quarta-feira, maio 15, 2013

O que diz François

            Um ano após as eleições presidenciais francesas, a apreciação dos eleitores relativamente ao presidente eleito, não podia ser pior. As sondagens, divulgadas na semana passada indicavam que apenas 19% dos eleitores voltaria a votar em François Hollande.
            Se à direita, a derrota inesperada de Nicolas Sarkozy, provocou um mal-estar e obviamente uma grave desconfiança relativa a um presidente de origem socialista, traduzindo-se isto em críticas constantes e depreciação do trabalho efetuado pelo atual presidente, já o eleitorado de esquerda, embalado pelo regresso à presidência, 17 anos depois, esperava não ouvir da boca do eleito palavras como cortes de subsídios, aumento da austeridade, entre outras medidas para combater a crise financeira da França.
              François Hollande não cede ao mediatismo neoliberal: continua consciente do seu sentido europeu – evita o confronto federalista com a Alemanha, no entanto, demonstra o seu poder bélico com um raid no distante Mali; ajusta a dimensão do Estado à receita fiscal, injetando na economia fundos estatais procurando alavanca-la, apesar de, tal como em outros países atlânticos, os indicadores de atividade económica não serem famosos.
            Perante isto, onde errou o presidente francês?
            Veja-se as medidas simbólicas: redução em 30% do seu salário e dos seus ministros, demonstrando o excesso de vencimento que o anterior presidente ousou auferir. Aumento de impostos para as grandes fortunas (1500 franceses), tendo o infortúnio de o autor da medida, o seu ministro das finanças, ser também evasor fiscal – o que obrigou à publicação de uma lei de transparência sobre os rendimentos dos políticos.
Errou?
Na essência, François Hollande escolheu os alvos, a classe política e as grandes fortunas.
A manipulação da opinião pública não se fez esperar. Os comentários depreciativos sobrepõem-se a todos os outros, denegrindo a sua imagem e claro, as sondagens são divulgadas como grande perdas de popularidade e apresentadas como o resultado de uma péssima gestão política.
No essencial, a teoria de Hollande não é aceite.
Muito menos em governos de origem liberal, como o de Portugal. Os políticos do eixo do poder não abdicam dos seus privilégios, não baixam os seus vencimentos, nem as regalias, nem as ajudas de custo, nem mesmo prescindem de gabinetes recheados de assessores, de secretários e de motoristas.
A única medida apresentada nestes últimos dois anos, para redução destes privilégios, foi a eliminação de 18 governadores civis e de 25% dos presidentes de junta de freguesia, não significando com isto uma grande redução da despesa com a classe política. Pelo contrário, Miguel Relvas deixou como legado um diploma enquadrando as várias comunidades intermunicipais, criando novos cargos políticos, que muito provavelmente serão chumbadas pelo Tribunal Constitucional.  
Por cá, a manipulação é feita de outra forma: acusa-se os reformados e os funcionários públicos, ataca-se os seus vencimentos e coloca-se os outros contribuintes contra eles. Os comentadores e analistas dão-se ao frete e a classe política vai reinando, não se beliscando minimamente.
 
(a publicar no dia 16/05/13)
 

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