quarta-feira, janeiro 14, 2009

Magalhães

O computador Magalhães foi entregue pela escola ao meu filho.

Finalmente!

Quatro meses decorridos desde o inicio das aulas, meio ano após o seu anúncio pelo Governo chegaram os desejados portáteis, para os alunos do ensino básico.

Uma medida representativa da face mais simpática do executivo liderado por José Sócrates e do seu “choque tecnológico”.

A ansiedade criada nos mais pequenos e por sua vez nos seus pais - obrigados a explicar vezes sem conta a demora na entrega dos computadores, quando ao mesmo tempo apareciam anúncios da sua venda ao público - deveria ter sido evitada.

À oportunidade para propaganda política interna do Governo, ou mesmo para serem exibidos em cimeiras externas, neste caso no limiar do mau gosto, apresentaram-se contra-argumentos políticos, alguns a rasar a mediocridade.

No fundo é necessário não esquecer o alcance desta iniciativa: a democratização da informática, distribuindo-se um portátil com capacidade suficiente para a aprendizagem dos alunos do ensino básico.

Pelo caminho, os mais pequenos assistiram à sátira do Magalhães, constante nos melhores momentos da série humorística “Zé Carlos”. Não é fácil, dada a credulidade em plena idade da inocência, assistir às divertidas e supostas aplicações do portátil, como as apresentadas pelo Gato Fedorento, para arma de defesa pessoal, ou torradeira, perdão “tosteira”, ou até máquina de engomar gravatas, entre outras.

Se algumas crianças já receberam o computador, outras ainda não, tendo em conta que apenas alguns encarregados de educação receberam os dados para efectuar o respectivo pagamento, ainda em Dezembro. Na sala de aula do meu filho, no momento que escrevo estas linhas, apenas três alunos tinham recebido o Magalhães. Esta entrega em pequenos lotes, não faz sentido nenhum.

Toda esta espera é prejudicial para o bom funcionamento do projecto, a menos que o Ministério da Educação e as suas Direcções Regionais sejam adeptas da máxima educativa de que todas as contrariedades causadas aos filhos “ajudam a formar o carácter”, utilizada pelo pai de Calvin, o personagem das tiras de banda de desenhada, criadas por Bill Watterson.

Atendendo ao calendário avançado do presente ano lectivo, pouca ou nenhuma interferência o Magalhães irá causar na aprendizagem do meu filho. Neste sentido, a melhor ajuda que se pretende, para o futuro, é na redução indiscutível do peso a transportar para a escola pelos nossos filhos. Através de todos os meios didácticos e informáticos possíveis, espera-se essa melhoria sustentável, sem esquecer que é importante salvaguardar as qualificações apropriadas às crianças neste grau de ensino. No passado, o facto de existirem calculadoras, não inibiu que se promovesse o cálculo mental, nem a aprendizagem da tabuada. Do mesmo modo, a existência de processadores de texto no Magalhães, destacando esta das outras competências inerentes, não impede que se continue a fomentar a caligrafia clara e a evitar os sempre incómodos erros ortográficos.

É engraçado ver um miúdo de sete anos a ligar o seu pc, a digitar a sua palavra passe e aceder a uma série de menus e programas, tal qual um adulto. Obviamente, espero mais do Magalhães! Aguardo pelo ensino com as novas metodologias, assim como, pelo tipo de interesse a despertar nos alunos e claro, espero pelos resultados finais disto tudo, sabendo que esta alteração produzirá efeito efectivo só daqui a doze ou quinze anos.

Até lá, espero que as actuais gerações de jovens com idade superior ao meu filho, aprendam a viver com as novas tecnologias, adaptando-se e utilizando melhor os meios informáticos que têm ao ser dispor, para quando ingressarem no mundo do trabalho, estarem aptos a serem competitivos.

Enquanto escrevo este texto, o meu filho explora o seu Magalhães ligando-lhe o mp4 para ouvir música.

(a publicar dia 15/01/09)

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