quarta-feira, outubro 16, 2013

Segunda Geração

                Subo à Torre da Oliva, para assistir ao decorrer do Torneio de Xadrez da Associação Estamos Juntos. Enquanto venço os degraus, apercebo-me da grandiosidade do local e penso na relação do espaço físico com o jogo de xadrez.

Um torneio numa torre, um torneio numa peça de xadrez, um torneio num dos símbolos da cidade.

O xadrez é composto por figuras medievais desde há alguns séculos: Reis e Damas, clero, cavaleiros nobres, os castelos e suas torres, mais os numerosos peões, a sempre necessária infantaria. As torres a definirem os contornos do tabuleiro, a limitarem a batalha, a serem agora o espaço para os jogos, para o Torneio.

Ao entrar na sala do Torneio, na qual se alinham três longas filas de mesas, verifico a enorme capacidade instalada. Percorro o piso, vejo mais uma antecâmara adjacente e ainda mais um salão, com iguais dimensões à primeira. Começo a olhar para os intervenientes, os jogadores de xadrez, à procura de caras conhecidas, quase quinze anos depois do último torneio jogado. A custo identifico-os, sem me lembrar do nome. Verifico a mesa correspondente onde se senta cada um dos rostos identificados e recorro à tabela de emparceiramento afixada na entrada. Atualizada a memória, cumprimento pelo nome os conhecidos, que circulam pelo hall, compreendendo a sua dificuldade em se lembrarem de uma cara, esquecida num torneio de há década e meia.  

                As instalações impressionam pela qualidade. É a opinião recolhida. Expressa por mais dois espaços, onde estão montados tabuleiros para uso extra torneio, além de mesas onde cada um usa o seu portátil, os pais esperam os filhos, ou os mais novos se dedicam aos trabalhos escolares de fim-de-semana.

                As conversas entre jogadores pouco mudaram – nos intervalos, ou nas pausas, fala-se de jogos, de posições das peças nos tabuleiros, para a qual a capacidade descritiva é suportada nas coordenadas do tabuleiro; revê-se lances e alternativas, tudo sem as peças à frente. A capacidade de cálculo a exacerbar-se. 

                Vivo o momento.

                Revejo os passos dados pela secção para se chegar ao presente. A década de 90 comigo, os quinze anos seguintes, até ao presente, com o Albino Faria. Passos sequenciais, pequenos, com avanços e recuos, sempre com o mesmo objetivo desinteressado de servir a modalidade, permitindo o acesso a todos os interessados.

                A Associação Estamos Juntos é hoje um notável clube de xadrez. Organiza torneios acolhedores, tem um prestígio competitivo apreciável, figurando na segunda divisão nacional, podendo sempre espreitar a primeira, como aconteceu há duas épocas. Desperta simpatia, pois são os jogadores que escolhem jogar pelas suas cores, como é o caso do próprio presidente da Federação Portuguesa de Xadrez, Francisco Castro, que se prepara para continuar a praticar a modalidade pela AEJ, por mais uma época. Além destes fatores, a AEJ continua a apostar na formação dos seus jovens jogadores. Tem escola montada, ensina os seus jogadores e conseguiu, na época que agora terminou, excelentes resultados, como o campeonato nacional de sub-18 em partidas semi rápidas, conquistado pelo Cláudio Sá. Este mesmo jogador confirmou o seu estatuto, ao terminar o nacional de partidas lentas, do mesmo escalão, em 5º. De igual modo, Rodrigo Ribeiro ao tornar-se vice-campeão nacional de sub-08, alcançou a mais brilhante classificação em provas lentas de um jogador deste clube. Estes dois jovens são filhos de jogadores que ingressaram na AEJ nos princípios da década de 90.

                Para mim, ver a atividade do xadrez da AEJ, é gratificante. Tal como ouvir o presidente da Federação Portuguesa de Xadrez a projetar a organização de futuros Campeonatos Nacionais, para a Torre da Oliva, ou seja, uma recuperação de uma faceta da AEJ na década de 90, sendo também uma tradição de S. João da Madeira, já que em 1978, o Clube de Campismo organizou o Campeonato Nacional Absoluto, de tão boa memória.

 

(a publicar no dia 17/10/2013)