compilação dos textos publicados no jornal labor (www.labor.pt), de 2004 a 2020.
quarta-feira, outubro 30, 2013
Ser Lou Reed por um dia
quarta-feira, outubro 23, 2013
A necessidade
quarta-feira, outubro 16, 2013
Segunda Geração
Subo à Torre da Oliva, para assistir ao decorrer do Torneio de Xadrez da Associação Estamos Juntos. Enquanto venço os degraus, apercebo-me da grandiosidade do local e penso na relação do espaço físico com o jogo de xadrez.
Um torneio numa torre, um torneio numa peça de xadrez, um torneio num dos símbolos da cidade.
O xadrez é composto por figuras medievais desde há alguns séculos: Reis e Damas, clero, cavaleiros nobres, os castelos e suas torres, mais os numerosos peões, a sempre necessária infantaria. As torres a definirem os contornos do tabuleiro, a limitarem a batalha, a serem agora o espaço para os jogos, para o Torneio.
Ao entrar na sala do Torneio, na qual se alinham três longas filas de mesas, verifico a enorme capacidade instalada. Percorro o piso, vejo mais uma antecâmara adjacente e ainda mais um salão, com iguais dimensões à primeira. Começo a olhar para os intervenientes, os jogadores de xadrez, à procura de caras conhecidas, quase quinze anos depois do último torneio jogado. A custo identifico-os, sem me lembrar do nome. Verifico a mesa correspondente onde se senta cada um dos rostos identificados e recorro à tabela de emparceiramento afixada na entrada. Atualizada a memória, cumprimento pelo nome os conhecidos, que circulam pelo hall, compreendendo a sua dificuldade em se lembrarem de uma cara, esquecida num torneio de há década e meia.
As instalações impressionam pela qualidade. É a opinião recolhida. Expressa por mais dois espaços, onde estão montados tabuleiros para uso extra torneio, além de mesas onde cada um usa o seu portátil, os pais esperam os filhos, ou os mais novos se dedicam aos trabalhos escolares de fim-de-semana.
As conversas entre jogadores pouco mudaram – nos intervalos, ou nas pausas, fala-se de jogos, de posições das peças nos tabuleiros, para a qual a capacidade descritiva é suportada nas coordenadas do tabuleiro; revê-se lances e alternativas, tudo sem as peças à frente. A capacidade de cálculo a exacerbar-se.
Vivo o momento.
Revejo os passos dados pela secção para se chegar ao presente. A década de 90 comigo, os quinze anos seguintes, até ao presente, com o Albino Faria. Passos sequenciais, pequenos, com avanços e recuos, sempre com o mesmo objetivo desinteressado de servir a modalidade, permitindo o acesso a todos os interessados.
A Associação Estamos Juntos é hoje um notável clube de xadrez. Organiza torneios acolhedores, tem um prestígio competitivo apreciável, figurando na segunda divisão nacional, podendo sempre espreitar a primeira, como aconteceu há duas épocas. Desperta simpatia, pois são os jogadores que escolhem jogar pelas suas cores, como é o caso do próprio presidente da Federação Portuguesa de Xadrez, Francisco Castro, que se prepara para continuar a praticar a modalidade pela AEJ, por mais uma época. Além destes fatores, a AEJ continua a apostar na formação dos seus jovens jogadores. Tem escola montada, ensina os seus jogadores e conseguiu, na época que agora terminou, excelentes resultados, como o campeonato nacional de sub-18 em partidas semi rápidas, conquistado pelo Cláudio Sá. Este mesmo jogador confirmou o seu estatuto, ao terminar o nacional de partidas lentas, do mesmo escalão, em 5º. De igual modo, Rodrigo Ribeiro ao tornar-se vice-campeão nacional de sub-08, alcançou a mais brilhante classificação em provas lentas de um jogador deste clube. Estes dois jovens são filhos de jogadores que ingressaram na AEJ nos princípios da década de 90.
Para mim, ver a atividade do xadrez da AEJ, é gratificante. Tal como ouvir o presidente da Federação Portuguesa de Xadrez a projetar a organização de futuros Campeonatos Nacionais, para a Torre da Oliva, ou seja, uma recuperação de uma faceta da AEJ na década de 90, sendo também uma tradição de S. João da Madeira, já que em 1978, o Clube de Campismo organizou o Campeonato Nacional Absoluto, de tão boa memória.
(a publicar no dia 17/10/2013)
quarta-feira, outubro 09, 2013
Cucujães
quarta-feira, outubro 02, 2013
Sob o signo dos independentes
Existem várias formas de analisar os resultados numas eleições autárquicas:
a) Pela tendência de voto nacional, olhando-se para o maior número de câmaras municipais conquistadas por um determinado partido - chamando-se ao efeito onda, colorida conforme a cor do partido dominante na eleição.
b) Pela tendência de voto regional, existindo zonas geográficas com um grande número de câmaras conquistadas sucessivamente pelo mesmo partido.
c) Por outros motivos externos à eleição, como absentismo, votos nulos e brancos.
d) Pela diferença de votos nos vários órgãos autárquicos.
e) Pelos votos conquistados nas várias urnas.
Qualquer análise é plausível para justificar as tendências de votos, adaptando-se ou não, ao real resultado dumas eleições.
Se verificarmos os resultados em S. João da Madeira, não podemos falar em onda rosa, como se evidenciou no país, nem em vitória regional do PSD, pois no Entre Douro e Vouga, Arouca foi ganha pelo PS e Vale de Cambra, pelo CDS-PP.
Outros fatores externos: apesar do valor elevado de abstenção em SJM, de 50,7%, superior à média nacional, que foi 47,4%, ou seja uma diferença de 3,3%, que é um valor mais ou menos equivalente à percentagem que separou o PSD e PS na eleição da Câmara Municipal, não se pode chegar a qualquer conclusão, por não sabermos qual a intenção de voto destes absentistas.
Ao verificarmos a diferença de votos entre os vários partidos ou movimentos, na eleição para a Câmara Municipal e para a Assembleia Municipal de S. João da Madeira, temos os seguintes valores: PSD + 334 votos; PS + 75 votos; AD SJM + 27 votos; CDU – 173 votos; CDS/PP – 89 votos; BE – 105 votos. Diferenças a demonstrar que o candidato do PSD foi buscar os seus votos de vitória aos partidos que não elegeram vereadores.
Um voto disperso por órgão autárquico, uma forma democrática dos eleitores demonstrarem o seu (des)agrado aos vários partidos, ou pelo contrário, um sentido de voto a premiar o melhor candidato?
A fazer fé na sondagem do labor, editada na semana passada, os eleitores confirmaram a sua preferência, pois o estudo indicava que entre os dois candidatos, melhor posicionados para a vitória, Ricardo Figueiredo tinha a preferência dos auscultados.
Poder-se-ia ainda analisar os votos conseguidos em cada mesa, verificar se existe uma tendência de votos nos eleitores mais antigos na cidade e outra na juventude, ou nos eleitores recentemente recenseados. Confesso que ao seguir a emissão da rádio local, fiquei com essa ideia, no entanto, não consegui verificar tais resultados, por isso, não posso apresentar tais conclusões. Provavelmente na presente edição do labor, serão publicados os resultados parciais e assim, será possível intuir o que significa o somatório de votos de cada urna.
Ricardo Figueiredo saiu vencedor da noite de domingo. Não venceu sozinho, no entanto, encontrou um PSD demasiado confiante na vitória, provavelmente encantado pelos valores apresentados na sondagem de Agosto, o que lhe causou dissabores, ao perder maioria e freguesia. Os próximos tempos, atendendo à composição do executivo, serão de negociação democrática, na qual o perfil empresarial do presidente eleito poderá ser decisivo para a eficácia do seu mandato e consequente melhoria da cidade.
Luís Miguel Ferreira perdeu-se. A fragilidade do adversário, ao assumir os erros da gestão do seu antecessor em matérias como a Praça ou das rendas sociais, não foi aproveitada de forma assertiva. O discurso rondou sempre a politiquice, pouco cativante para 334 eleitores e há rótulos que são difíceis de mudar. No entanto, a concelhia do PS apresentou-se nestas eleições em grande forma, com mobilização interna e o resultado foi melhor do que há quatro anos, aumentando a votação em mais 500 votos, o que é significativo.
Jorge Lima foi outro dos vencedores da noite. Confesso que sempre fui cético relativamente a esta candidatura. Só quando as 1200 assinaturas recolhidas foram aceites pelo tribunal, é que passei a respeitar a vontade deste conterrâneo. Depois seguiu-se a campanha e os números que iam surgindo previam a eleição de um vereador. Como não conheço muitas pessoas e influenciado por relato de amigos conservadores, possíveis eleitores votantes em Jorge Lima, até previ um excelente resultado, com a eleição de um segundo vereador, suportado por uma hipotética sondagem que não vi, nem sei se chegou a existir.
Por fim, a terceira vencedora da noite. A independente Helena Couto venceu, pelo PS, a Junta de Freguesia. Um resultado extraordinário, premiando quem fez campanha para o órgão, apresentando ideias e programa eleitoral próprios. Antevejo um mandato de reforço e de redefinição das competências da Junta de Freguesia, algo que é reclamado há muito, assim como a dotação financeira, estabelecida na lei, essencial para o cumprimento do orçamento. A realização de um bom mandato, poderá projetá-la para outras lutas em 2017, a bem da cidade e da dita igualdade.
(a publicar no dia 03/10/13)