No prelo
Torre norte do World Trade Center, pelas 8 horas e 45 minutos do dia 11 de Setembro de 2001. O grupo de pessoas transportadas num dos elevadores desconhece o final da curta ascensão. Dos ocupantes, três mantêm uma amena conversa e os oito restantes escutam-nos, não revelando qualquer manifestação de interesse. A conversa é entre membros de uma organização não governamental, uma minoria de altruístas, por oposição à indiferença da maioria. John Duckley, defensor da livre circulação de pessoas à escala global - “em homenagem à minha origem irlandesa”, segundo o próprio – o seu entusiasmo contagiante, esconde um ser frágil, com um passado cheio de recalcamentos. Hadiya al-Marakibi uma exilada síria - procurando argumentos para contrariar a desigualdade da condição feminina no seu país de origem - alia o exotismo a uma falsa ingenuidade, tornando-se por isso, uma consistente manipuladora e uma forte negociadora. Jim Motion, advogado especializado em legalizar clandestinos, inconformado na sua actividade, persistente e cosmopolita é o cerne da narrativa. O contraste com os ouvintes mais preocupados com novos modelos de SUV, o obrigatório consumo de combustível elevado; ou com as rentáveis aplicações financeiras não chega a ser evidenciado pelo trágico acontecimento ocorrido segundos depois. O que sobra do relato é a diferença económica no mundo. As migrações humanas. O papel da religião como incentivo à guerra entre povos. O destino irónico de três filantropos que procuravam auxílio para a sua causa – direitos humanos nos países muçulmanos. A ascensão naquela manhã pode figurar como metafórica, relacionando-a com a duração da vida humana. Com o sentido da vida humana…
Umas linhas encarreiradas, preparadas para algo que exigirá um fôlego extraordinário e tempo, sobretudo, tempo para empreitadas criativas.
Por enquanto, limito-me a preparar a mala para as férias anuais. Este ano vou incluir três volumes do escritor local Manuel Córrego. Mais uns volumes de escritores nacionais, publicados na década de oitenta e mais uns quantos de autores estrangeiros. Para todos vou continuar a utilizar a técnica de leitura dos dois marcadores. Um indica a página que estamos a ler e o segundo marca o objectivo – que pode ser o final do capítulo, ou uma determinada página. Com este método, passei a rapidamente devolver livros à prateleira. Anteriormente utilizava a técnica de navegação Bojador - Boa esperança. Fácil de explicar, as primeiras páginas eram lidas sem grande velocidade, com grande sofrimento (correspondendo aos avanços dos navegadores ao longo da costa africana no século XV), até descobrir o rumo da prosa escrita (obviamente correspondendo à passagem do segundo cabo, acima mencionado). Raro era o livro com o fio condutor a ser descoberto no inicio.
Pode ser que haja uma melhoria pessoal na técnica da escrita e o alento para publicação de uma maior quantidade de palavras seja conquistado.
(a publicar no dia 22/07/10)
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