terça-feira, setembro 21, 2010

Barba de domingo

            Primeiro fim-de-semana, após o inicio do ano lectivo.

            O tempo ainda está quente, propício a jornadas no exterior. As roupas leves e frescas permanecem no corpo. A pele da cara pede descanso.

            Apesar do tédio de fim de férias, os miúdos ainda estão sem espírito para a rotina do tempo escolar. Como eu os entendo.

            Sou da geração das longas férias de verão. Os três meses completos e juntava-se ainda quinze dias de Junho, mais uma semana, por vezes duas, completa do mês de Outubro. Com sorte, quatro meses – a estes acrescentavam-se as paragens para férias do Natal, Carnaval e Páscoa. Cinco meses e mais uns dias de férias. Dava tempo para tudo. Em especial, para a preguiça.

            A mudança da hora, naquele fatídico último domingo de Setembro significava o fim das férias. Dias solares mais curtos e chuva. Recomeçavam as aulas. Poucos dias depois, os horários escolares eram afixados. A preocupação de comprar os livros escolares sobrepunha-se a qualquer outra necessidade. Horas livres passadas em livrarias com atendimento desorganizado, à espera da oportunidade.             

            Uma espécie de reforma – ou uma medida com nome similar – impôs um pouco de seriedade ao inicio do ano lectivo e lembro-me de começar um ano do secundário ainda em Setembro. Entretanto, com o ingresso no ensino superior, aprendi que um semestre correspondia afinal a três meses… de aulas, claro. Por pouco tempo, reconheço que nos últimos dois anos de estudante, as aulas começaram no inicio, mesmo no inicio, de Outubro.

            Tudo isto ficou para trás.

            As férias dos meus filhos ainda são grandes. Doze semanas só no verão. Os pais têm apenas quatro. A preocupação em ocupá-los nas outras oito semanas é desgastante e por mais ofertas que haja de campos de férias, o tempo em casa de avós é sempre uma solução a recorrer. Por ligações familiares, apercebo-me do período de férias semelhante entre progenitores e filhos em países como a Alemanha, no verão, quatro para seis (com mais uma paragem durante o ano lectivo, do que o nosso calendário escolar). Hábitos culturais - diferentes dir-me-ão - e o rigor do inverno, não desculpam tudo.

            Surpreso, fiquei há dois anos, quando me informaram que o ensino superior iniciava aulas na primeira semana de Setembro, ou seja, quase em simultâneo e nalguns casos primeiro que os restantes níveis de ensino. A produtividade alcançada não pode ser equiparada. 

            A aproximação do tempo de férias dos filhos, à realidade dos pais deveria ser uma preocupação de todos os que estão ligados ao ensino. Primeiro de Setembro, primeiro dia de aulas, já ajudava a encurtar essa diferença e a promover hábitos de trabalho diferentes na sociedade portuguesa.

           

(a publicar no dia 23/09/10)

Sem comentários: