quarta-feira, junho 16, 2010

Cabo das Tormentas

            O mundial de futebol é composto por quatro fases de apreciação distinta.  

            A primeira, face ao calendário dos primeiros jogos, é a da indiferença e termina, no final da primeira jornada de todos os grupos. Alguns dos jogos não têm entusiasmo nenhum, são aborrecidos, estão em confronto selecções com pouca qualidade e por tudo isso, terminam com poucos golos, ou na pior das hipóteses sem golos, obrigando o assistente a questionar a sua perda de tempo.

            As contas para o apuramento ou o afastamento prematuro são a fase seguinte. Na segunda e terceira jornada de cada grupo, fazem-se previsões de resultados, assiste-se a desaires das mais variadas e impensáveis selecções. É a fase mais longa. É extremamente curiosa as facções de apoio às equipas de países desportivamente menos consagrados. Conscientemente ou não, trata-se de uma escolha “terceiro-mundista”, atendendo a que muitos desses países são economicamente mais desfavorecidos.

            O entusiasmo continua com a fase das surpresas. Não corresponde apenas ao apuramento de países descritos no ponto anterior. A isso, junte-se o resultado inesperado em jogos dos oitavos e dos quartos de final, ficando o campeonato ao rubro. É a melhor parte da prova.

            O que se segue, meia-final e final são a fase seguinte, a histórica. O registo para a posteridade do campeonato mundial, dos seus campeões e das selecções melhores classificadas. Erguer o troféu, proeza até hoje conseguida por um grupo restrito de países, é considerado um feito repetitivo e por isso, em cada edição do campeonato do mundo de futebol, os favoritos à vitória são sempre os mesmos. Esta fase é muitas vezes enfadonha, culminando com as marcações de grandes penalidades para decretar-se o vencedor.

            Nos campeonatos em que Portugal é apurado, tudo muda. A emoção sobrepõe-se a qualquer racionalidade e o interesse principal dos adeptos portugueses é a prestação da selecção nacional.

            Em quatro participações de Portugal - duas esporádicas, a primeira na década de 60, outra na década de 80 e as outras duas correspondentes às últimas edições deste campeonato – existem dados coincidentes curiosos. Os bons desempenhos em território europeu, em 1966 em Inglaterra e em 2006 na Alemanha, 3º e 4º lugar, respectivamente. Eliminações, ainda na fase de grupo, em 1986 e em 2002, no continente Americano e Asiático - em que Portugal venceu o primeiro jogo, perdendo os outros dois a seguir. Outra coincidência, nos bons resultados, a selecção de Portugal foi sempre orientada por um seleccionador de nacionalidade brasileira. Com um seleccionador português, os resultados foram o que sabemos.

            Este é o histórico da participação de Portugal no mundial de futebol. A deste ano por ser ímpar vai desempatar os bons dos maus desempenhos. Os antecedentes históricos da selecção não auguram nada de positivo: campeonato fora da Europa e seleccionador de nacionalidade portuguesa. O único ponto atenuante para contrariar a história foi o empate no jogo inaugural.

            Nos próximos dias veremos se Bartolomeu Dias, navegador português, que ultrapassou pela primeira vez os limites do Oceano Atlântico, entrando em águas do Oceano Índico, baptizando esse promontório como Cabo das Tormentas, profetizou por vários séculos o encontro do seu povo, com o extremo a sul do continente africano. Ou pelo contrário, se a orientação do Rei D. João II, dando-lhe o nome que permaneceu até à actualidade - Cabo da Boa Esperança, é que estava certa.       

 

(a publicar no dia 17/06/10)

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