quarta-feira, julho 18, 2012

Do Casal Ventoso ao Intendente

         Em 1999, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu arrasar o bairro Casal Ventoso. Para trás ficavam quinze anos de vidas degradantes, de toxicodependência ruinosa e de uma zona onde o comércio ilícito de droga era efetuado sem qualquer pudor. O problema não foi erradicado, antes pelo contrário, a venda ilegal proliferou por outras zonas da cidade e a toxicodependência continua a ser um problema na capital.
         O bairro ganhou uma nova cara. Onde se viam barracas vêem-se agora árvores. Onde havia lixo, hoje há relva. A reabilitação urbana foi conseguida. Algumas pessoas que viram as suas casas demolidas foram reintegradas em outros bairros da cidade e hoje, mais de dez anos depois, o Casal Ventoso não é referenciado pelos motivos de outrora.
         O radicalismo da Câmara Municipal foi contrário às políticas sociais de apoio a toxicodependentes. Nessa época, ainda em fase experimental e com grandes sonhos quanto a resultados futuros.
         Outro bairro mal-afamado de Lisboa foi também reabilitado. O Intendente, conhecido pelos mais vários motivos, nomeadamente prostituição, sofreu obras. Terminada a empreitada, a Câmara Municipal de Lisboa arregaçou as mangas e está a promover eventos, incluindo espetáculos musicais, durante este mês de Julho, gratuitos para a população, tendo como objetivo mostrar a cara lavada do bairro.
         Dois exemplos de reabilitação urbana, de cariz municipal, tocando na degradação física da cidade e sobretudo, recuperando a dignidade humana dos seus moradores.
         A fórmula a ser experimentada no presente mês no Intendente - com concertos dos Xutos e Pontapés, de Boss Ac e está programado para amanhã, 20, a exibição da Ópera: "La Bohème", de Pucinni, - importa destacar.
Os modelos de reabilitação, em título na presente crónica, indicam-nos o tipo de decisão a tomar para a Praça Luís Ribeiro. Por um lado, temos o radicalismo utilizado no Casal Ventoso – a utilização do nome do bairro lisboeta, atendendo à longa duração do comércio ilícito na Praça vem a propósito – com a hipótese de destruição do edifício Parque América, com todos os custos inerentes a realojamento e indeminizações a proprietários, ficando no final um amplo e ajardinado largo. Por outro, temos o renascer do Intendente, com reabilitação urbana mais barata e a consequente sedução à população da cidade.  
Esta última fórmula, por ser em tudo semelhante à que projetei para a Praça Luís Ribeiro, em texto publicado neste jornal no presente ano, intitulado “Ideias Úteis” é a minha preferida. É mais barata e de rápida implementação.
É de salutar a admissão de erros. É natural e correto, a sua retificação. Assumir o erro da intervenção municipal de 2006 na zona pedonal, que já por si procurava emendar o desastre de 1999 e projetar lancis de cota diferenciada, é não entender o que aconteceu à Praça.
Não são carros que são necessários no centro, são pessoas. É necessário atrair novos moradores, novos utilizadores, recuperar comércio, serviços e captar novos clientes.
Revitalizar a Praça passa por animá-la.

(a publicar no dia 19/07/12)


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