João Araújo foi meu professor de Educação Física. Corria o ano de 1983, a Escola Secundária ainda não tinha patrono, nem sequer pavilhão. Os alunos, para ter as suas aulas, deslocavam-se no intervalo das atividades, do antigo Liceu até ao Pavilhão de Desportos da ADS. Regressando de novo à escola, após a hora de exercício físico.
Por esses anos, o panorama de infra-estruturas desportivas da cidade resumia-se ao estádio de futebol com campo relvado e pista de atletismo; ao campo de futebol em terra batida ali adjacente; o tal pavilhão atrás referido, mais os pavilhões de duas escolas – da Escola Secundária Serafim Leite e da Escola Preparatória; a acrescentar a isto junte-se um tanque piscina nas traseiras da escola do parque.
Com tão poucas infra-estruturas, a oportunidade de iniciar a prática desportiva para uma criança era reduzida. As modalidades abriam os seus treinos aos miúdos de 10 ou 12 anos, com raras excepções, como a escola de patinagem da ADS, que admitia crianças de tenra idade. Sendo assim, havia uma série de jovens, cujo contacto com a atividade física era demasiado tardio. Com este enquadramento, nessa época, o professor de Educação Física desempenhava um papel extremamente importante no ensino de movimentos que permitiriam ao aluno aumentar a sua agilidade, a sua velocidade, a sua flexibilidade e mesmo a sua resistência física.
Dentro deste espírito, o professor Araújo desempenhava extremamente bem o seu papel. Recebia-nos no pavilhão sempre com um sorriso. Os rapazes sempre solicitando uma aula de desporto colectivo, de preferência com bola, e o professor a encaminhar a turma para a atividade por si pretendida, acompanhando com mestria toda a turma, corrigindo movimentos e ensinando com um discurso fácil e pedagógico o que pretendia. No final dessas aulas, concedia aos alunos o jogo com bola, ou a promessa de o fazer na aula seguinte, o que era cumprido.
Depois desse ano, mudei de escola e mesmo afastado, acompanhei à distância o trabalho no desporto do Professor Araújo, enquanto preparador físico das equipas de hóquei em patins. Primeiro aqui na ADS e depois, ao longo de anos, na sua carreira noutros clubes, com um palmarés invejável, como é do conhecimento geral.
A sua nomeação para diretor da piscina municipal foi extremamente importante para a Associação Estamos Juntos, devido à sua sensibilidade para as condições intrínsecas de cada modalidade desportiva. O direito da equipa de natação de treinar no horário nobre da piscina foi por si defendido e implementado, contra ventos e marés, como é normal, quando há uma mudança de paradigma.
Anos mais tarde, o professor Araújo enquanto “promotor” concelhio de desporto fazia-me chegar convites para divulgação em S. João da Madeira, do xadrez, de cuja secção era eu responsável na AEJ. Assisti a várias reuniões, por si lideradas, de planeamento dessas ações desportivas e percebi a sua intenção de apoiar as modalidades com menor visibilidade na cidade, puxando-as para entrarem na esfera autárquica. Isto numa época em que não era vereador.
Em 1997, quando me aproximei do Partido Socialista, o professor Araújo como me conhecia bem do passado, recebeu-me sem qualquer desconfiança e com a simpatia de sempre. Desde esse ano, passámos a conversar mais frequentemente, atendendo à proximidade de residência e aos pontos de vista em comum, não só desportivos mas também políticos, mesmo comigo arredado destas últimas lides.
Na minha faceta de colaborador do labor, encontrei no professor Araújo um leitor atento, que parava para falar comigo sobre o que eu escrevia, dando-me conselhos sobre alguns assuntos, ou mesmo informações que eu registava e utilizava meses ou anos depois, nas minhas crónicas.
Fica a saudade, sobretudo das nossas conversas desportivas, em que eu escutava atentamente a sua vontade em perceber o treino, no desenvolvimento da metodologia, contando-me como foi recolhendo pormenores ao longo da sua vida, como por exemplo, os treinos de Mário Wilson (o velho capitão) no futebol da Académica de Coimbra.
Fica também a homenagem pelo seu apoio às mais diversas modalidades e o reconhecimento, se tivesse sido vereador com pelouro, o desporto em S. João da Madeira teria ficado bem diferente, para melhor, claro.
(a publicar no dia 12/11/15)