quarta-feira, março 20, 2013

Coligações

                Nos últimos cinco meses, nas reuniões com várias associações ou personalidades ligadas à cultura e ao desporto da nossa cidade, eu a tentar captar a atenção dos meus interlocutores, expondo as minhas ideias, procurando a sua validação para os debates do Fórum repensar a cidade e a sentir, do outro lado, uma enorme vontade de desviar o tema da conversa. Surgia a pergunta sacramental: Sabe quem é o candidato do PSD? Alguns sem formalismo, outros com reservas. No geral, colecionei várias hipóteses, ouvi todo o tipo de teses. Se de início fiquei surpreendido, nalguns casos quase irritado, passei a viver a situação num pleno estado de diversão.
Percebi que as eleições autárquicas de resumem a isso: a descobrir quem são os candidatos. O “tabu”, o tempo de espera na divulgação desse nome, imposto pelo PSD, tem intrigado a cidade. Procuram-se novidades entre os aficionados da política, nos militantes das várias forças políticas e como nada surge, é de crer que nada está decidido. A gestão das expetativas está a ser bem conseguida.
Neste impasse surgiu um actante novo, improvável. Uma carta do secretário-geral do PS aos seus homónimos do PCP e Bloco de Esquerda, propondo coligações para as próximas eleições autárquicas.
Quanto valeria uma coligação destas em S. João da Madeira?
Em termos de votos, o único ponto que pretendo avaliar, nas últimas eleições autárquicas a soma das três forças políticas equivaleu a 4.061 votos, com o PS a obter 3078, a CDU obteve 673 e os restantes 310 foram arrecadados pelo BE. Os resultados eleitorais em eleições legislativas são diferentes: em 2011, o somatório das forças de esquerda equivaleu 5280 votos – divididos da seguinte forma PS = 3888; CDU = 672; BE = 720; em 2009 o resultado tinha sido ampliado pelo “efeito Socrátes”, 6961 votos recolheu a esquerda, com o PS a amealhar 4967; nestas eleições o BE obteve 1386 e por fim, a CDU 608 votos.
Três eleições com cenários diferentes. O BE com resultados mais expressivos nas legislativas do que nas eleições autárquicas e a CDU a manter o seu nível de votação em todas as eleições. Por outro lado, o PS a conseguir um ótimo resultado nas legislativas de 2009 e em seguida, duas eleições com menor número de votos. Tanto este partido, como o BE, têm piores resultados nas eleições autárquicas do que nas legislativas, sinal de que o seu eleitorado não é fiel e não se identifica com os candidatos locais, nem com as propostas apresentadas para a cidade.
Perante isto, que interesse poderia haver na coligação das três forças de esquerda?
Aparentemente nenhuma.
A desproporção entre os votos de uma força (PS) para as outras duas é gritante, colocando vários problemas na idealização de uma lista conjunta, pela inerência dos possíveis eleitos de cada um dos partidos, retirando em caso de coligação e de vitória eleitos ao PS. É evidente que o contrário é verdadeiro. As duas forças, CDU e BE, que não elegeram vereadores, poderiam conseguir esse objetivo em coligação.
Qual poderá então ser o interesse na coligação à esquerda?
Só a vejo em S. João da Madeira, como resposta a igual coligação à direita, ou seja, um acordo pré-eleitoral entre PSD e CDS-PP. Cenário ponderado e não recusado pelo partido centrista, obviamente com condições que eu desconheço.
As duas forças de direita em legislativas valeram: em 2011, 6135 votos e em 2009, 4992 votos. Em ambas, o CDS conseguiu mais de 1.300 votos, o que por si só justifica um papel de relevo em hipotética coligação. A proporção do eleitorado das duas forças é em média 1 para 3.  
Neste cenário, já testado na cidade há três décadas, uma candidatura isolada perde escala e arrisca-se a sair perdedora.
O fechar de antemão as portas a coligações e a precipitação em anunciar rapidamente candidaturas, pode revelar-se imprudente e ser fatal politicamente.
A expetativa eleitoral continua a ser grande.
Esperemos que a sociedade civil seja premiada nas escolhas partidárias.
 
(a publicar no dia 21/03/13)
 
 

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