Na semana passada, nas comemorações do dia da cidade, foram feitas revelações acerca da Casa da Criatividade (acabou-se a indefinição de batismo), permitindo conhecer-se as pretensões da autarquia relativas a plano de atividades e respetivo orçamento deste espaço para os anos imediatos.
Segundo o jornal labor, está previsto realizar-se 40 espetáculos por ano, o que feitas as contas, equivale a um por semana. Existe igualmente a pretensão de “produzir duas peças de raiz”.
Números ambiciosos.
Por outro lado, foram divulgados os números da verba disponibilizada pela autarquia para a dita Casa. Cem mil euros. Um orçamento anual que à primeira leitura pode parecer elevado. Contudo, não é disponibilizada mais informação, não se percebendo se a verba inclui vencimentos, ou se apenas se destina à atividade de programação.
Permanecem dúvidas sobre a sustentabilidade da Casa.
Se optarmos por considerar o orçamento mensal, teremos pouco mais de oito mil euros por mês. Se fizermos o exercício por números de espetáculos a realizar, teremos dois mil e quinhentos euros por evento e deixo de fora as produções caseiras.
Por mês ou por espetáculo, os números ficam pequenos.
Se começarmos a listar as despesas inerentes à programação, como divulgação e “cachet” de artistas; juntando-se as despesas de exploração, como eletricidade e água; acrescente-se a limpeza e manutenção do edifício - o caso complica-se.
Mesmo considerando a vontade da autarquia em esconder os custos com os fluidos, com a conservação e em suportar os vencimentos do pessoal inerente ao funcionamento da Casa da Criatividade, enquadrando todas as rubricas no Orçamento Municipal, verificamos que é necessário um grande encaixe de bilheteira, para o equilíbrio financeiro deste equipamento cultural.
A qualidade dos espetáculos condicionará a adesão de público. O preço dos bilhetes será outra das variantes a ter em conta. Sabendo-se que um bom espetáculo é oneroso e que o público local não adere em grande número a bilhetes caros, não faltam inquietações ao responsável pela programação.
Por todo o país, observamos autarquias, que anteriormente reabilitaram espaços culturais, a proceder à desorçamentação dos mesmos. Pela austeridade ou pela constatação de uma realidade não calculada? Uma serve de pretexto a outra. No entanto, existem casos em que a identidade dos eventos é preservada, mesmo reduzindo o orçamento. É o exemplo do Festival internacional de teatro de rua - Imaginarius, organizado em Santa Maria da Feira. A edição deste ano conseguiu promover vários projetos comunitários, envolver artistas locais e estrear em termos nacionais algumas peças, contando com uma boa adesão de público, em especial, na noite de sábado.
Apesar de ter sido mais “baratinho”, o orçamento do Festival – 250.000 euros - é superior ao previsto para um ano de programação da Casa da Criatividade. A comparação finaliza o texto, servindo apenas para o leitor se aperceber da asfixia a que estará sujeita a programação cultural desta cidade.
(a publicar no dia 31/05/12)