quarta-feira, março 27, 2013

Indústria & Turismo

                O turismo é um dos mais importantes setores da economia nacional.
As particularidades de Portugal, a sua organização Estatal e o potencial turístico de determinadas regiões, conduziram à criação de onze entidades regionais de turismo (ERT).
De Norte para o Sul, correspondendo à organização regional do Estado, as várias delegações do turismo de Portugal foram distribuídas pelos mais variados locais, tendo como princípio a descentralização, dentro de cada região. Exemplificando: o Turismo do Porto e Norte de Portugal está sediado em Viana do Castelo; o Turismo do Centro de Portugal está localizado em Aveiro; em Santarém é a sede do Turismo de Lisboa e Vale do Tejo; a sede do Turismo do Alentejo, E.R.T. fica em Beja e o Turismo do Algarve, contraria a lógica anterior, pois está centrado em Faro.
Em algumas regiões, desenvolveram-se destinos turísticos com enorme potencial, surgiram assim as restantes seis ERT, apresentando-se também o local da sua sede: Turismo do Douro em Vila Real; Turismo da Serra da Estrela na Covilhã; Turismo de Leiria-Fátima em Leiria; Turismo do Oeste está em Óbidos; mais a sul temos o Turismo Terras do Grande Lago Alqueva em Reguengos de Monsaraz e o Turismo do Alentejo Litoral em Grândola.
            Cada região tem produtos turísticos, estratégicos e inerentes, a dinamizar. Em todas elas é comum a promoção da gastronomia, dos vinhos, do golfe, do património, do enquadramento paisagístico, de tratamentos de bem-estar e saúde, de turismo de negócios, de turismo na natureza ou de turismo religioso.
            Um pouco por todo o país existem roteiros, rotas, itinerários, circuitos ou percursos sobre o mais diversificado produto, inclusive patrimonial.
A diversidade gastronómica está presente nos imensos festivais, feira por produto, nos mais variados museus, ou até nas sete maravilhas.
O turismo na natureza alia as condições singulares de cada zona, em especial com o potencial desportivo de cada região, desenvolvendo-se infraestruturas para apoio aos turistas, em locais menos urbanos.
A região do Porto e Norte de Portugal, com enorme potencial turístico, procurou descentrar a sua atividade, criando delegações para se aproximar dos seus produtos estratégicos. Encontramos, assim:  
a) City & Short Breaks no Porto;
b) Touring Cultural & Paisagístico e dos Patrimónios em Guimarães;
c) Saúde & Bem -Estar em Chaves;
d) do Turismo de Natureza em Bragança;
e) do Turismo Religioso em Braga;
Dentro deste espírito, as autarquias procuraram enquadrar o seu potencial turístico, desenvolvendo os seus próprios produtos. Muitas potenciaram as tradições das suas populações, as suas festividades, o património histórico, o património religioso, as atividades culturais, além da culinária – a mais apreciada.
S. João da Madeira centrou-se na sua tradição industrial. Procurou os seus produtos característicos, produções exclusivas em território nacional em alguns casos e desenvolveu o seu próprio produto turístico: circuitos pelo património industrial, simplificados por Turismo Industrial.
Este conceito deu visibilidade às suas indústrias, dando-lhe um lado humano, permitindo conhecer o ofício de quem trabalha nas fábricas, dando a conhecer as operações diárias, a rotina do operador, o produto que manuseia, além das cores do artigo, dos cheiros das matérias-primas, dos barulhos das máquinas e essencialmente, o espaço envolvente ao operador em cada uma das indústrias.
Como novo produto estratégico, é necessário que o Turismo Industrial adquira uma escala maior. Um enquadramento dentro do Porto e Norte, ultrapassando os limites do concelho e também do Entre Douro e Vouga.
A região norte em termos turísticos divide-se em 4 sub-regiões: Minho, Trás-os-Montes, Douro e Porto. Toda a zona em redor da cidade do Porto, a sul e a norte não tem enquadramento turístico. Toda esta zona é caraterizada pela sua forte componente industrial. Indústrias variadas, de produtos diversos, algumas fortemente localizadas em determinadas vilas, cidades, concelhos, associações de município, ou micro-regiões. Extravasando o conceito Turismo Industrial de S. João da Madeira à região, poderíamos ter um produto chamado Porto Industrial ou Norte Industrial, ganhando escala mundial, alargando a oferta aos milhões de turistas que aterram no aeroporto da região.
Toda esta ideia assenta na possibilidade de se estabelecer em S. João da Madeira a delegação do Turismo do Porto e Norte correspondente ao Porto Industrial (é a minha designação favorita), ou seja, um aumento de importância do Wellcome Center instalado na Torre da Oliva, em Outubro de 2012.    
Desta forma, o pioneirismo da cidade, neste conceito turístico, seria premiado.
 
(a publicar no dia 28/03/13)
 
 

quarta-feira, março 20, 2013

Coligações

                Nos últimos cinco meses, nas reuniões com várias associações ou personalidades ligadas à cultura e ao desporto da nossa cidade, eu a tentar captar a atenção dos meus interlocutores, expondo as minhas ideias, procurando a sua validação para os debates do Fórum repensar a cidade e a sentir, do outro lado, uma enorme vontade de desviar o tema da conversa. Surgia a pergunta sacramental: Sabe quem é o candidato do PSD? Alguns sem formalismo, outros com reservas. No geral, colecionei várias hipóteses, ouvi todo o tipo de teses. Se de início fiquei surpreendido, nalguns casos quase irritado, passei a viver a situação num pleno estado de diversão.
Percebi que as eleições autárquicas de resumem a isso: a descobrir quem são os candidatos. O “tabu”, o tempo de espera na divulgação desse nome, imposto pelo PSD, tem intrigado a cidade. Procuram-se novidades entre os aficionados da política, nos militantes das várias forças políticas e como nada surge, é de crer que nada está decidido. A gestão das expetativas está a ser bem conseguida.
Neste impasse surgiu um actante novo, improvável. Uma carta do secretário-geral do PS aos seus homónimos do PCP e Bloco de Esquerda, propondo coligações para as próximas eleições autárquicas.
Quanto valeria uma coligação destas em S. João da Madeira?
Em termos de votos, o único ponto que pretendo avaliar, nas últimas eleições autárquicas a soma das três forças políticas equivaleu a 4.061 votos, com o PS a obter 3078, a CDU obteve 673 e os restantes 310 foram arrecadados pelo BE. Os resultados eleitorais em eleições legislativas são diferentes: em 2011, o somatório das forças de esquerda equivaleu 5280 votos – divididos da seguinte forma PS = 3888; CDU = 672; BE = 720; em 2009 o resultado tinha sido ampliado pelo “efeito Socrátes”, 6961 votos recolheu a esquerda, com o PS a amealhar 4967; nestas eleições o BE obteve 1386 e por fim, a CDU 608 votos.
Três eleições com cenários diferentes. O BE com resultados mais expressivos nas legislativas do que nas eleições autárquicas e a CDU a manter o seu nível de votação em todas as eleições. Por outro lado, o PS a conseguir um ótimo resultado nas legislativas de 2009 e em seguida, duas eleições com menor número de votos. Tanto este partido, como o BE, têm piores resultados nas eleições autárquicas do que nas legislativas, sinal de que o seu eleitorado não é fiel e não se identifica com os candidatos locais, nem com as propostas apresentadas para a cidade.
Perante isto, que interesse poderia haver na coligação das três forças de esquerda?
Aparentemente nenhuma.
A desproporção entre os votos de uma força (PS) para as outras duas é gritante, colocando vários problemas na idealização de uma lista conjunta, pela inerência dos possíveis eleitos de cada um dos partidos, retirando em caso de coligação e de vitória eleitos ao PS. É evidente que o contrário é verdadeiro. As duas forças, CDU e BE, que não elegeram vereadores, poderiam conseguir esse objetivo em coligação.
Qual poderá então ser o interesse na coligação à esquerda?
Só a vejo em S. João da Madeira, como resposta a igual coligação à direita, ou seja, um acordo pré-eleitoral entre PSD e CDS-PP. Cenário ponderado e não recusado pelo partido centrista, obviamente com condições que eu desconheço.
As duas forças de direita em legislativas valeram: em 2011, 6135 votos e em 2009, 4992 votos. Em ambas, o CDS conseguiu mais de 1.300 votos, o que por si só justifica um papel de relevo em hipotética coligação. A proporção do eleitorado das duas forças é em média 1 para 3.  
Neste cenário, já testado na cidade há três décadas, uma candidatura isolada perde escala e arrisca-se a sair perdedora.
O fechar de antemão as portas a coligações e a precipitação em anunciar rapidamente candidaturas, pode revelar-se imprudente e ser fatal politicamente.
A expetativa eleitoral continua a ser grande.
Esperemos que a sociedade civil seja premiada nas escolhas partidárias.
 
(a publicar no dia 21/03/13)
 
 

segunda-feira, março 11, 2013

21.713 - 20.200 = ?

            Uma subtração simples de calcular, 1513 é o resultado.
            Vejamos a que correspondem as parcelas:
            21.713 - estão recordados - é o número de habitantes de S. João da Madeira, segundo o Censos 2011. Números oficiais, segundo publicação do Instituto Nacional de Estatística (INE) no final do ano passado.
            20.200 – corresponde ao número de eleitores do concelho de S. João da Madeira, segundo a Comissão Nacional de Eleições, precisamente nas eleições legislativas de 5 de Junho de 2011.
            A subtração apresentada em título passa a ter outro significado, se ao total da população tirarmos o número de eleitores, estamos a calcular o número de não eleitores, ou seja, os menores de 18 anos.
Os resultados definitivos do Censos 2011 indicam o seguinte:
Menores de 14 anos – 3.136 indivíduos;
Entre os 15 e os 24 anos – 2.514 indivíduos;
Entre os 25 e 64 anos – 12.498 indivíduos;
Maiores de 65 anos – 3.575 indivíduos;
Não são linearmente esclarecedores quanto à população menor de 18 anos.
Vamos proceder a pequenos cálculos.
Considerando a média da classe apresentada entre os 15 e os 24 anos, teremos 251 indivíduos por ano, o que poderá equivaler a 3*251= 753 indivíduos, entre os 15 e os 17 anos. Ou seja, somando com o primeiro valor apresentado, relativo aos menores de 14 anos, podíamos chegar a 3.889 menores de 18 anos, no ano de 2011, no concelho de S. João da Madeira.
Existe uma clara diferença entre os dados do INE e os da Comissão Nacional de Eleições, 3.889 para 1513 jovens.
A divulgação dos resultados definitivos do apuramento da população, ao contrário dos preliminares, não suscitou qualquer tipo de reação, por parte do poder político local, em especial, pelos responsáveis pelo recenseamento.
Perante isto, temos duas hipóteses, a primeira é que o número de eleitores em S. João da Madeira não pode ser o divulgado. Seguindo as contas do INE, só deveriam estar registados 17.824 eleitores. Esta constatação permitiria duvidar dos atos eleitorais, já que, 2376 eleitores seriam “fantasmas” nos cadernos eleitorais, inflacionando o número de mesas de voto por eleição e tendo como consequência uma abstenção prévia de 11%.
A segunda hipótese é aceitar o número de eleitores, pondo em causa a atualização dos cadernos eleitorais, já que os resultados do Censos 2011 são definitivos. Existe a consideração do recenseamento automático dos jovens que atingem 18 anos, que pode efetivamente alterar em muito o número dos eleitores.
Ainda assim, existe outro dado importante para este efeito: a mudança de residência, implicando a alteração de concelho, o que não significa imediatamente alteração do recenseamento eleitoral.
(Falo com experiência própria, pois mudei de residência em 2004 e só em 2011, por ter caducado o meu antigo Bilhete de Identidade, ao ser obrigado a compilar os dados no cartão de cidadão é que alterei o meu círculo de voto.)     
Segundo o INE, o saldo migratório de S. João da Madeira é negativo. Até 2006 os valores eram positivos. Nesse ano, a taxa de crescimento natural anual fixou-se em 0,23%. E o saldo migratório era positivo. Em 2010, os valores dos Indicadores Demográficos são preocupantes: a taxa de crescimento natural é de apenas 0,05% e o saldo migratório passou a ser negativo, ou seja, existe mais população a procurar outros concelhos, do que aqueles que mudam a sua residência para cá.
É de prever, com estes indicadores, que nos próximos atos eleitorais o número de eleitores vá-se aproximando da realidade do recenseamento populacional, no entanto, o mais confrangedor é verificar que, com este ritmo demográfico negativo, daqui a alguns anos, o número de habitantes da cidade regredirá, contrariando o crescimento verificado ao longo de todo o último século. 
 
(a publicar no dia 14/03/13)
 
 

quarta-feira, março 06, 2013

Independanças

            Março entrou no calendário sem pedir licença a fevereiro.
A brusca mudança de mês deixou uma série de assuntos por tratar. Por escrever, neste caso. Agravando-se pela excessiva ocupação na divulgação e preparação do debate sobre desporto. Com tanta insistência na temática, corri o risco de ser relegado para o meio dos resultados desportivos, ou situar-me lado a lado com os relatos dos jogos. Não desfazendo.
Volto a temas incertos.
Houve vários acontecimentos em fevereiro a pedirem reflexão.
Nomeadamente política.
Em primeiro lugar, a iniciativa de plataformas independentes, ao interporem providências cautelares para impedirem a candidatura ao 4º mandato dos autarcas Luís Filipe Menezes e Fernando Seabra. 
Como a legalidade destas candidaturas é duvidosa, o esclarecimento solicitado pelo 3º Juízo Cível do Tribunal da Comarca do Porto obriga a trabalho prévio dos partidos políticos, especialmente no sentido de garantirem que não estão a violar a lei. Confrontado com esta ambiguidade, a classe política autárquica não só pretende interpretar a lei ao seu jeito, ou caso haja ilegalidade, deseja-a alterar, conferindo legitimidade às candidaturas
A iniciativa destes movimentos independentes é um sinal de que a sociedade civil tornou-se intolerante para com os políticos portugueses. Não está a julgamento a capacidade de gestão do endividamento, ou pelo contrário, a resposta aos anseios da população, apenas se pretende prevenir o oportunismo na interpretação das preposições de leis e evitar que questões gramaticais ocupem o tempo dos portugueses.
As candidaturas mencionadas ficam a aguardar a resposta da Justiça, em tempo útil, ou seja, até meados de Agosto, do presente ano.
A consciência política dos novos movimentos de independentes, à semelhança do que se passa em alguns países europeus, obrigou os partidos políticos a encenarem uma abertura.
Nestas autárquicas, por sobrevivência, as estruturas concelhias promovem grupos de reflexão. Algumas procuram programa político, outras mais redutoras procuram preencher listas, outras mais ambiciosas tentam apresentar candidatos.
Existem nomes de figuras independentes a serem testados em sondagens políticas, patrocinadas pelos maiores partidos. Concretamente em S. João da Madeira. 
Enquanto isto, há figuras independentes a apresentar candidaturas, como Rui Moreira no Porto, conseguindo apoios suprapartidários e não só.
Tudo isto para umas eleições autárquicas, marcadas como sempre, pelos perfis dos candidatos.
Depois de Outubro, tudo será diferente.
A independência encontrará afinidades nos indignados, nos movimentos de contestação, ou mesmo nos Juízes e novos valores políticos serão erguidos.
O tempo é de mudança.
Tal como o mês de março, também as modificações sociais não vão pedir licença e um novo período entrará no calendário.
 
(a publicar dia 07/03/13)