quarta-feira, junho 20, 2012

Gerações

Dia de Portugal. Domingo à tarde. Em frente à televisão assisto à final do torneio Roland-Garros, em ténis. O espanhol Nadal está a vencer o sérvio Djokovic. A recuperação deste entusiasma-me. O jogo vai ser longo, a fazer lembrar a célebre final do Open de Austrália entre os mesmos dois jogadores.

Numa pausa, um pouco antes das 17 horas, aproveitada para exibição dos compromissos comerciais, mudo de canal. Assisto à entrada no relvado dos jogadores de Itália e Espanha. Ao ver o guarda-redes transalpino, fico curioso quanto à sua idade. Agrada-me saber que ainda é convocado e assisto ao seu entusiasmo a entoar a pleno pulmões a “Fratelli d’Italia”, hino do seu país.

- O Buffon tem 42 anos – asseguram-me.

Volto ao jogo de ténis, Djokovic continua a pontuar. Faz 1-2 e parte para o quarto set cheio de vontade de vencer.

42 anos. Ainda há jogadores de futebol no Europeu mais velhos do que eu?

Fico a pensar na idade do italiano. Enquanto isso, a chuva interrompe o jogo de ténis. Maldita. O jogo será retomado no dia seguinte. Às 12 horas. Uma hora imprópria para continuar a segui-lo.

Inconformado, retorno ao futebol.

Assisto aos golos. Às saídas em falso de Buffon e às suas excelentes defesas.

Lembrei-me dos 40 anos de Dino Zoff, o guarda-redes Italiano do primeiro Mundial que acompanhei religiosamente. Naquela época – 1982 - uma marca notável, coroada com a conquista desse título. Ainda recordei Peter Shilton, outro notável guarda-redes, este Inglês e sem o palmarés do italiano, mais conhecido por ter sofrido um golo apontado pela mão de Deus.

- O Buffon tem 42 anos – voltam a assegurar-me.

A idade dos jogadores de futebol e de outros atletas é entendida como uma fasquia geracional. O abandono da atividade desportiva é usual situar-se entre os 30 e os 35 anos. São raros os que prosseguem a prática desportiva depois dessa idade. Ao informarem-me da idade do Italiano, senti-me a rejuvenescer.

Djokovic perdeu o quarto set. Aproveitei a hora de almoço para espreitar um pouco o jogo. Ainda o vi a falhar por centímetros a possibilidade de evitar o tie-break. Nadal confirma-se como especialista em terra batida.

Sucedem-se as jornadas do Euro 2012. Portugal passa a vencer e apura-se para os quartos-de-final. Tal como os seus colegas da desgraça financeira: Grécia, Espanha e Itália.

O Euro absorve-me o tempo livre. O campeonato, ressalve-se. Sucedem-se dias a visualizar os jogos à hora de jantar. Atraso leituras, horas de escrita, por causa deste futebol. Faço contas aos grupos, aos jogos futuros, às possibilidades de encontros entre determinadas seleções e pelo meio, lembro-me de verificar qual a idade de Buffon.

34 anos, segundo a Wikipédia.

Como a fonte já foi mais fidedigna, procuro em site mais especializado e confirma-se, nasceu em 1978. Afinal, sou mais velho do que o guarda-redes italiano. Pesquiso as idades de todos os jogadores selecionados para este Europeu de futebol e verifico o que há muito sabia – já entrei na segunda idade.

Atento para outros pormenores deste Campeonato e recolho datas.

Giovanni Trapattoni orientou uma seleção na fase final do Europeu com 73 anos. Não conta reformar-se, antes pelo contrário, espera ainda ser apurado para o Mundial de 2014.

Uma outra fasquia geracional é afixada.

 

(a publicar no dia 21/06/12)