A cultura foi manchete nos jornais locais nos últimos meses.
As inaugurações dos requalificados edifícios emblemáticos da cidade, intercalaram atenções com a sustentabilidade financeira de um deles e com o enquadramento orgânico das estruturas de ensino, ou de formação, de índole municipal.
A elevação qualitativa da oferta cultural é o resultado do forte investimento municipal em estruturas físicas. Em simultâneo, desenvolveram-se competências na área das artes cénicas e tornou-se efetivo o protocolo de cedência da coleção de Norlinda e José Lima.
O deslumbramento, transmitido pelas várias obras expostas, transportam-nos para outras dimensões, ficando a curiosidade em conhecer o restante espólio destes nossos conterrâneos.
Boas práticas, as de quem partilha e as de quem apetrecha um espaço municipal, com obras tão importantes da arte contemporânea.
A concretização, nos próximos meses, de outras valências do projeto da Oliva Creative Factory permitirão enquadrar a sua atividade cultural num patamar bem alto, ao nível das principais capitais de distrito do nosso país.
O atual estado inacabado da OCF confere-lhe um enorme potencial para a organização de eventos. Um promotor nacional, que me acompanhou na visita, projetou 15.000 pessoas em três dias, calculados para um festival de índole, digamos, gastronómico.
O sucesso latente da reconversão dos pavilhões e arruamentos da antiga metalúrgica não esconde os problemas antigos da animação cultural da cidade.
Na mesma semana, em que o Doutor Manuel Pereira da Costa, com o seu reconhecido mérito cultural, enalteceu o trabalho do programador da Casa da Criatividade, Fernando Pinho, os jornais locais relatavam os propósitos da nova vereação relativamente a esse profissional. O contraste, entre os elogios do prestigiado escritor local à atividade do programador e as desconfianças patenteadas pela vereação, foram evidentes.
De um lado a sensibilidade artística, o gosto em comum pela arte dramática, o reconhecimento pelas capacidades de encenação, com encomendas de peças para Inglaterra, do outro o ataque político, o imiscuir-se na programação, o aniquilamento de um agente da cultura.
Não se pode exigir sustentabilidade financeira a um espaço cultural, quando este tem seis meses de vida, estando ainda a verificar o seu público-alvo, a verificar o tipo de concertos ou espetáculos adequados à população e tudo isto, dentro do enquadramento orçamental anunciado há mais de dois anos.
Existem várias equações no modelo da sustentabilidade financeira da Casa da Criatividade. Não nos podemos esquecer da conjuntura económica atual, da constante oferta de concertos de entrada gratuita promovidos por autarquias e comissões de festas, que limitam a procura a espetáculos de ingresso pago. Acredito que os 400 lugares da CC poderão não ser suficientes para gerar a receita suficiente para a despesa, em alguns espetáculos.
Por isso, considero prematuro o julgamento a que está sujeito Fernando Pinho, lembrando outras perseguições a que no passado foram sujeitos outros agentes culturais da nossa cidade. Nomeadamente Helena Cruz, após um excelente trabalho de democratização da Biblioteca Municipal Renato Araújo, permitindo o acesso à literatura nacional contemporânea, divulgando prosadores e poetas nacionais. O seu trabalho, em lugar de reconhecimento, foi reprimido pelas suas opções políticas, uma atitude pouco democrática e intolerante, afastando-a da sua atividade profissional.
À semelhança de Nelly Santos Leite, interessada em divulgar música, em formar alunos, dentro dos exigentes padrões reconhecidos pelo Ministério da Educação e constantemente posta em causa, por algo a que não deveria estar sujeita, a gestão financeira da Academia de Música. Neste caso, de meritório desempenho pedagógico, o enquadramento orgânico desta estrutura de formação municipal, deveria ser outro. Para a Academia de Música de S. João da Madeira devia-se encontrar uma solução jurídica autónoma, atendendo às suas instalações próprias, ao seu objeto, ou fim a que se destina. Obviamente que a parceria com a Câmara Municipal deve ser mantida e privilegiada, conseguindo-se uma solução que afaste a Academia dos problemas financeiros, a que infelizmente tem estado submetida. Uma maximização de receitas, instituindo quotizações, entre outras medidas, poderão libertar a Academia de Música da asfixia a que tem sido sujeita nos últimos anos e transmitir a tranquilidade a todos os seus profissionais, incluindo a sua diretora.
(a publicar no dia 21/11/2013)