Josias Gil despontou na imprensa local na década de 90, do século passado. Um percurso de cronista, que o projetaria para candidato à Presidência da Câmara Municipal de S. João da Madeira em 1997 e posteriormente em 2001.
Cruzei-me com ele, em período anterior a essa época. Eu aluno na antiga Escola Secundária João da Silva Correia, terminando o 12.º ano a ferros e Josias Gil, professor, com a particularidade de se envolver na comunidade escolar, fazendo questão de fazer os intervalos debaixo da pala da entrada à conversa com os alunos.
Anos mais tarde, voltei a vê-lo, desta vez, numa ação de voluntariado, em tarefa de limpeza do Parque dos Milagres e mais umas ruas de S. João da Madeira, numa organização liderada pelo jornal labor.
Em 1997, meses antes das eleições autárquicas, soube que seria Josias o candidato do PS, conforme referi no primeiro paragrafo. Por essa época, o governo de António Guterres seduzia, com o discurso da “paixão” pela educação, saúde e outras máximas, que em oposição aos anos do cavaquismo eram cativantes. A candidatura de um professor, em contraste com os empresários das eleições anteriores, tendo como cartão-de-visita o seu trajeto de voluntariado, os já referidos escritos e a envolvência na comunidade, incluindo-se o gosto pelo teatro, fascinou uma grande parte do eleitorado e contou com o meu apoio.
A atividade política tem uma particularidade, padroniza os seus agentes, tornando-os pessoas cinzentas, membros de um partido. Entre as duas eleições autárquicas, assisti ao percurso político de Josias Gil, de vereador à antiga direcção regional de viação. Li escritos seus muito bons e outros a roçar o populismo. Um deles, acerca da proliferação da pobreza na cidade, desiludiu-me de tal forma, por ter sido mal perspetivado, que me afastei das questões partidárias, durante uns largos anos.
É depois das eleições de 2001, no primeiro mandato de Castro Almeida, que surgem as melhores sugestões de Josias Gil para a cidade. O relançamento do teatro foi-lhe atribuído, assim como, a ideia da compra das instalações da antiga Oliva, para ali se lançar um novo conceito de cultura para a cidade.
Por esta época, o fato cinzento fica despido.
Josias apoia a candidatura de Manuel Alegre nas eleições de 2006, enquanto o PS segue o seu fundador, Mário Soares. Na comunidade local, longe da autarquia, a sua participação alarga-se ao associativismo, chegou a praticar capoeira na Associação Estamos Juntos e envolveu-se com os Rotários, assumindo a presidência da estrutura local, durante vários anos. Continuou a publicar as suas reflexões em artigos de jornais e a editar livros, incluindo a sua ida à China, por 35 dias.
Em 2013, quando Josias Gil regressou à atividade partidária, como cabeça de lista à Assembleia Municipal, não se conseguiu perceber se era o militante partidário, se o professor sem fato cinzento que se estava a candidatar.
Um ano depois, a resposta chegou.
O processo da construção da nova piscina foi esclarecedor sobre as suas intenções na política.
Curiosamente, este processo juntou-nos outra vez, como signatários do manifesto solicitando a tal construção.
Josias Gil não foi um político vulgar. Fica na história da cidade, por ter exercido a sua atividade política, enquanto cidadão interessado. Participando na vida das suas associações, divulgando e interpretando os arquivos da memória da cidade, escrevendo os seus pensamento e deixando um vasto legado de ideias, sobre a cidade que ajudou a mudar.
Penso que será assim recordado.
(a publicar no dia 26/02/15)