quinta-feira, dezembro 27, 2012

O fim em 2012

        

         O desporto mereceu em 2012 o maior dos destaques. No balanço do ano, assinalo a importante presença de Ana Rodrigues nos Jogos Olímpicos de Londres, como o acontecimento de maior relevo de 2012.

            O percurso desportivo de Ana Rodrigues é sobejamente conhecido. Captada na escola Municipal de Natação, ensinada e fidelizada à modalidade na Associação Estamos Juntos, cedo viu o seu talento ser reconhecido, ao vencer campeonatos regionais e nacionais. Atempadamente integrou o desporto de alto-rendimento, com chamadas à seleção nacional e passou a ser esperança para os Jogos de Londres. Pelo meio, participou e conquistou uma medalha de bronze nos 50 metros bruços, nas primeiras Olimpíadas da Juventude, disputadas em Singapura.

            Em 2012, foi exigido a Ana a obtenção dos tempos mínimos para estar presente em Londres. Em Março, no nosso Nacional Absoluto, esse tempo foi conseguido, embora essa marca só fosse homologada, como tempo de admissão às olimpíadas, a quinze dias do início do torneio olímpico.

            A 29 de Julho, pouco depois das 10 horas da manhã, Ana Rodrigues mergulhava para a piscina de Londres cumprindo o seu sonho de atleta. Para trás ficavam horas de sacrifício, de treino, de apuramento de forma física, de competições essencialmente contra o relógio, enfim de dedicação a uma modalidade desportiva extremamente exigente.

            Com o feito de Ana, o desporto em S. João Madeira talhava uma nova página na história da cidade. A página dourada do desporto, como eu próprio lhe chamei em Julho.

Anos de trabalho, anos de paciência e de esperança.

O reconhecimento da atleta, do seu treinador e do próprio clube foram atempadamente testemunhados. A natação, ao longo dos últimos cinco anos, teve um destaque na imprensa local, não muito comum no panorama nacional da comunicação social. A própria autarquia cedo apoiou Ana Rodrigues na sua cruzada, concedendo-lhe subsídios individuais e passando a transferir verbas de montante superior para a Associação Estamos Juntos.

Ana Rodrigues foi um projeto do desporto local. Essencialmente, do seu treinador e por inerência do seu clube. Um projeto integral de desporto de alto rendimento, da escola aos jogos olímpicos. Com todas as fases a serem executadas na cidade. Excetuando os treinos de outono, inverno e primavera em piscina de 50 metros (e as chamadas à seleção nacional). Evidenciando-se desta forma, ser possível com os meios existentes em S. João da Madeira, desenvolver projetos sérios no desporto, salvaguardando a exceção atrás mencionada.

Em setembro, no arranque da época 2012/2013, Ana mudou de clube. Parte para o novo ciclo olímpico, a terminar em 2016 no Rio de Janeiro, com enormes perspetivas de sucesso. A experiência adquirida até Londres, permitir-lhe-á enquadrar o próximo desafio de forma segura. É evidente que o seu novo clube, FC Porto - campeão nacional da modalidade, lhe oferece outras condições de treino e competitivas e obviamente isso, em desporto de alto rendimento, é fundamental.

Com a saída de Ana Rodrigues, o desporto em S. João da Madeira ficou amputado. Perdeu definitivamente a sua vertente de alto-rendimento. Recorde-se que, no ano passado, já havia encerrado o centro de alto rendimento de basquetebol, que trouxe qualidade e resultados à modalidade praticada na cidade pela ADS.

Em 2012 foi o fim.

Não nos devemos esquecer, apesar da saída de Ana Rodrigues, que o técnico, Luís Ferreira continua nos quadros da AEJ - tal como foi mencionado por Fernando Moreira na semana passada no jornal - e a experiência por si adquirida nestes últimos anos, poderá ser importante para se fazer a ligação entre a escola municipal de natação e os restantes degraus de competição nesta modalidade.

A natação poderá servir como o bom exemplo, a seguir por outras modalidades desportivas. Terá que se ponderar para o futuro, que tipo de política desportiva se pretende para os clubes de S. João da Madeira? Como enquadrar o desporto de alto-rendimento? E claro desenvolver políticas de captação, identificação de talentos, além das necessárias para o ensino e fidelização dos jovens como praticantes de desporto federado, de preferência olímpico.

Esperemos que o novo ano, traga mudanças no paradigma desportivo da cidade e a presença futura de atletas sanjoanenses em Jogos Olímpicos seja reconhecida pelo seu mérito e não apenas, como obra do acaso, como infelizmente alguns verbalizaram.            

 

(a publicar dia 28/12/12)

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Advento

         Para mim o advento começa no primeiro de Dezembro.
Nesse dia iniciamos a preparação do Natal. Enfeitando a casa com os motivos apropriados. Montando a árvore com bonequinhos, com luzes e uma apropriada estrela no seu cimo. Instalando o presépio, construindo uma gruta com pedras e colocando o musgo a aconchegar as figuras representativas. O cartão de boas festas familiar é feito nesse dia e aproveitando as novas tecnologias, envia-se via internet aos amigos. Para os mais novos, é entregue um calendário do advento. Por cada dia, uma janela é aberta, até ao dia 25.
Na verdade, o calendário de advento corresponde às quatro semanas antes do Natal. O religioso.
O calendário impresso, mais comum, resume-se aos vinte cinco dias de Dezembro. Com 24 janelas de tamanho idêntico e uma 25ª de dimensão diferente, correspondente ao dia da chegada, o significado de advento, isso mesmo, chegada.
Aproximamos desse dia.
Ainda é tempo de preparação.
Compra-se os presentes. Cria-se expectativa nos mais novos.
Aguarda-se pela chegada de familiares. Preparam-se ementas. Tudo para viver com alegria a grande noite de família.
O advento pode ser uma ideia de relançamento do espirito comunitário.
Ao visualizar um anúncio televisivo do operador de comunicações de prefixo 96, encantou-me a ideia expressa do calendário de advento. As janelas de um edifício da cidade do Porto decoradas com os números. As exibições artísticas, associadas a cada uma das janelas, pareceu-me uma ideia brilhante. Entretanto, outro operador, o do prefixo 93, recuperava os duetos improváveis, em torno de um clássico da música pop. Na aldeia minhota, à volta da fogueira, na eira, ou em casa das velhotas, surgiram figuras antagónicas da música nacional a cantar uma velha canção dos The Beatles. O resultado é cativante.
Com base nestes dois anúncios, suportando-me na conceção de animação de Natal, existente na cidade até há três anos, penso que seria de a recuperar, trazendo de novo à Praça os agentes culturais da cidade, assim como público, isto é, eventuais clientes.
A fórmula é simples. É em seguida apresentada para memória futura.
Na zona central da cidade, escolhe-se alguns edifícios. Para decorar cada janela do advento convida-se escolas, associações de pais e outras, tal como se faz atualmente com as rotundas. Em cada dia é aberta uma janela. Nesse mesmo dia, um grupo musical da cidade é convidado para uma atuação de vinte minutos, tendo como temas obrigatórios cinco músicas de Natal. Algumas bandas poderão agrupar-se com outras de género musical diferente e dar outra envolvência ao momento. O final deveria ser a 25, promovendo um concerto alusivo, mais alargado em tempo, sempre com grupos locais.
O problema é que nesta época, a meteorologia não ajuda muito. A chuva acompanha o advento, encerrando ou adiando algumas das animações que se promovem nesta quadra festiva.
Esperando que o tempo chuvoso não se instale por muito tempo, desejo a todos os leitores um ótimo Natal.
 
(a publicar no dia 20/12/12)
 
 

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Ideologias

            Os executivos municipais são difíceis de catalogar em matéria ideológica. As suas práticas, apesar do enquadramento dos partidos políticos, deixam confusa qualquer pessoa.
            A privatização parcial do fornecimento de água à população, tem sido um tique comum de liberalismo, a que a Câmara Municipal de S. João da Madeira também aderiu. Por outro lado, a interferência na economia, planeando as áreas de negócios e condicionando investimentos, como fica evidente na criação de incubadoras de empresas, transfere o idealismo para o campo do centro-esquerda, muito perto do socialismo.
            Neste campo, o último sinal da colagem do executivo municipal à esquerda, surgiu com a defesa da nacionalização do hospital de S. João da Madeira.   
            Este espectro político alargado, torna a vida difícil às oposições. Onde se devem colocar?
À direita, aceita-se a redução do peso do Estado e aplaude-se a criação de emprego, com incentivos ao empreendedorismo. Tudo o resto, deveria servir como trunfo para a campanha política.
            Isso não preocupou o executivo liderado pelo PSD. Antes pelo contrário. Com muita tática política, o executivo encostou-se à esquerda, neste último mandato, por forma a esvaziar a principal força da oposição, precisamente o PS.
            Esta força política terá que reagir, sabendo-se manter dentro do seu espectro político natural. Não entrando na 3ª via, com tiques liberais, como na década passada utilizou a nível nacional, com resultados duvidosos.
A defesa do interesse da população deve ser procurada pela sugestão, fundamentada, da redução das taxas municipais. A abolição da taxa de disponibilidade nos contadores da água, por exemplo, entre outros impostos municipais diretos ou indiretos. Aludindo, em simultâneo, às despesas municipais que devem ser reduzidas.
O discurso político terá que versar os seguintes aspetos: a inclusão social; a qualificação e a empregabilidade da população; a requalificação urbana – aproveitando-se as verbas do próximo quadro de apoio comunitário; a promoção do potencial cultural e desportivo do concelho.
O objetivo deverá centrar-se na fixação da juventude na cidade, que obviamente só poderá ser conseguida com melhoria na oferta de residência, emprego e dotando de cosmopolitismo o concelho.
  
(a publicar no dia 13/12/12)
 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Parideiras

            Subir à serra da Freita é uma atividade por mim exercida regularmente.
Desde a infância, em passeio familiar, alcançando a serra por sinuosas estradas de terra batida. Na adolescência durante os períodos de férias escolares, alcançando a montanha a pé, ou à boleia, com a mochila nas costas. Mais tarde, já adulto, na fase pós urbana, percorrendo os trilhos da serra em viaturas motorizadas. Até me cansar e voltar a calçar as botas de montanha para caminhar.
A pé na adolescência percorri o triângulo formado pelas aldeias de Merujal, Albergaria e Mizarela. Várias vezes fui a Castanheira, voltando por carreiros de cabras, com a mochila carregada com pedras parideiras (pequenas amostras). Só mais tarde, já de automóvel cheguei a Cabreiros. Depois visitei as aldeias, o Rio Paiva, o monte de S. Macário. Quando dali vi ao longe os contrafortes da Estrela, percebi que de carro já não tinha piada e voltei às caminhadas, em jeito de atividade semanal. Abrindo mato, traçando trilhos, unindo aldeias e lugares.
A periodicidade atual é apenas trimestral. Em família, incutindo o gosto pela natureza e pela descoberta nos meus filhos. Aos poucos vou-lhes mostrando a serra, as suas paisagens, as suas pedras, os cursos de água, enfim, os seus pontos de interesse turístico. Neste despertar do interesse pela montanha, não ficam de fora os rebanhos, a vida nas aldeias e os achados arqueológicos.
Eu próprio, por vezes, sou surpreendido com novas descobertas. Vestígios no passado mal interpretados, ou por desconhecimento teórico, ou por falta de atenção. Caso dos restos dos troços da via romana, construída para ligar o Porto a Viseu, atravessando a serra da Freita e por mim percorridos vezes sem conta, sem me aperceber da disposição daquelas lajes, da largura da via e do seu significado. Em Manhouce, aldeia do concelho de S. Pedro do Sul, fez-se a preservação de um desses troços. Subindo em direção à Freita, são visíveis mais dois fragmentos, um deles, saindo de Gestoso para Albergaria das Cabras. À entrada desta aldeia, atrás do cemitério, a via romana foi destruída. Tendo-se alargado a via e colocado novas pedras, uns modernos paralelepípedos. Um arranjo de quarenta metros, para desembocar num trilho de montanha, apenas acessível a pessoas, animais e veículos não motorizados.
Este exemplo serve para demonstrar a série de atrocidades à preservação histórica e por arrasto ambiental, a que foi sujeita a Serra da Freita ao longo dos últimos anos. Conscientes desse perigo, tentando evitar um desastre ainda maior, as autoridades responsáveis vedaram com rede o complexo das pedras parideiras, conseguindo-se a sua proteção ao longo dos últimos vinte e cinco anos.
O interesse por este fenómeno geológico, mais a existência de fósseis de trilobites em Canelas, entre outros geossítios, levou à criação do Geopark de Arouca.
A evolução turística, com alicerces científicos e pedagógicos, associando-se a oferta do património histórico e religioso, bem como, os produtos gastronómicos da região, mais a possibilidade de praticar desportos de natureza, permitem enquadrar o concelho de Arouca como um moderno promotor de turismo.
À diversificação da oferta, junte-se uma outra questão, os horários alargados e adequados a todo o tipo de turistas.
Neste último domingo de manhã, no terraço da Castanheira, espreitava a queda de água da Mizarela e as diferenças litológicas do maciço envolvente. Na escombreira, aos meus pés, encontravam-se vários exemplares de pedras parideiras, restos de rochas removidas para fazer as habitações da aldeia. Apontei os binóculos para o litoral, distingui as cidades desta região, pelo seus prédios e à distância, percebi o quanto falta para fazer um produto turístico por aqui.
 
(a publicar no dia 06/12/12)