A frase “não devemos voltar a um lugar onde fomos felizes” é a atribuída a Agatha Cristhie. Não vou ajuizar os seus escritos, até porque não conheço o contexto da qual é retirada e isso é sempre importante para entender completamente uma citação. Extractos retirados da literatura não devem ser utilizados como mandamentos. Se tenho que voltar a um lugar, regresso. Não espero encontrar o que vivi anteriormente. O tempo não volta para trás. Por isso, a expectativa ao reencontrar os espaços já visitados, é procurar novas experiências.
Respondendo a um pedido dos meus filhos, voltei a acampar. Não o fazíamos há seis anos. Na hora da escolha do parque, não tive dúvidas. Numa aldeola da beira alta, concelho de Sátão, havia montado tenda para três, tendo o meu filho um ano e meio. Dois anos volvidos, regressei ao mesmo parque. A família com um novo elemento, estreando-se no campismo com um ano e três meses. Depois disso nunca mais armei tenda. Ingressar num parque de campismo, com todas as implicações associadas, só poderia ser no mesmo. Desta vez sem fraldas, sem sestas para crianças, sem biberões de leite, nem sopas apropriadas a idades infantis. Só poderia correr bem. E assim foi. O encantamento provocado nas crianças valeu o esforço. Sem qualquer memória de acampar, tudo lhes pareceu novo.
Existe quem tenha reescrito a frase com que inicio este texto, modificando-lhe o sentido “devemos voltar a um lugar onde fomos infelizes”. Sinceramente, penso já ter experimentado. Não por qualquer tentativa de modificar o curso da minha vida. Por acaso, por coincidência e de todas as vezes que regressei a um desses locais, fiquei com a sensação de me sentir mal, sem perceber muito bem o motivo. Contudo, se me apercebo de estar a cometer o mesmo erro, procuro tirar a melhor satisfação do meio que me envolve, para não ficar associado a experiências negativas.
Por falar em experiências, regresso várias vezes a algumas abandonadas no passado. Tenho a sensação que algo ficou por fazer e procuro completar. Já por aqui relatei a sensação de alegria que tive em saber a fórmula para resolver o cubo de Rubik. Experiência semelhante fui vivendo este ano, ao retirar do sótão de casa dos meus pais, o meu baixo eléctrico. As primeiras notas tocadas corresponderam a duas músicas da Joy Division. Ficaram em memória estes anos todos. Uma linha de baixo simples, do período urbano - depressivo. Recuei 20 anos, inscrevendo-me em aulas, para aprender um pouco mais sobre o instrumento e melhorar o meu conhecimento sobre música.
Haverá outras práticas que um dia poderão ser recuperadas. Da infância, ou da adolescência, como referido e começa a fazer sentido resgatar as experiências maltratadas da primeira idade adulta.
É curioso, até há dois anos, raramente olhava para trás.
Pode ser consequência da passagem do tempo.
Certo é que no dia em que se publica esta edição do labor, vou assistir ao concerto de Caetano Veloso, no Coliseu do Porto. Vinte e oito anos depois do seu álbum Cores e Nomes, um dos primeiros que ouvi insistentemente.
Boas Férias.
(a publicar no dia 29/07/10)
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