O dia-a-dia da actividade política é extremamente datado - quando não comentado atempadamente, perde sentido e oportunidade.
Explorar assuntos em opiniões escritas pouco fundamentadas ou cingi-las a momentos impróprios é tornar inválidos os argumentos. Caso a dinâmica de factos, afirmações ou orientações políticas contrariem as opiniões expressas, reduzem todos os pontos de vista a mal entendidos.
Durante o último mês, após o congresso do PSD, sucederam-se uma série de afirmações dos novos responsáveis pelo partido, que seriam o mote certo para vários artigos da minha opinião.
Sensatamente, não os escrevi.
Afirmações posteriores, esclarecendo melhor alguns desses argumentos, mostraram-me que foi preferível ficar calado.
O primeiro facto foi a célebre frase: “não há dinheiro para nada”. Dentro do contexto das grandes obras públicas, obviamente. Imaginei o que seria uma análise desse género aos potenciais investimentos municipais e aos programas de várias autarquias… arrepiei-me. Passado uns dias, vários autarcas eleitos pelo PSD pediram esclarecimentos e na passada semana, o novo líder parlamentar sossegou toda a gente.
O segundo caso, não chegou a ser. O líder da distrital do Porto do PSD declarou que o autarca da Cidade Invicta seria novamente candidato. Achei estranho. Por isso, ao verificar que o tempo para tais anúncios não era o correcto, fiquei esclarecido e percebi a malandrice. É ainda cedo para a tomada de decisões. Daqui a meio ano, tudo está decidido. Lá e cá, sem querer colocar um prazo bem definido.
Por fim, o assunto mais sério. Ao colocar como prioridade a “justiça social”, a estratégia de captação de voto do PSD nas próximas legislativas, segundo vários especialistas, passa por aproveitar o descontentamento dos eleitores de esquerda do PS - à semelhança do que este partido tem feito ao PSD, desde 2005. Retirar votos ao partido do poder, que poderiam cair na CDU ou BE, parece estar a resultar. Estas duas forças, estavam cotadas em várias sondagens, com 20% dos votos em conjunto, antes do congresso do PSD. Depois da eleição da nova líder, a última sondagem apresentada (RTP / Antena 1 – dia 15 de Julho de 2008) já invertia a tendência: 17% para as forças de esquerda, subindo o PSD dos 28 para os 32%.
Neste sentido, seguir ao longo do próximo ano as inclinações das várias sondagens e a elaboração das propostas eleitorais do PSD, será bastante elucidativo, para se compreender melhor a política nacional e as vontades dos eleitores.
Um factor bastante importante será coerência de propostas, tanto no programa eleitoral para o Governo, como para as autarquias, por parte do PSD. Pelo facto de ambas as eleições serem próximas, deverá ser promovida a coesão nas promessas a apresentar.
Assistiremos em 2009, independentemente do candidato a apresentar pelo PSD à Câmara Municipal de S. João de Madeira, a um programa com uma componente política forte, versando essencialmente a social-democracia.
Com este PSD mais centralizador, com tiques de esquerda, o que resta para o PS local? Pedro Nuno Santos prepara-se para deixar a JS, em congresso marcado para este próximo fim-de-semana, no Porto. Habituado a programas políticos à escala nacional, com as sempre presentes “causas fracturantes”, o PS local terá um árduo trabalho até às eleições autárquicas do próximo ano.
Sem acreditar no espectro do sebastianismo nacional, as tarefas preliminares do novo líder da estrutura do PS local passam muito por organização interna, de forma a não chegar ao próximo ano com uma candidatura insípida, a ausência de um programa eleitoral e resumindo o acto eleitoral do próximo ano a apresentar as críticas conhecidas à gestão actual da cidade.
Previsível será a sua vontade em apresentar propostas de esquerda modernista, no âmbito da qualificação da população local, nas facilidades no acesso às novas tecnologias e claro, no estímulo a tornar a autarquia um parceiro do “Estado Social”.
Independentemente dos nomes dos candidatos às eleições autárquicas de 2009, estas serão as primeiras, nos últimos vinte e cinco anos, a serem disputadas naquilo que politicamente se designa “centro”.
É, desde então, a primeira vez nas eleições locais, em que os dois principais partidos da política nacional são os mais sérios candidatos a uma vitória para a autarquia.
Esperemos que tal facto sirva para elevar o debate político.
(a publicar no dia 17/07/08)
Sem comentários:
Enviar um comentário