quarta-feira, setembro 09, 2015

Ainda não foi desta, Chalana

            Comecei a ver o jogo entre Portugal e França, da passada sexta-feira, apenas na 2ª parte. Pelo meio surgiram notícias de Évora e só me concentrei no jogo de futebol, a 30 minutos do apito final.

            À tardinha, antes do inicio do jogo, lembraram-me o Europeu de 1984. Um célebre encontro das meias-finais com a França, jogado no dia de S. João. Ainda falei das derrotas mais recentes, em 2000 na Holanda, pela mão de Abel Xavier ou em 2006, no Mundial da Alemanha, num jogo seco. Só que não eram essas as recordações que motivavam o meu interlocutor. Apenas as de França, de há 31 anos. Um jogo épico, com Portugal a perder o jogo aos 119 minutos, desfazendo-se um empate a duas bolas e terminando uma participação excelente na fase final de um campeonato. Um jogo memorável da nossa seleção – relembravam-me, destacando a participação do pequeno génio, Fernando Chalana, entre outros. Entretanto, a memória falhava e não surgia mais nenhum nome. Lá lembrei o Jordão e um dos golos dessa tal tarde, provavelmente um dos momentos desportivos que mais apreciei e a conversa ficou por ali, pelas fintas em progressão do Chalana, pelos seus cruzamentos para a área, entre outros apontamentos caraterísticos do futebol.

            À noite, com o resultado a nulo, acreditei que um acaso poderia dar uma vitória a Portugal. Pelos vistos, há 40 anos não ganhámos um jogo à seleção de França, o que significa que eu nunca vi tal feito. Antes pelo contrário, só encaixei derrotas, nas tais meias-finais e se calhar em mais uns quantos jogos, que não recordo, ou não segui.

Assim aconteceu… outra vez.

            É certo que o jogo era praticamente de treino e o mais importante era ganhar três dias depois, o que veio a suceder. Sendo assim, abriu-se a hipótese de novamente haver um confronto, em fases finais, entre Portugal e França.

            Em 1984, os jogadores da seleção Portuguesa jogavam todos em clubes nacionais. A diferença para a seleção Francesa era teoricamente brutal, pois os gauleses tinham realizado um Campeonato do Mundo em 1982 sensacional, terminando em 4º e dois anos depois jogavam em casa. Além do fator desportivo, havia toda a condição do país de emigrantes. Um confronto de assalariados com os empregadores. A fadiga, a impreparação para os momentos de pressão num jogo, foram as justificações para o não sucesso de Portugal.

            Em 2000 e em 2006 tudo se tinha alterado. Vários jogadores portugueses alinhavam no estrangeiro, nas melhores equipas europeias e a diferença entre as duas seleções era menor e por isso, o confronto foi sempre equilibrado. É certo que houve falhas, como acontece na maioria das vezes com equipas portuguesas. Aquela desconcentração fatal.

            Em 2015/16, o barómetro de qualidade de uma seleção são os jogadores que alinham em equipas apuradas para a Liga dos Campeões. Como este assunto é melindroso, pois da seleção nacional apenas 5 ou 6 jogadores, respetivamente no jogo de 6ª e de 2ª, é que estão nesta condição, poderá ser explicado por aqui o desaire caseiro com a França. Se considerarmos, outro dos indicadores de qualidade várias vezes utilizado, jogador de equipas a participar nas 5 principais ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França, o caso ainda fica mais complicado.

Poderá ser este o problema da atual seleção nacional, quando comparada com anos recentes, apenas dois dos seus jogadores são provenientes de uma das oito melhores equipas europeias (Real Madrid), enquanto há uns anos atrás, a convocatória enchia-se com referências a esses colossos.

            A consistência da carreira desportiva é difícil. Manter-se na ribalta durante todo o percurso desportivo não é para todos. Aguentar a pressão dos diversos treinadores, dos colegas de equipa, dos próprios adeptos, mais a dos adversários e mesmo, da opinião pública de um país estrangeiro não está ao alcance de qualquer um.  

            Se um Português aguenta isto tudo, é uma excepção. A maioria desiste, prefere outras paragens, a todos os níveis mais calmos.

O fado nacional, o da curta quimera, a justificar resultados desportivos.

Quando a ambição ocupar o lugar da resignação e a persistência for exemplo, haverá uma geração que olhará para os seus parceiros europeus de outra forma. Sem soberba mas, em contrapartida, sem se sujeitar à humilhação.

O desporto poderia ajudar a vencer o preconceito histórico.

Vejamos o que nos reserva, o Europeu de França de Junho de 2016.

 

(a publicar no dia 10/09/15)