valia um barril de cerveja. Com a derrota germânica, o bar ficou de torneira aberta, algumas horas. O acesso foi garantido a todas as nacionalidades e eu não me lembro de mais nada. Em 92, os holandeses voltaram a vencer a Alemanha, ainda na fase de grupos. Ainda assim, ambas passaram às meias-finais e para surpresa de muitos, a Holanda perdeu com a Dinamarca. O que afinal, não se pôde considerar de tanta estranheza pois a Dinamarca, com os golos de Larsen, derrotou a selecção alemã, Campeã Mundial em 90.
A incerteza quanto a favoritos, vencedores, continua a ser o maior interesse do Europeu. No dia em que escrevo não sei quem serão os finalistas da edição de 2008, tenho essa desvantagem relativamente aos leitores.
Em matéria de participação da equipa nacional já tudo foi dito ao longo da última semana.
Se nos anos noventa os ingleses baquearam nas penalidades, os portugueses terminaram os jogos com a Alemanha, na década actual, olhando de lado para o seu guarda-redes, independentemente dos seus méritos enquanto jogador e profissional de futebol.
Para quem segue a participação das várias selecções nacionais desde o Euro de 1984, tudo o que aconteceu na Suíça não é novidade. Favoritismo, vedetismo, contratos milionários, estágios interrompidos, jogadores baixos, convocatórias controversas e erros defensivos não são de agora. Resumindo, a displicência nacional.
Nestes últimos vinte e quatro anos, as mudanças dos jogadores portugueses são mais de aspecto capilar. Em 1984, os bigodes eram a principal característica dos nossos seleccionados. Doze anos depois, sem o peculiar “pêlo na venta”, com excepção do seleccionador, a participação portuguesa reduziu-se ao risco ao meio efectuado por Poborsky a Vítor Baía. Passados quatros anos, a imagem felpuda de Abel Xavier foi o desalento da selecção. Em 2004, vencido o trauma da meia-final com um grande golo de Maniche, as particularidades capilares não se concentraram nos jogadores, mas sim, nos estádios construídos para o efeito, estando muitos deles ao fim de quatro anos, sem qualquer adesão de público, desde calvos a cabeludos.
Neste último Europeu, além do corte de cabelo de Cristiano Ronaldo, que devido aos milhões de euros que actualmente recebe passa incólume a qualquer tratamento depreciativo, os jogadores da selecção nacional evidenciaram-se pelas suas tatuagens.
Neste particular, os requisitos do próximo seleccionador nacional poderão passar pela presença destas marcas no corpo, para se poder promover a rápida aproximação entre o novo treinador e jogadores.
(a publicar dia 26/06/08)