Os resultados das intercalares do último domingo podem ser explicados através da estratégia, do candidato, da equipa e da campanha eleitoral.
Tudo começou em Outubro de 2015, com o resultado das eleições legislativas. PSD e CDS concorriam juntos e os votos obtidos pela PàF em S. João da Madeira, permitiam traçar um cenário de vitória numas eventuais eleições intercalares. O voto de direita era superior ao voto do PS. Em época de “tempos novos”, a coligação à direita significava um confronto ideológico e nesse sentido, o movimento independente poderia ser esvaziado. A contrastar esta estratégia, à esquerda não houve coligações. Nem poderia haver. Por um lado, devido às duras trocas de ideias na Assembleia Municipal. Por outro, devido à teimosia de alguns partidos em concorrer sozinhos, não ponderando os ganhos ou as perdas ao assumir tal posição. Haveria uma terceira via, mais pragmática de o PS e o movimento independente concorrerem coligados. Tal cenário, sem ideologia a suportá-lo, seria de confronto eleitoral, só que os riscos para o PS seriam muitos, sobretudo na negociação dos lugares na lista.
Se a estratégia eleitoral do PSD / CDS era a melhor, o seu candidato era igualmente o que dava mais confiança ao eleitorado. Depois de andar dois anos a ser ridicularizado e mal tratado nas reuniões de Câmara e nas páginas da imprensa local, Ricardo Figueiredo aguentou tudo até a um determinado limite. Durante esse período ganhou experiência política, conheceu melhor a dinâmica da autarquia, estudou dossiers e viu a oposição a ser aquilo a que a sua essência de políticos de ambição local lhes permitia ser, opositores. Perderam-se milhões de investimento garantido e passaram-se dois anos a fazer encenações cínicas ou a apresentar requerimentos, não com o objetivo de ler a resposta, mas com a intenção de obrigar o presidente a responder. Em Outubro, Ricardo Figueiredo jogou a sua última cartada, permitindo aos eleitores acabarem com estado a que a Câmara Municipal de S. João da Madeira tinha chegado.
Acrescente-se outro factor extremamente importante, ao liderar como independente a coligação do PSD / CDS, Ricardo Figueiredo deu outra indicação à cidade: a preferência pela comunidade e não o partidarismo. Um sinal de reconhecimento dessa opção apareceu na sua Comissão de Honra. Vários dirigentes associativos declararam o seu apoio ao candidato da coligação, não precisando de o justificar.
Das listas apresentadas a esta eleição intercalar, considerando apenas as das forças políticas que elegeram vereadores em 2016, só a da coligação é que trazia novidades. A lista do PS não entusiasmou o próprio partido. Em contrapartida, o PSD recuperou dois dos seus antigos vereadores, com a ambição de os eleger, embora o 5º elemento fosse desde sempre considerado inelegível, como veio a acontecer. Esta diferença na constituição das listas marcou o processo eleitoral e permitiu à coligação encarar a campanha de forma mais positiva.
As maiores diferenças revelaram-se na campanha. Aparentemente não se viu nada de muito diferente. Cartazes, páginas na internet, artigos de opinião, ações de rua, comícios em espaços cobertos, visitas a empresas e a associações foram em tudo semelhantes.
Observando melhor, houve opções que diferenciaram os candidatos. Em primeiro lugar a mensagem política. A coligação pedia uma maioria, o PS insistia num tema já explicado e mal compreendido e apostava tudo no seu cabeça de lista ou candidato. Na internet, a coligação recolheu mais apoios do que o PS, embora neste campo, o Movimento independente tenha aparentemente vencido. No desenrolar da campanha, o PSD e CDS trouxeram figuras locais para a campanha. A título de exemplo, João Almeida, candidato pelo CDS em 2009 e em 2013 à Assembleia Municipal, passou mais dias em S. João da Madeira nestes últimos meses, do que naqueles dois anos. Além disso, outras figuras mediáticas vieram a S. João da Madeira, como Marques Mendes. O próprio futuro Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa fez referência às eleições locais, classificando-as como cruciais para a ambição política do partido. E claro, um presidente do partido estar presente num comício, não é o mesmo do que um presidente de câmara, ou um secretário de Estado.
Outro aspecto que importa focar é o calendário das ações. O PS abriu com um comício e a partir daí a campanha decorreu em ritmo lento, terminando sem chama. Em contrapartida, a sequência de ações de campanha, por parte da coligação, foi sempre criando novas expetativas e conseguindo maior mobilização, o que se refletiu nos resultados eleitorais.
Se a nível de cartazes, a coligação explicou bem porque é que havia eleições intercalares, apostando em divulgar o chumbo dos 22 projetos por parte da oposição, já o PS entrou em contradição com o discurso repetitivo das “más contas”, pois apresentou como compromisso eleitoral, candidatar a cidade ou a região a capital europeia da cultura, algo que em Guimarães custou cem milhões de euros em 2012. Relembrando que recentemente, o PS recusou um empréstimo de dois milhões euros, para a construção das novas piscinas.
Ricardo Figueiredo é de novo presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira. Está de parabéns. Terá pela frente um desafio imediato: reverter a posição do Ministério da Saúde relativamente ao Hospital. Neste capítulo, as eleições também lhe foram favoráveis, 54% dos eleitores, reais da cidade, votaram em forças políticas que defendem a devolução do Hospital à Santa Casa da Misericórdia. Um número inequívoco, que não deixa dúvidas sobre a real vontade da população.
(a publicar no dia 28/01/15)