quarta-feira, maio 19, 2010

Desculpas

            A semana política nacional ficou marcada por um insólito pedido de desculpas aos portugueses. Depois da arrogância, do diálogo, da fuga, da incompetência, do “chico-espertismo” - os estilos característicos dos sucessivos chefes de governo dos últimos vinte e cinco anos – é aberta uma nova página na democracia portuguesa, a do estilo humilde, utilizado pelo líder do PSD.

            A novidade pressupõe o debutar de uma geração de políticos, proveniente das juventudes partidárias, contrastando com uma estirpe de idade mais avançada, marcada por um carácter mais orgulhoso, que raramente assume os seus erros.

            As reacções ao perdão surgiram em tom jocoso.

            A justificativa invocação do sentido de Estado, aparece cada vez mais como expiatória e tem pouco de atenuante.

            Os contribuintes olham para o aumento de impostos como um regresso ao passado. A 2005 e três anos seguintes, no caso do IVA. Ao período de 2003, quando não havia vida além do défice, no caso do IRS e IRC – com a excepção da alteração da taxa para os rendimentos mais elevados.

            O esforço para voltar a apertar o cinto é aceite, desta vez, com condições. O contribuinte espera que a despesa do Estado diminua.

            O valor do défice não pode ser controlado durante uma legislatura e no ano das eleições legislativas disparar para o dobro, o triplo, ou o quádruplo do ano anterior.

            Os argumentos para adiamento dos grandes investimentos do Estado são evidentes para todos os portugueses, excepto para os envolvidos na construção. Veja-se os episódios do projectado TVG – há um ano três linhas projectadas Lisboa - Madrid, Lisboa – Porto, Porto – Vigo; há um mês, apenas sobrou uma entre capitais; esta semana, as vantagens apresentadas para manter as duas capitais ligadas por alta velocidade (estações no centro das capitais, tempo de viagem mais reduzido comparando com o somatório do tempo de deslocação para e do aeroporto, tempo para check-in, tempo de viagem e tempos de espera, resumidas pelo ministro à possibilidade de os espanhóis fazerem surf perto de Lisboa) foram esquecidas - o TGV reduziu-se à ligação entre um Poceirão e Madrid. Por este andar, daqui a uns dias é apresentada uma nova fase do projecto - tipo a construção de um só um carril e argumentos favoráveis para esta amputação serão certamente expostas com igual veemência que os actuais.

            O plano de austeridade tem que se efectivar na redução da verba por cada Ministério. O hábito de executar todas as rubricas orçamentadas, apenas para garantir verbas para o ano seguinte, deveria ser melhor controlado. Reduzir um por cento num ano, não me parece uma utopia. Mas nestas matérias existe sempre uma facilidade tremenda em apresentar soluções e por outro lado, uma resistência enorme em não reduzir o orçamento do Estado, em matéria de despesas de funcionamento do mesmo.

            O problema ficará sempre por resolver e a solução será aumentar impostos. A menos que no futuro, ninguém queira pedir desculpas aos portugueses.

 

 

(a publicar dia 20/05/10)       

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