quarta-feira, maio 22, 2013

O borralho da velha

            Nunca tinha vivido um mês de Maio tão frio. Durante anos ouvi o ditado popular, das velhas, das cerejas e do borralho. Quando havia alguma oscilação, tornando as temperaturas primaveris menos amenas, lá surgia o provérbio. Jamais senti as baixas temperaturas de Maio, como as deste ano de 2013.
            Uma experiência para comprovar um adágio popular, é interessante. Os hábitos invernosos não se recuperam. Apesar do frio, do vento cortante, da neve acima dos 1.400 metros, a roupa vestida é mais ligeira. Dispensando-se as lãs e os casacões que tão bem aconchegam o corpo em Janeiro ou Fevereiro. A claridade até ao jantar e o número de horas solares, ajudam a superar o frio. A noite é recebida da mesma forma primaveril e qualquer programa noturno é apetecível.
Foi com este espírito, que na passada sexta-feira, decidi assistir ao concerto de abertura do IX Concurso de Guitarra de S. João da Madeira / G.Artes. Fiquei liberto dos meus compromissos de pai precisamente à hora de início do concerto, só que a quinze minutos de distância. O termómetro do carro indicava 10º centigrado e a noite ainda não estava escura.
Apesar do atraso, optei por assistir ao concerto de Dejan Ivanovic. Entrei no final da primeira música, sem saber qual o alinhamento. Mal me sentei, fui brindando com a explicação da música da seguinte, estremeci ao ouvir o nome de Joaquín Rodrigo. Junto al Generalife, a música executada pelo sérvio, transportou-me pelas paisagens sonoras da guitarra espanhola. Estava já deliciado. As cinco bagatelas (tradução linear) da música posterior, de William Walton, ajudaram-me a continuar a viagem, por um mundo desconhecido.
Ao intervalo, estava rendido ao brilhantismo de Dejan Ivanovic. Para a segunda metade, o alinhamento escolhido mostrou o virtuosismo de dois compositores contemporâneos portugueses, Ricardo Abreu e Carlos Moreira, presentes na sala e por isso, aplaudidos quando chamados ao palco.
A explicação do guitarrista prosseguiu apresentando a música final de J. S. Bach. Para mim, leigo nestas andanças da guitarra, uma novidade sonora. A caraterística barroca esteve presente em toda a execução. Sem exagero, a dedilhação assemelhava o som produzido ao de um cravo, tal era a preciosidade do guitarrista, colocando-nos no século XVIII, num apropriado salão de música do Sacro Império Romano – Germânico. 
Os aplausos finais, com a plateia em pé, permitiram verificar o estado de satisfação do público. Aproveitei o momento, de luz já acesa, para analisar a ocupação da plateia, comprovando a ideia retida ao intervalo, o número de jovens presentes, bem como os membros da Associação de Pais, são o novo público dos concertos organizados pela Academia de Música.
A fidelização de público é essencial para o sucesso de eventos culturais. Só assim, se pode superar a reduzida divulgação e a sobreposição de eventos no calendário regional, lapsos que persistem na programação cultural da cidade.
Cativando essa assistência, tornando-a interessada, regular e em número considerável, como demonstrado nas últimas edições do Festival de Teatro de S. João da Madeira, pode-se ambicionar a eventos de maior dimensão, tão ao jeito da lotação da futura Casa da Criatividade.  
 
(a publicar no dia 23/05/13)
 

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