quarta-feira, janeiro 30, 2013

Mobilidade

            E os pilaretes? – perguntava-me um amigo. Devias escrever sobre os pilaretes – aconselhava-me.
            Naquela semana, era o terceiro a encomendar-me textos sobre a cidade, os seus problemas e preocupações da população. Consequências da minha maior exposição.
Eu tinha anteriormente criticado a intervenção na praça, aleguei isso mesmo. No entanto, procurei averiguar o que o afligia. A questão prendia-se com a demora na colocação dos pilaretes. A observação da execução da obra permitia duvidar da capacidade técnica da empresa contratada. Os custos poderiam ser ultrapassados e o erário público seria prejudicado.
E os pilaretes?
Rebati os argumentos, defendendo o rigor no controlo de custos das empreitadas contratadas pela Câmara Municipal de S. João da Madeira. O argumento surpreendeu o meu amigo.
(se calhar não foi o único)
Prontamente, a conversa derivou para o excesso da carga fiscal, para o aumento previsto para o ano seguinte e claro, para os devaneios de políticos e voltamos ao descontrolo dos custos de execução.
Os pilaretes ficaram de fora.
Nessa semana, a notícia da cidade era o atraso no pagamento aos professores na Academia de Música. A melhor previsão era o dinheiro ficar disponível para Janeiro de 2013.
As obras nas ruas adjacentes da Praça, entretanto, ficaram concluídas.
O orçamento de Estado, o consequente aumento na carga fiscal começam agora a pesar no vencimento dos portugueses.
Nenhuma solução patrocinada pela Câmara Municipal, para pagamento aos professores da Academia, foi ventilada para o exterior. Nem empréstimo, nem aval de empréstimo sobre o valor em causa, até as verbas do POPH ficarem disponíveis, nada foi transmitido à população. Janeiro termina hoje. As dificuldades da Academia continuam a ser notícia. Outras instituições recebem tratamento diferente: Sanjotec foi notícia por questão semelhante; para alguns clubes criam-se soluções na tesouraria municipal para fazer face às suas necessidades, como pagamento por duodécimos, entre outras antecipações.  
E os pilaretes?
(em mandarim pilaretes escrevem-se: 缆桩)
Circula-se de automóvel pela rua do visconde e segue-se sem constrangimentos para a rua do dourado. Os pilaretes e os blocos de granito ladeiam o percurso, impedindo os pneus de calcar a relva, ou invadir a madeira. O estacionamento é feito em nichos. Alguns carros ficam na zona mais larga, no lado da Praça, encostados aos granitos. Na rua do dourado há pilaretes dos dois lados. No final, um buraco no piso faz estremecer o automóvel.
Sigo para casa para continuar a aventura literária de Joyce.
Os pilaretes são responsáveis pela mobilidade reduzida em espaço urbano, diz Graça Fonseca, no meio do temporal do Orçamento Participativo. A perspetiva de quem trabalha com a ACAPO como parceiro. Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal – ACAPO. O conceito de mobilidade pedonal muda a posição perante os pilaretes. O alerta da vereadora da Câmara Municipal de Lisboa obriga-me a percorrer a rua do visconde de novo. Tenho que verificar se a passagem da Praça para a rua do dourado está acessível. Ou será que os carros estacionados tapam a passagem aos peões? E às pessoas com mobilidade reduzida?
A qualidade de vida numa cidade mede-se pela mobilidade. Em espaço urbano, a eliminação de barreiras arquitetónicas deve ser acompanhada pela dotação de condições de circulação, isentas de constrangimento.    
Afinal, os pilaretes tinham assunto. Não o conceito estético, nem o financeiro, apenas o da mobilidade e o incómodo criado na zona pedonal.
Ainda me falta escrever sobre um desafio lançado por outro amigo.
 
(a publicar no dia 31/01/13)
 

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Plano B

            Uma sondagem telefónica, com a pergunta “que obra gostaria de ver construída em S. João da Madeira?”, foi a novidade da última semana.
            Um dos meus familiares recebeu um dos telefonemas e não fixou qual a empresa associada à sondagem. Sem esta informação, não é possível apurar quem pretende saber, por este meio, como agradar à população local, aos munícipes, ou se quisermos, aos eleitores.
            As extremas condições climatéricas dos últimos dias, as fortes chuvas, as constantes rajadas de vento, tendo como consequência estragos e mais estragos, associadas com faltas de electricidade, podem ter retirado o impacto da sondagem junto da população.
            Não sei que resultados serão conseguidos.
            Muito menos, caso me fizessem essa consulta, teria resposta imediata.
            Preocupa-me mais as obras previstas e sem financiamento garantido, do que hipotéticas obras.
            Se a pergunta fosse “que obra gostaria de não ver construída… ?”, eu tinha a resposta na ponta da língua. Ou utilizando uma linguagem mais positiva e assertiva, reformulando a questão ficaria “qual dos projectos previstos para S. João da Madeira abdicaria de construir?”. Abdicaria… desistia, para ser mais facilmente entendível a pergunta e não parecer uma das questões dos referendos do tempo de António Guterres.
              A minha resposta é simples: a piscina de 50 metros - caso se verifique não ficar garantido o financiamento no actual quadro de apoios comunitários, ressalvo.
            É certo que o concurso está feito, o projecto escolhido, o prémio ao autor atribuído. Só falta o mais difícil garantir o financiamento.
Para 2013 a Câmara Municipal prevê uma verba de 750.000 euros, do seu orçamento. Acontece que o projecto está estimado em cinco milhões. Caso se dilua esta construção pela disponibilidade financeira anual da edilidade local, são necessários praticamente sete anos para concluir a construção da piscina.
Ora, segundo o edil seria mais caro reparar e criar boas condições de utilização na piscina actual, do que construir uma nova. Sendo assim, daqui a sete anos, 2020, a piscina municipal de 25 metros estará obsoleta e impraticável, sem possibilidade de os munícipes poderem praticar natação na cidade.
É evidente que olhando para a verba disponível para este ano no OE municipal, pode-se pensar noutra solução mais low-cost.
O plano B.
Apropriado aos dias de hoje, de projectos mais realistas e de baixo custo de execução.
No seio da autarquia, o gabinete de arquitectura poderá perfeitamente conceber uma piscina de 25 metros, encaixando-a junto à actual. Os balneários seriam os mesmos do complexo desportivo. Esta nova construção seria simples, sem estacionamento em piso inferior e obrigatoriamente sem bancadas de apoio, apenas 2 degraus para as pessoas que pretendem assistir às aulas. Poderia pensar-se num tanque de aprendizagem complementar e tudo isto enquadrado perfeitamente na estrutura actual, sem grandes variações de arquitectura.
Esta quase triplicação dos planos de água permitiria responder às necessidades dos habitantes locais e das freguesias vizinhas. Um complexo idêntico ao que existe em cidades como Viseu, segundo relatos transmitido, porque infelizmente não conheço tais piscinas.
Apenas faltaria a resposta à equipa de competição da Associação Estamos Juntos, que necessita, para ser competitiva, de treinar frequentemente em piscina de 50 metros. Para isso, seria importante pensar em cobrir sazonalmente a piscina exterior. Utilizando-se coberturas amovíveis, ou mangas apropriadas, para garantir a actividade da piscina durante 12 meses e não apenas em três, caso o tempo estie. Previamente deve-se eliminar o atentando ecológico de perda de água da referida piscina. Tratar em seguida de garantir o aquecimento moderado do espaço e então, após a aquisição de uma cobertura moderna, ficar com um complexo aquático adequado preparado para os próximos vinte e cinco anos, na óptica do comum utilizador.
Soluções baratas e concretizáveis. Faltando apenas resolver o problema do desumidificador da actual piscina, o que não deve ser difícil.
Remato, reafirmando que com estas soluções, existe a possibilidade de se continuarem a organizar provas de natação em S. João da Madeira, que atraem forasteiros de todo o país, contribuindo para a divulgação e promoção da cidade, o que não acontecerá caso se concretize o financiamento à nova piscina.
 
 
(a publicar no dia 24/01/13)
 
Nota: infelizmente recuei ao antigo acordo ortográfico, se tiver  oportunidade corrijo isto.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

O sopro de Dylan

            A sintonia analógica era difícil. As ondas hertzianas não eram bem captadas e algumas estações de rádio teimavam em serem ouvidas com ruído de fundo. Ainda assim, dada a preferência, uma questão de afirmação juvenil, ouvia-se as emissões com alguma dose de religiosidade. 
            Por essa época, havia um ou outro programa que teimava em repor músicas de décadas anteriores. Em horas específicas e longe da música dos tops, rolava o som de “Like a Rolling Stone”, pela voz de Bob Dylan. A música foi gravada em 1965 e praticamente duas décadas depois, eu ouvia-a com grande entusiasmo. Havia algo naquela voz que mexia comigo. O refrão era cantarolado, a letra não era entendida.
O mesmo aconteceu várias vezes, até eu ter uma perceção musical diferente e uma sensibilidade maior para as palavras das canções. “Take walk on the wild side” de Lou Reed, enquadrava-se no género e acompanhou-me sempre ao longo destas quase três décadas.
Apesar da melhoria na sintonização dos rádios digitais e da possibilidade de memorizar as estações de rádios, acompanhada pela evolução tecnológica nos suportes e leitores de música, prefiro continuar ouvir vozes de registo diferente. Leonard Cohen e Tom Waits, já por aqui expliquei, são inigualáveis. 
Nos últimos anos, as minhas surpresas musicais surgiram por meios diferentes, Manu Chao na televisão, Robyn Hitchcock no cinema, entrando de perfil num filme de Jonhatan Demme - nos jardins do casamento de Rachel - e Andrew Bird, no genérico de um filme, cujo nome não me ocorre.
Vozes diferentes, outras melodias.
O inesperado momento em que não se esperava nada de novo, até que o som duma música, captando a atenção, desperta novas sensações.
No carro, ao ouvir um célebre disco de Dave Brubeck, descobri o magnífico “Take Five”. Rolei-o vezes sem conta, em férias, nas viagens da praia para casa e de retorno. Decompondo a música, ouvindo o tema do saxofone, o ritmo do piano, o solo de bateria, tendo sempre a linha de baixo no centro de atenção. Insistentemente, transmitindo aos meus filhos o brilhantismo musical do pianista e compositor jazzístico norte-americano. Reconhecimento surgido apenas ao visionarem um episódio da série Simpsons, em que Liza no seu clube de jazz, tocando o seu saxofone, executa precisamente o virtuoso momento de “Take Five”.
Pelo youtube, o meu principal meio de audição de música, cheguei a “god’s gonna cut you down” interpretado por Johnny Cash, que me deixou atónito. Um registo fabuloso. Uma surpresa que partilho com amigos, deixando-os em igual estado ao escutarem o imprevisto som, longe do estereótipo da música “country” onde o tínhamos encaixado.
Nas viagens de carro entre a casa e o trabalho, o rádio vai ligado para ouvir as notícias do dia, as últimas do futebol, as brincadeiras do Bruno Nogueira e do João Quadros, com sonoplastia de outro fulano, cujo nome, apesar de repetido diariamente, não me ocorre. Na hora de almoço, nessa estação, das iniciais da telefonia sem fios, passam músicas selecionadas por personalidades públicas. Músicas antigas, ou de artistas consagradas, do género dos atrás por mim mencionados. Há dias, numa hora em que deviam estar a ser lidas as notícias, o meu ouvido captou uma melodia curiosa. A voz não me era estranha, embora não estivesse a reconhecer de quem era. Fiz um esforço de memória e parecia-me a de um consagrado músico negro, tipo Louis Amstrong. Com um registo menos grave e com uma guitarra a sobressair. Esperei pelo fim e o locutor anunciou nem mais, nem menos, do que Bob Dylan. Fiquei surpreendido, acreditei tratar-se de uma qualquer música antiga. Descobri que não. Era do seu último álbum. Trata-se da música Dusquene Whistle, cujo vídeo – entretanto encontrei-o sem dificuldade – pela violência apresentada, parece inspirado nos filmes de Tarantino.  
Aos 50 anos de carreira, Dylan aproveitou bem o apito do comboio de Dusquene. Demonstrou estar com fôlego para ainda se ouvir o seu sopro. A mim surpreendeu-me pela acidentalidade e voltei a ter prazer em ouvir uma canção.
 
(a publicar no dia 17/01/13)
 

quarta-feira, janeiro 09, 2013

A Tábua de Flandres

 
            Fechei o livro. Li a última página, antes de iniciar a escrita destas linhas.
Durante anos fugi deste livro, de Arturo Pérez-Reverte. No entanto, adoro a sua escrita. Possuo outros títulos seus na minha pequena biblioteca: O Hussardo, Um dia de cólera, O Pintor de Batalhas. Devorei a capacidade do autor em recriar factos históricos, em nos agarrar à narrativa, derramando litros de sangue para fazer avançar o enredo literário.
A Tábua de Flandres escapava há vinte anos.
Ao regressar à atividade associativa via xadrez distrital, senti um desejo de voltar a mexer nas peças do nobre jogo. Deixei o jogo como desportista federado há quinze anos. Uma ou outra partida no computador, mais umas aventuras nuns sites internacionais e a última ação, foi como participante numa simultânea, promovida na Figueira da Foz, tendo como oponente uma jovem promessa Russa, que me dizimou ao fim de 35 lances. Depois disso, jamais me aventurei, com exceção das partidas domésticas, mais didáticas e pedagógicas, com os meus filhos.
A minha inatividade, não passou despercebida na última Assembleia Geral da Associação de Xadrez de Aveiro. De todos os diretores e delegados credenciados, eu era o único não jogador. Apenas dirigente.
Por causa das funções que por ali exerço, tenho-me entretido com a leitura da lei de bases da atividade física e do desporto – lei n.º 5/2007. As suas implicações no regime jurídico das federações desportivas. Derivando daqui para a consulta dos novos estatutos de algumas Federações Desportivas, conscientes que essa revisão era imperiosa para manter o estatuto de instituição de utilidade pública. Para rematar este processo, tenho estudado a revisão estatutária de várias associações distritais, de desportos tão díspares como futebol ou natação. Por outro lado, tenho verificado a organização territorial em vários desportos, verificando que nalguns casos a divisão distrital perdeu o sentido e sem problemas, passaram a existir associações regionais.
Tudo isto é enfadonho.
Preferia voltar a empurrar as peças de madeira pelo tabuleiro. Ou as de plástico, mais usuais nos clubes.
Antes de ceder a essa tentação, tive um acerto literário com o meu passado.
Requisitei o já mencionado livro. Interessei-me pelo restauro do quadro do século XV “A partida de Xadrez”, no qual estão representados um cavaleiro e o seu senhor medieval, a disputar precisamente um animado jogo de xadrez. Inquietei-me com o enigma escondido na tela: Quem matou o cavaleiro? O descobrir do mistério, através da recomposição secular dos últimos lances da partida, fascinou-me. E quando a trama já parecia resolvida, no presente surgem assassinos dos amigos da restauradora, pretendendo o autor dos crimes continuar a partida de xadrez pintada no século quinhentista, o que me levou a estudar a posição das peças, a sugerir lances, envolvendo-me duplamente na intriga do livro.
Por aquelas páginas, revi momentos vividos enquanto jogador. O falso silêncio dos clubes, quebrado por breves murmúrios, o jogo de olhares entre oponentes perante a situação no tabuleiro, o descobrir as fragilidades do adversário, tudo muito bem relatado. Depois o enfrentar do desaire, a estratégia mal concebida, a tática falhada, os nervos não dominados são descritos de forma exemplar.
O autor retrata extremamente bem o jogador de xadrez. A sua excentricidade. Nalguns casos, o mundo isolado em que vive, a sua abertura e as relações sociais apenas para o jogo. Enquanto lia, revia caras, concebia uma imagem do personagem com base na centena de jogadores de xadrez que conheci. Os pormenores físicos descritos para mim eram recordações. Os olhares ausentes, os trejeitos corporais, entre outros. Do retrato psicológico do excêntrico jogador de xadrez desenvolvido ao longo do livro, abstenho-me de comentar pela sua complexidade.
Ao fechar o livro, compreendi que não estava errado quando abandonei a prática da modalidade.
O meu caminho não era aquele.
O acerto não foi só literário.
 
(a publicar no dia 10/01/2013)
 

quinta-feira, janeiro 03, 2013

Ano Velho

            De 2012 ficaram alguns assuntos por tratar. A quadra natalícia faz-nos perder oportunidades. Não se proporcionam explanações alongadas sobre qualquer tema, seja de cariz aborrecido, sério, próprio, nem muito menos leviano.

            O jornal labor apresentou num dos seus suplementos, uma compilação de valores dos montantes despendidos entre 2003 e o último ano, nas celebrações municipais de Natal.

Não passou despercebido.

A diferença entre o valor mais elevado, correspondente a 2007 e o valor de 2012, precisamente o menor, é superior a mais de cem mil euros. A justificação oficial para esta diferença é a redução de receitas municipais. Tal facto não sofre qualquer contestação. A população aceita. Com saudosismo evoca o passado, as iluminações faustosas, os presépios, a animação festiva na Praça.

Olhando para trás, não se percebe a estratégia da autarquia. Criou uma animação sazonal, divulgou-a exaustivamente, promovendo indiretamente os comerciantes estabelecidos na zona central. A partir do momento em que surge um centro comercial, nada mais se fez para consolidar e perpetuar no tempo esse apoio. Para chegar-se ao estado atual, não era necessário gastar tanto dinheiro, ano após ano, em eventos pontuais e sem sequência. Sem grande rigor e com base nas contas feitas pelo labor, contabiliza-se pelo menos meio milhão (500.000) de euros de desperdício nas celebrações de Natal, ao longo destes nove anos, considerando-se aceitável o realizado no presente.

É evidente que este exercício, baseado no estado atual da animação da cidade, permite listar outros desperdícios de verbas municipais. As inexplicáveis quatro edições da Volta a Portugal em bicicleta, com etapas a finalizar em S. João da Madeira - com o preço anual a fixar-se no valor próximo dos setenta e cinco mil euros - tiveram um custo total, entre 2004 e 2008, equivalente a trezentos mil (300.000) euros, desembolsados pela autarquia. Em matéria de eventos desportivos desenraizados, pode-se acrescentar uma etapa da Taça de Mundo de Ginástica Artística realizada em 2010, de pouca memória para a cidade, cujo montante despendido desconheço.

Continuando o exercício, sabendo-se que a entrada para o Centro Coordenador de Transportes (CCT) pela Rua 5 de Outubro está fechada, é natural que se questione o porquê da execução da obra no passado? Acrescente-se a remodelação da cobertura deste equipamento, a preços exorbitantes; mais um estudo encomendado para transformar o referido CCT numa plataforma bi-modal; mais o estudo que pretendia acrescentar um transporte tipo vai-vém na linha do vouga (abandonado por falta de viabilidade financeira) e chegamos a um valor altíssimo. Tudo junto deve chegar ao milhão de euros, valor mencionado frequentemente por um dos cronistas habituais do jornal “O Regional”.

É natural acrescentar-se outras duas obras de remodelação de edifícios municipais, executadas sem qualquer previsão de futura ocupação: o palacete dos Condes e a Quinta do Rei da Farinha. Para o primeiro foram aplicados setecentos e cinquenta mil euros (750.000), ao abrigo do protocolo de investimento do parceiro privado do negócio da água municipal. A remodelação do segundo ficou mais barata. Em ambos os casos, louva-se a intervenção, o que se condena é a falta de ideias para os equipamentos. Não se sabendo qual será a sua utilidade futura e se quando voltarem a ter inquilino, não será necessário novas obras de adaptação, com novos encargos para a autarquia?

Animação inconsequente, eventos desapegados, portas encerradas, edifícios fechados e sem inquilinos, tudo exemplos de uma cidade a funcionar em dias de crise. No passado recente com uma dívida municipal superior, houve dinheiro para tudo. A fazer fé nos dados atrás mencionados, retirados da imprensa local, pelo menos dois milhões e quinhentos mil (2.500.000) euros não tiveram um efeito apreciado na cidade. O esmiuçar efetuado, pode ter o acréscimo de outras rubricas.

Hoje a aplicação de verbas públicas é condicionada a um maior rigor. Está certo.

Se tivesse sido sempre assim, as contas municipais seriam outras.

Com isto, despeço-me do ano velho, transmitindo um ponto de vista ao leitor, que lhe permitirá ajuizar melhor a causa pública e ser árbitro no conflito político que uma das estruturas partidárias locais inventou.  

 

(a publicar no dia 04/01/2012)