quarta-feira, maio 23, 2012

Ano 1 AC (antes da criatividade)

         No início da década de 80, a cultura institucionalizou-se em S. João da Madeira. Primeiro com a fundação da Academia de Música e alguns anos mais tarde, através da criação do Centro de Arte. Instituições vocacionadas para a formação, de alunos em idade escolar e de outros curiosos, procurando exibir ciclicamente o trabalho desenvolvido durante o ano letivo, assim como, procurando espreitar outras tendências, organizando-se concertos ou exposições de talentos exteriores à cidade.

Por este tempo, a Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo abria as suas portas à comunidade, promovendo, entre outras atividades, concertos na sua sala de entrada. Cheia em várias sessões, com o público mais jovem a sentar-se pela escadaria acima (eu e mais uns tantos). Lembro-me perfeitamente de assistir a atuações de António Pinho Vargas, Pedro Burmester, Nelly Santos Leite, Gustavo Brandão e se a memória não me falha, arrisco um concerto de Florinda Santos.

A promoção de concertos estava limitada à lotação da Biblioteca, às poucas condições do Auditório Municipal e às insuficiências acústicas dos espaços desportivos, incluindo-se o estádio de futebol, embora, este espaço fosse excessivo para os espetáculos organizados.

A década atrás referida terminou com outra intromissão da autarquia nesta área. A promoção de concertos na Praça Luís Ribeiro, de entrada livre, passaram a fazer parte da época estival de S. João da Madeira. De início, com escolhas de bom gosto e após algum tempo, sem qualquer critério de qualidade, apenas um grande número de atuações, nas noites de sábado e domingo, em palco montado para o efeito.

Na década seguinte esta fórmula foi explorada até à exaustão. Todas as infraestruturas inauguradas para o grande público eram testadas com concertos. Sempre gratuitos, associados às comemorações de datas de significado concelhio. No final desse tempo, as obras da Praça retiraram a música ao centro. O anfiteatro projetado, jamais funcionou. O Jardim para a ponte antevia-se como alternativa para os concertos de borla e o tempo comprovou-o.

Três infraestruturas eram projetadas para os primeiros anos do novo milénio. A transformação do antigo edifício da Câmara Municipal em Paços da Cultura, a criação do Museu de Chapelaria, aproveitando-se as antigas instalações da Empresa Nacional de Chapelaria e por fim, a requalificação do cinema Imperador, dotando a cidade de uma sala de espetáculos.

Apenas os dois primeiros foram inaugurados. A melhoria nas infraestruturas permitiu alargar o leque de eventos promovidos. Associações, escolas e outras instituições dinamizam o novo auditório municipal e tentam desesperadamente captar público para assistir aos seus eventos. O mesmo acontecendo no Museu, com as iniciativas paralelas organizadas por aquele espaço.

O modelo projetado para a nova Sala de Espetáculos pressupõe a continuidade da promoção de eventos associado à Câmara Municipal.

A formação instituída há trinta anos na área cultural persiste. A Academia de Música voltará brevemente ao seu espaço natural, já renovado e ampliado para os próximos anos e o Centro de Arte, apesar de ter sido espoliado, prepara-se para os tempos modernos de parceria e casa nova na Oliva Creative Factory.

A próxima vertente a desenvolver-se na área cultural da cidade é precisamente a da criação. Espera-se que apesar de idealizar, restaurar o edifício e promover a nova incubadora de empresas criativas, a Câmara Municipal de S. João da Madeira saiba ser parceira e não tente condicionar os agentes criativos.

É preferível investir na fidelização de público, procurando que aos eventos promovidos em salas municipais ocorra um número significativo de assistentes.

 

(a publicar no dia 24/05/12)