terça-feira, janeiro 27, 2009

Infusões

            No mundo moderno beber chá passou a ser um conceito urbano, sem qualquer vinculação a um género, ou idade. Os efeitos terapêuticos desta bebida estão perfeitamente difundidos e assimilados, no entanto, o consumo de chá extravasou a ideia preventiva e curativa, generalizando-se. Hoje em dia, é usual em vários estabelecimentos existir uma gama alargada de sabores e tipos de chás.

            "Beber chá" era uma expressão utilizada para justificar a boa educação. Passar tardes em família, ouvindo as conversas, sabendo ter um comportamento adequado ao momento, falar em tom e com assunto apropriado, era simplesmente resumido pela frase "bebeu muito chá em pequeno".

            Depois dessa fase, o chá só era bebido em dias especiais. Em momentos de fraqueza do corpo, como doenças, má disposição e ressacas (ui!) ou nos tais dias de família, no aconchego do lar.

            No exterior, em espaços abertos ao público, o direito de ocupação de uma mesa e respectivas cadeiras era (e ainda é) muitas vezes obtido pelo pedido de café. O lado social de beber ou tomar café é extremamente saudável. Esse costume permite encontrarmo-nos com inúmeros conhecidos em sítios variados, ou em encontros inesperados, dá-nos a hipótese de nos sentarmos relaxados a conversar.

            Como gosto imenso de beber café, durante uns bons anos bebia cinco ou seis cafés por dia. Três até ao pós almoço e mais outros três até à noite. Dormia perfeitamente. Um dia, ofereci um café ao comercial de uma empresa e este ao recusar, explicou-me as complicações que havido tido com o palpitar do seu nervo óptico. Abreviando a história, o seu médico chegou à conclusão que o problema era devido a ingestão de demasiados cafés. Tal como eu, o fulano bebia seis por dia. Tal como ele, o meu olho esquerdo tinha tendência para latejar. Sem precisar de qualquer consulta médica, resolvi reduzir o consumo de café, para metade por dia. Com os três cafés, nalguns dias apenas dois, o meu olho nunca mais se agitou. Tudo corria bem, se não fosse o facto de nesse período da minha vida, os meus filhos serem bebés e chorarem constantemente de noite, acordando-me e obrigando-me a dormir poucas horas. Até conseguir equilibrar estes dois factores passei um mau bocado…

            Recentemente foi divulgado um estudo sobre o consumo de café. Segundo um investigador britânico o excesso de café pode provocar alucinações. Passo a transcrever parte da notícia difundida, no portal Sapo: "Beber grandes quantidades de café pode provocar uma maior tendência para sofrer de alucinações, segundo um estudo efectuado por psicólogos da Universidade de Durham, na Grã-Bretanha, e divulgado pela edição on-line da BBC Saúde. Segundo a investigação, pessoas que consomem mais de sete chávenas de café instantâneo por dia têm três vezes mais probabilidade de ouvir vozes, ver coisas que não existem, do que as que bebem menos que o equivalente a uma chávena (…)".

            A exposição da minha vida, dos meus hábitos, feita nos parágrafos anteriores permite-me assegurar aos leitores que não escrevo sob efeito de excesso de café, sobretudo nos assuntos relacionados com o quotidiano da cidade. Neste particular, escrevo sobre o que observo, a minha perspectiva da realidade, portanto. O mundo virtual ou as alucinações são da responsabilidade de outros, mediante o número de cafés que bebem, ou das ilusões que defendem...
 
(a publicar dia 29/01/09)

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