Escrever um texto, para ser publicado a um dia do mês de Agosto, traz um grande embaraço.
Nos últimos dias de Julho, para quem apenas pode usufruir do período de férias, uma vez por ano e em Agosto, pouco ou nada interessa.
Os principais assuntos de conversa são as férias e qualquer assunto sério, por mais polémico que seja, não serve para despertar a concentração. Nesta fase do ano, em que alguns familiares, amigos e conhecidos estão de férias, todo o pensamento livre tem como objectivo planear as férias. Embora já delineadas, no tocante a marcações logísticas, existem sempre pormenores deixados para a última hora. Além do imprevisto, sinal da espontaneidade neste período do ano.
Quando prepararei os textos para publicação durante este mês, verifiquei no calendário como seria difícil escrever estas linhas para o último artigo de Julho, pois o pensamento estaria obcecado com as férias.
Fiquei a contar com o inesperado, com alguma inspiração momentânea e se nada disto surgisse, então preparava uma crónica sobre as férias. Só que nesta altura, o teclado já não recebe impulsos vindos cérebro.
Tentei uma alusão a vários tipos de férias. Pensava mencionar os hábitos apenas adquiridos nesta época, como a sesta. Lembrei-me do desespero das crianças, dos meus filhos, um mês à espera das férias do pai e os contratempos fabris a intrometerem-se no desejado tempo livre familiar. Contava expor um pouco a minha privacidade, referindo o volume de livros que projecto ler, divulgando títulos e pesando o número de páginas que terei de virar para terminar a empreitada…
Constato que tudo isso seria penoso para mim e como tal aborrecido, para quem me lê.
Para não transformar este artigo numa espécie de não crónica, ensaio uma recordação de férias.
Uma referência aos festivais de música, que na década passada, significavam o fim do meu período de trabalho e a romagem para as imediações destes palcos, durante três dias. Com o concerto de hoje em Paredes de Coura, a irreverência dos Sex Pistols seria importante para reconquistar a energia dispendida ao longo do último ano. Mesmo trinta anos após o sucesso desta banda, quase vinte e cinco a ouvir as palavras de ordem gritadas por J. Rotten, ainda não será desta que terei oportunidade de assistir à encenação desta banda inglesa. O relativo interesse do concerto de hoje será verificar a capacidade de resistência ao tempo deste grupo. Um dos muitos que foi vítima de um fenómeno curioso da indústria discográfica, a rápida ascensão a ícones, por morte prematura, de jovens, membros de bandas emblemáticas dos novos géneros musicais
Curiosamente, foi em férias que passei a prestar atenção a estes factos da música. Antes de se tornar viajante do mundo e figura mediática, Gonçalo Cadilhe cruzou-se comigo alguns anos, em tratamentos nas termas. A sua capacidade oratória destacava-se e era contagiante o seu apreço pelo fenómeno Jim Morrison. As peculiaridades deste figueirense, ainda me fizeram subir a um skate, só que a iniciação não podia ter corrido pior: uma forte cabeçada no alcatrão, com direito a um rasgo da pele, foi o resultado dessa tarde de Setembro.
Definitivamente tenho que encerrar estas linhas. O desgaste acumulado ao longo do último ano, obrigam-me a pedir descanso.
Nada mais me resta senão, enviar as palavras para banhos.
Aos leitores do Jornal Labor desejo umas óptimas férias, esperando regressar um bocadinho mais inspirado.
(a publicar dia 31/07/08)