Em meados da década passada, em Portugal, um novo conceito urbano surgia associado ao fenómeno da Expo 98. Várias cidades adoptavam e lançavam o programa Polis, esperando conseguir o mesmo que em Lisboa. A despoluição de pequenos rios, empedrando as suas margens, a recuperação de marginais, dotando-as com discotecas e bares, a construção de pontes para peões foram alguns dos projectos lançados.
Por todo o lado proliferaram zonas pedonais, ciclovias, pistas para “jogging”, “mecos” para evitar trânsito, além de outros pormenores arquitectónicos, como relvados decorados de forma arrojada, candeeiros e bancos peculiares, tudo isto com soluções demasiado semelhantes, aborrecendo a oferta e tornando-a sobretudo desportiva.
Para muitos municípios foi a oportunidade do programa Polis. Os não contemplados com o programa governamental, lançaram-se em projectos dentro do mesmo conceito - a criação de zonas de lazer.
Manuel Graça Dias – arquitecto – definiu assim todo este movimento: “(...)Depois, comecei a perceber que da maior parte das boas intenções anunciadas antes, quer por cansaço dos intérpretes envolvidos quer pelos costumeiros cortes orçamentais, iam desaparecendo as coisas diferentes e novas e só ia ficando o enorme manto igualitário e pobre a que ultimamente se chama “qualidade de vida”(...)”.
A vontade de adaptar novos conceitos urbanos na cidade, retirou legitimidade à zona pedonal do centro da cidade. As ruas, praças e largos classificados para esse efeito não servem para os tempos modernos. A ansiedade, bem portuguesa, de repetir as soluções de outros concelhos retirou-lhe importância.
Na década de 80 do século passado, S. João da Madeira passou a distinguir-se na região onde está inserida, precisamente pela transformação do seu centro – Praça Luís Ribeiro, Largo Santo António e mais algumas ruas com comércio instalado - em zona “só para peões”.
Ao seguir a tendência moderna, de dotar as cidades com lugares para desportos individuais, o centro da cidade sacrificou-se. Já tinha perdido comércio, em detrimento da Avenida Renato Araújo, pela inexistência de soluções de parqueamento de automóveis e prepara-se agora para perder mais visitantes nas suas horas de lazer.
A reposição de trânsito e consequente amputação da metade oeste da zona pedonal, descaracterizará de novo o centro.
A solução poderá ser a correcta, embora fiquem dúvidas na criação do novo espaço de lazer - Parque Urbano – e sobre o seu futuro, em especial, pelos serviços que irá oferecer, para além da possibilidade de se praticar “jogging”.
Para quem segue os lamentos legítimos dos habitantes e comerciantes da Praça, sente que nem tudo foi feito.
Em matéria de segurança nada foi projectado, nem executado.
A Zona Pedonal pelos últimos relatos está insegura.
Das forças policiais espera-se apenas e só uma acção: PATRULHAMENTO. Mais do que conselhos e políticas preventivas, os interessados por esta zona querem sentir-se seguros. Querem ver polícias na Praça e demais artérias. De preferência a pé.
A noção de patrulhamento parece esquecida dos compêndios da PSP local.
Se calhar, é tempo de se equacionar outras soluções para este local como: a Polícia Municipal ou a contratação de uma empresa de segurança, ambas devidamente enquadradas legalmente e financeiramente.
Para concluir, sem querer abordar o assunto do novo shopping, o conceito de zona de lazer que foi criado na Praça não foi devidamente ponderado ao longo dos últimos anos. A degradação foi chegando sobre várias formas: a inaptidão de parte do Parque América, quer pelo reduzido número de habitantes, como pela baixa ocupação de lojas; os edifícios degradados – agora demolidos; o desinvestimento em esplanadas; o eliminar de canteiros, arbustos e árvores; o encerramento de comércio, agências de bancos e seguros; a venda de droga; o aumento da insegurança. Para contrariar tudo isto, o grande investimento municipal, até à data, foi a transformação das artérias circundantes, implantando chapéus de ferro.
Todos estes sinais foram sendo captados pela população, que lentamente retirou dos seus hábitos uma ida ao centro. Para estes a Praça tornou-se em zona proibida.
(a publicar no dia 24/05/07)
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