As eleições intercalares em São João da Madeira eram o desfecho inevitável, atendendo à forte tensão em que se realizavam as reuniões da sua Câmara Municipal.
Em Julho deste ano, há precisamente 4 meses, antecipei este cenário e previ eleições em 2016, quando ainda se punha a hipótese de o orçamento municipal não ser aprovado e o município ter que viver em gestão por duodécimos, durante pelo menos um ano civil. Nesse artigo, na minha análise, adiantava que o PSD iria esperar pelo desfecho das eleições legislativas. Como qualquer resultado dessas eleições lhe seria favorável, este partido tudo faria para promover eleições intercalares no próximo ano, num contexto de fragilidade da oposição municipal, por boicote ao mandato iniciado em 2013.
O certo é que o resultado das legislativas em São João da Madeira, provou que o voto da direita regressou ao PSD e tal como era de esperar, algumas das suas principais figuras ficaram livres, por não integrarem as listas a deputados. Mesmo com a formação do atual Governo Constitucional, segundo se consta, de curto prazo, o próprio Dr. Castro Almeida, novamente nomeado para Secretário de Estado, passará a disponível para a disputa eleitoral que se aproxima. Em contrapartida, um governo PS atirará para Lisboa, alguns dos dirigentes locais.
Um cenário óbvio.
Bem avisou, o próprio diretor do jornal labor, Pedro Silva, em editorial publicado em Setembro último, apelando a que em lugar de lamentações, era preferível à oposição renunciar aos mandatos e provocar eleições intercalares, numa jogada de antecipação.
Tal não aconteceu, sem se perceber muito bem porquê.
O ardil dos 22 projetos de investimento implicava um paradoxo, tal como na literatura, na obra escrita por Joseph Heller, que intitula este texto. A questão em São João da Madeira, ainda era mais simples. Se aprovassem os investimentos, a oposição daria cobertura à política e sobretudo, às contas do município, validando os empréstimos, aumentando o endividamento, o que contrariava a sua versão, repetida até à exaustão, de que essas contas estavam “erradas”. Pelo contrário, ao reprovarem os investimentos, além de contrariarem as decisões anteriores, aprovadas em reunião, como o Plano de Atividades do presente ano, davam a oportunidade ao executivo PSD de demonstrar a vontade da oposição em boicotar a sua ação.
A escolha foi feita.
As consequências desta opção serão conhecidas a 24 de Janeiro de 2016.
Poder-se-ia escrever um pouco mais sobre as contradições do processo, nomeadamente os votos favoráveis e em sentido contrário passado uns meses, ou o voto aprovando um empréstimo de 1,7 milhões de euros e chumbando o empréstimo de pouco mais de 200 mil euros, por receio de utilização desta verba para outros fins, que não o acordado. Contudo, cada leitor já teve oportunidade de retirar deste imbróglio a sua própria conclusão, pelo que não acrescentarei nada a este ponto.
O importante agora é apelar ao bom senso eleitoral. Esperar que as forças políticas, partidos e movimentos, apresentem um programa eleitoral positivo, com propostas concretas para a cidade. Nestes dois anos, tiveram a oportunidade de conhecer os demais dossiers municipais, para agora apresentarem uma ideia de cidade, fundamentada em projetos concretos, projetando-a no futuro.
Será esta capacidade de distanciamento aos acontecimentos dos dois últimos anos, que será premiada pelos eleitores locais. Viver no passado, no que não aconteceu, no que não foi aprovado, na falta de consensos, na crítica, será penalizador.
Os eleitores cansaram-se dos episódios destes últimos anos. Aliás, estou convencido que a maioria deles, ainda não percebeu o que se passou nos Paços do Concelho desde 2013.
(a publicar no dia 05/11/15)