quarta-feira, janeiro 13, 2016

Dias Cinzentos

                Um inicio de ano chuvoso, com dias e dias pardos e sem chama. Seguem-se registos avulsos, deixando pistas pelo meio, para o leitor perceber a desestruturação do texto:

1)      David Bowie foi um grande artista musical, com uma noção de performance fora de série. Criou personagens, recriou-se, lançou vários êxitos musicais. Descobri-o cedo. Não fui indiferente ao “Let’s Dance” de 1983. Um ou dois anos depois tinha acesso, por empréstimo, à sua vasta discografia. De uma assentada 10 LPS e o deslumbramento pela vasta obra ao meu alcance. Compilei algumas músicas em cassete de 90 minutos e ouvi-a anos a fio. Naquela época, importava-me mais a sonoridade e a estética. Havia muito de poses e colocação de braços em palco, que eram absorvidos. David Bowie era diversão. Quando numa discoteca, o dj entoava os acordes de alguma das suas músicas a solo, ou em dueto com MicK Jagger, ou os Queen, seguia-se uma noite memorável de dança. Um registo que se perpetuou no tempo, em especial, nas noites revivalistas. Aliás, confesso que fiquei mais descansado, quando verifiquei que os meus filhos, no seu percurso de descoberta musical, ficaram seguidores de David Bowie. Lá por casa ecoam as ligações de Major Tom para a torre de controlo. A referência a “Space Oddity” é deixada propositadamente para o final, pois durante algum tempo o misterioso lugar onde ficou Major Tom foi uma tentação a atingir. Em “Ashes to Ashes” do LP Scary Monsters, David Bowie redime-se, define o seu astronauta e essa mensagem, singela, é importante para toda uma geração que conviveu com a toxicodependência de perto e no entanto, preferiu viver sóbrio.

2)      6 dias em estado febril, sem hipótese de encostar à cama, para curar uma maldita gripe. Finalmente, o fim-de-semana trouxe o merecido descanso e a respetiva melhora. Em estado de cama, aproveitei para terminar a leitura da viagem de Naipaul (Prémio Nobel da Literatura em 2001) a quatro países que se converteram ao islamismo. Um regresso do escritor à Indonésia, Irão, Paquistão e Malásia, 16 anos após uma primeira vista. O evoluir das várias sociedades, as relações com o passado religioso de cada país, além da situação pessoal de alguns conhecidos do autor depois de 1979, ano da primeira visita. Sem me alongar muito, uma interessante leitura da tensa relação entre as várias fações do islamismo e que ajuda a perceber o conflito Arábia Saudita e Irão. 

3)      Marcelo Rebelo de Sousa impôs a presença de Pedro Passos Coelho em S. João da Madeira. Ao mencionar as eleições intercalares, como partidárias, o candidato eleitoral marcou a agenda. Além da visibilidade nacional transmitida às eleições municipais, todos os agentes políticos ficaram a saber porque é que o professor Marcelo dispensava a presença do líder do PSD na sua campanha eleitoral.

4)      Segui um debate entre dois candidatos presidenciais. Apenas um. A convição inicial não se alterou. A candidata Maria de Belém está a mais nestas eleições. Desde Agosto.

5)      O jornal “O Regional” publicou uma de três sondagens encomendadas para as eleições intercalares de S. João da Madeira. Certamente, outros jornais publicarão outras até ao dia 22 de Janeiro. Os resultados apresentados agradam a uns e logo os desagradados desdenham do estudo, da amostra, do método, etc. É assim a nível nacional, logo a nível local não haveria de ser diferente. Com tanto estudo de opinião a ser publicado até às eleições, todas as candidaturas conseguirão rever-se em algum e com isso acreditar na validade das sondagens.

6)      O parecer do Tribunal de Contas, sobre a passagem do Hospital para a Misericórdia de S. João da Madeira, era dispensável. A decisão em contrário já estava tomada pelo Ministério da Saúde, como se percebe. Serão meses de incerteza os próximos. Pela amostra dos últimos seis, serão meses de agonia para o Hospital.

7)      Mais um dado a acrescentar, para ajudar a captar os votos de militância e de protesto.