quarta-feira, maio 24, 2006

Poborsky!

O Campeonato de Mundo ou o Mundial é um momento único para o apreciador de futebol. O efeito deste Campeonato sobre as pessoas é inexplicável. Assisti em 2002 à transmissão do jogo de atribuição do 3º lugar, na companhia de dois fulanos de aspecto curioso. Um sem cabelo algum, todo rapado e com um sem número de tatuagens pelo corpo, mais uns brincos e os inevitáveis piercings. O outro tinha o cabelo grisalho, não muito comprido e encaracolado e usava um casaco largo, tipo boémio. Formavam um par curioso. Sentaram-se rapidamente, pediram umas coisas para pequeno – almoço e ali ficaram a vibrar com o jogo. Falavam uma estranha língua entre eles e festejavam os golos da Turquia exuberantemente. Nessa noite, ao assistir nos Jardins do Palácio de Cristal ao concerto de Goran Bregovic e a sua banda (Wedding and Funeral Band), fiquei aparvalhado quando reconheci os meus companheiros de jornada, nem mais nem menos do que o próprio Goran Bregovic (o grisalho) e o vocalista, Sacha (o tatuado), oriundos da ex-Jugoslávia. Para quem não sabe, aquele músico foi o autor da bandas sonoras dos filmes de Emir Kusturica e em parte, deve-se a ele a divulgação da música cigana oriunda dos balcãs.
Não se pense que para os aficcionados apenas os jogos interessam. Desde a fase inicial, a das convocatórias, até ao rescaldo final, tudo é absorvido. A loucura começa com a pressão sobre os seleccionadores para influenciar a convocatória. Na web, durante três meses circulou uma petição, sobre a inclusão de Maradona nos convocados da Argentina, com o objectivo do antigo “astro” jogar apenas 5 minutos. Não teve o efeito esperado mas, conseguiu reavivar a memória dos adeptos, em especial, aqueles que deliraram com os seus golos no Mundial de 86 e que nunca o esqueceram.
A divulgação das convocatórias tem como primeira reacção a contestação, o que é comum nos quatro cantos do mundo. As opções dos vários seleccionadores são contestadas por jogadores não eleitos e também por adeptos, que nesta fase ainda estão presos à cor do seu clube, considerando a não convocação deste ou daquele jogador como uma provocação. Com o desenrolar da prova, tudo se altera...
À contestação segue-se a surpresa. Uma série de nomes há muito esquecidos do nosso dia – a – dia, são convocados para a grande competição desportiva. Jogadores que alinharam em Portugal, nos mais variados clubes, outros que fizeram jogos fantásticos em Mundiais precedentes e que desapareceram sem mais nem menos.
Da República Checa chega-nos a notícia da convocação de Karel Poborsky. O ex-benfiquista, que actua na segunda divisão do seu país, no Ceske Budejovice, é uma das “surpresas” do seu seleccionador, juntamente com o avançado Jan Koller, o gigante do Borussia de Dortmund, que vem depois de sete meses de paragem devido a uma lesão no joelho esquerdo.
Poborsky surgiu no léxico português com um golo que retirou Portugal do Euro 96. Este nome soava a uma saudação eslava, um cumprimento fraterno de amigos e a isso mesmo foi adaptado. Uma forte exclamação: Poborsky, obtinha como resposta uma igual saudação.
A sua transferência para o Benfica foi uma novela do “está pago, não pagou, continua sem pagar” que caracterizaram os anos de presidência de Vale e Azevedo. A saudação de amigos passou a cântico monótono das claques de futebol. Esperava-se tudo da magia de Poborsky, no entanto, os anos passaram e o checo saiu sem grandes alegrias para recordar. Anos sem glória. Talvez por isso, a sua loja de artigos desportivos em Praga, segundo me contaram, não expõe nenhuma camisola do Benfica.
Poborsky depois do Mundial, será assim uma recôndita recordação. Um nome gravado numa camisola, guardada algures numa gaveta, até que a necessidade de espaço e o consequente arrumo, a colocarão de novo nas costas de alguém que ao ler esse nome, jamais perceberá o que significa.