quarta-feira, outubro 22, 2008

Prazeres de Outono

Retiro o segundo pé do chão e hop, sustento-me em cima da balança. No visor analógico, aparecem números há muito esquecidos. Ajeito melhor os pés, inclino de novo a cabeça, não há dúvidas, emagreci.

O meu peso actual afasta-me de ser considerado uma pessoa de peso excessivo, segundo o cálculo do índice de massa corporal e das categorias associadas.

Resultado de uma acção (ou princípio) na refeição que escrupulosamente tento cumprir: não repetir.

A esta restrição diária, com dias de trabalho, por vezes, bastante agitados, procuro nos dias amenos e solarengos de fim-de-semana aproveitar para promover passeios pedestres familiares. Um dos melhores prazeres desta estação.

O destino actual, enquanto a meteorologia o permitir, são os caminhos que limitam as águas da ria de Aveiro. Nas margens do seu estuário, uma diversidade de aves resiste à toxicidade, que impede a apanha de bivalves.

A observação ornitológica ganha contornos de programa familiar. O conhecimento aumenta e através dos binóculos aprende-se a distinguir várias espécies. O fascínio pela aves de rapina e especificamente pelas sagradas águias, são agora acompanhadas pela observação de flamingos, garças, cegonhas e pequenas aves limícolas, como a narceja (na foto), cujo nome surpreendentemente me foi assegurado pelo meu filho, agora com sete anos.

A felicidade de viver próximo de rotas migratórias permite seguir voos de patos, ou vê-los sossegados às centenas, a salvo de qualquer espingarda de mira afinada, devidamente protegidos dentro da reserva natural de S. Jacinto.

Tudo muda com condições climatéricas adversas. Com frio e dias de chuva, o corpo recolhe-se e surgem opções mais caseiras. Em resumo, petiscar e molengar.

Como estou um pouco afastado do limite máximo do índice de massa corporal da categoria saudável, posso encarar o Outono sem restringir a ingestão de alimentos hiper-calóricos típicos desta época do ano.

Os meus prazeres gastronómicos são pequenos e não incluem pratos especiais, nem típicos, nem tão pouco característicos. Ao profiláctico mel que me vai permitindo manter os níveis de saúde em estado razoável, acrescento algumas das preferências: o leite-creme queimado na hora; as enfarruscadas castanhas assadas devidamente encartuchadas; fatias de broa de milho, torradas, devidamente barradas com manteiga (ou derivados com menor índice de gordura); ou a sêmea (a eleita é a da padaria da rua de casa dos meus pais); tabletes de chocolate comidas à dentada; um doce que aprendi a apreciar na Beira Alta, nas cercanias das terras do Conde de Videmonte, doce de abóbora com requeijão. Tudo em doses apropriadas e se a ocasião o proporcionar. Em alguns serões opto por um copinho de Favaios, ou pelo néctar das encostas do Douro num pequeno cálice.

A possibilidade de praticar o direito à preguiça é que infelizmente me é vedada. Se nos dias quentes de verão, adoraria passar uma manhã de um dia de trabalho, junto ao mar, agora, numa destas tardes curtas e cinzentas, que se advinham sobretudo húmidas, gostaria de permanecer em casa optando por uma das várias actividades de lazer: ouvir discos antigos ou actuais; fazer zapping aleatório, à espera de algo que prenda a atenção num canal televisivo; sintonizar uma rádio, de preferência via internet; navegar pela blogada, deixando comentários ocasionais; decidindo-me pela leitura de um dos livros que aguardam vez na prateleira, ou pela escrita de um texto não tão “light” como este, com ideias mais calóricas. Para qualquer uma destas escolhas, o sofá da sala é sempre o melhor suporte.

Como essas tardes vão demorar muito a chegar, aproveito o melhor que posso os tempos livres, ou seja, o serão familiar, por vezes, já aquecido pelo fogo envidraçado.

Já nos fins-de-semana, espero que as condições climatéricas durante as horas de brilho solar sejam favoráveis ao passeio pedestre, senão, inventa-se outra actividade, em família.

(a publicar no dia 23/10/08)

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