quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Retratos

            No facebook quando sou convidado a visitar o perfil de um conhecido, deparo-me com uma série de fotografias de amigos comuns. A curiosidade impulsiona-me a seguir uma dessas ligações, encontrando outras caras conhecidas, ou as mesmas que estavam no perfil anterior. Sigo, escolhendo um outro amigo, até que chego a um ponto em que não observo ninguém conhecido e volto atrás. Repito o procedimento, optando por outro caminho, revejo caras esquecidas, encontro amigos perdidos e claro, surpreendido vou descobrindo fotografias de próximos e até de familiares.

            A minha participação nesta rede social limita-se a isto. Nem concebo mais. Por falta de tempo e de interesse, é a melhor explicação, embora reconhecendo existirem outros motivos.

            A lógica da ligação, das fotografias de amigos associadas a uma pessoa, é sedutora e permite reforçar uma ideia concebida em tempos, de recuperação do espólio dos fotógrafos com casa comercial instalada nas ruas da cidade.

            Milhares de fotografias tipo passe, entre outras, estão depositadas nesses estabelecimentos.

            As etapas da vida retratadas numa sucessão de anos.

            Um património pessoal, com possibilidade de ser resgatado, mediante a apresentação do número de série, ou com paciência para a procura entre milhares de registos. Séries da mesma pessoa, nalguns casos desde a infância até à idade adulta, permitem ver o seu crescimento. O uso temporário de óculos, o corte e a dimensão do cabelo - para ambos os géneros, o eventual bigode ou a barba – para os homens, são pormenores por vezes esquecidos que uma recolha deste género permite recordar.

            Uma colecção de fotografias, que agrupadas por épocas, permitem disponibilizar dados para um estudo social da cidade, ou mesmo etnográfico ou de carácter antropológico. 

            A herança colectiva legada por todos os que aqui viveram e por instantes (ou por obrigação), se deixaram retratar.           

            Pela definição, em Assembleia Geral do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios realizada em Copenhaga, no ano de 1972, “um museu é uma instituição de carácter permanente, administrado para interesse geral, com a finalidade de recolher, conservar, pesquisar e valorizar de diversas maneiras um conjunto de elementos de valor cultural e ambiental”.

            Ao cruzarmos esta definição com as ideias transcritas em parágrafos anteriores, não temos dificuldade em perceber que existe matéria patrimonial que deve ser recolhida, conservada, pesquisada e valorizada. Os retratos pessoais de mais de meio século são provavelmente um dos melhores valores culturais da cidade.

              Um conceito inovador no capítulo da conservação patrimonial, que alojada condignamente num espaço da cidade, permitiria o acesso colectivo a tão grande compilação, deixando orgulhosos os retratados.

            Aquela série de detalhes como a legalidade, a aquisição, a identificação dos fotografados, a forma de expor, o local certo para alojar a exposição, entre outros, deixo-os para os entendidos.

            Fica a ideia.

            Para memória futura.  

 

(a publicar dia 18/02/10) 

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