Há coincidências curiosas. As eleições Presidenciais serem marcadas precisamente para o dia, já definido, das intercalares para a Câmara Municipal de S. João da Madeira, é uma dessas casualidades que permite tecer alguns comentários.
Em primeiro lugar, o benefício na redução dos custos da democracia. A poupança no escrutínio, com a formação das mesas eleitorais para um só dia, só pode ter vantagens. Além disso a própria autarquia, ao abrir as suas portas num só domingo, para as duas eleições, também tem proveito, na redução de despesas de funcionamento: em horas extraordinárias dos seus funcionários, além de outros custos como eletricidade e outros.
Mais baralhadas ficam as estruturas locais dos partidos políticos, com as duas eleições no mesmo dia. O empenho terá que ser repartido entre as duas eleições, não se podendo desprezar nenhuma delas, como é óbvio.
Isto se a maioria dos partidos políticos definir previamente, qual o candidato a Presidente da República que apoiarão. É certo que apenas o PSD e CDS estão indecisos, o PS deu liberdade de voto aos seus militantes, pois há duas candidaturas da sua área: uma de militante e outra independente, esta patrocinada pelos seus mais destacados partidários e ex-presidentes da República e posto isto, temos à esquerda as candidaturas apoiadas pelos respetivos partidos: Marisa Matias, pelo BE e Edgar Silva, pela CDU.
Se as máquinas partidárias podem ficar fragilizadas pelas duas eleições em simultâneo, já as próprias candidaturas locais podem aproveitar a embalagem da eleição presidencial para receber mais alguns votos e apoios inesperados.
Todos se recordam da presença do Professor Marcelo Rebelo de Sousa em S. João da Madeira no último mês de Setembro, num comício que encheu a Casa da Criatividade, numa ação da candidatura distrital do PàF. Conseguir juntar as duas campanhas, repetindo a presença do candidato Presidencial em S. João da Madeira, poderia catapultar a candidatura local de Ricardo Figueiredo para uma vitória maioritária.
O mesmo acontecendo, em escala diferente, aos candidatos do BE e CDU. A presença dos candidatos Presidenciais, em ações concretas de campanha, pode permitir a fixação de mais votos, embora os dois casos sejam distintos, como veremos mais adiante.
Já para o PS local, fruto das divisões de Lisboa, o melhor é ignorar as eleições presidenciais. Se apoiar um, pode desiludir os seus eleitores. Se apoiar o outro, pode receber o mesmo grau de insatisfação de outros. Este isolamento, que à primeira vista poderia ser benéfico para o resultado local, poderá trazer dissabores, se considerarmos a necessidade de afirmação das outras forças partidárias.
Se analisarmos as últimas eleições, portanto, as legislativas, verificamos que o Bloco de Esquerda conseguiu cerca de 1.200 votos neste concelho. Esta mesma votação nas autárquicas permitirá eleger um vereador no próximo dia 24 de Janeiro. Sendo assim, atendendo ao crescimento eleitoral desta força partidária, é razoável que o Bloco, nestas eleições, se apresente com a forte convicção de eleger um vereador (ou vereadora) em S. João da Madeira. Além disso, atendendo às circunstâncias dos últimos dois anos, das divergências políticas do executivo e da Assembleia Municipal, o Bloco de Esquerda é a única força política imaculada, por ter estado ausente dos órgãos municipais, durante esse período. Este afastamento pode permitir captar votos dos descontentes com o nível do debate político, dos aborrecidos com o extremar de posições, dos desgostosos por tudo se resumir a questões apenas partidárias, ou mesmo no limite, pela excessiva partidarização da sociedade local.
Estamos perante uma alternativa ao voto de esquerda, que poderá apanhar a boleia da candidatura presidencial, ajudada pela disponibilidade dos seus mediáticos militantes presentes em campanha e daí elevar o debate autárquico, introduzindo novos e importantes temas, dentro do quadro ideológico que carateriza o Bloco de Esquerda. A eleição de Moisés Ferreira para deputado provou que o voto no distrito de Aveiro, nesta força política, é firme. O desafio agora é consolidar esse voto também em S. João da Madeira.
A data das duas eleições pode ser uma mera coincidência, no entanto, como aqui demonstrado, pode ser bem aproveitada. Por alguns...
(a publicar no dia 26/11/15)