quarta-feira, abril 23, 2014

A centralidade

A colocação de várias soluções para o centro da cidade é confundida por vezes, com o conceito de centralidade.
                O investimento público, assim como, o municipal são os fatores normalmente evocados para desencadear a centralidade de uma região. Acrescente-se a iniciativa privada.
A estes, deve-se ainda equacionar o fluxo de pessoas.
As acessibilidades, como rodovias, portos e ferrovias, foram durante anos tidas como importantes para o desenvolvimento de centro regionais. Em simultâneo a abertura de valências do Estado, com construção de edifícios - como tribunais, hospitais, esquadras de polícia ou quarteis das forças da Defesa – e também a indexação de repartições públicas e delegações regionais, ou subdelegações, incluindo lojas de cidadão, tem sido um fator para a criação direta de emprego em várias localidades. Esta última modalidade acarreta ainda o emprego indireto, associado às profissões liberais inerentes ao funcionamento das valências do Estado.
A concentração de edifícios públicos e deste emprego, que caraterizam a maioria das capitais de distrito do interior do país, foi a ambição de várias municípios, evidenciando assim a sua centralidade relativamente aos concelhos vizinhos.
Por outro lado, o investimento municipal, ou em parceria com o Estado - aproveitando verbas comunitárias - em equipamentos diferenciadores como piscinas, pavilhões, bibliotecas, mercados, centros de arte, jardins ou parques públicos, plataformas rodoviárias, além da criação de incubadoras de empresas, permitiu acentuar a centralidade dos mais variados concelhos.
                O processo económico, com o desenvolvimento de indústria, comércio e serviços, responsáveis pela criação de emprego e fixação de população, implicando a construção de habitação, é outro factor utilizado para definir centralidade. Embora, hoje em dia, atenuado pela proliferação de zonas industriais disseminadas por todo o território nacional. Ainda assim, qualquer espaço concentrando comércio e lazer, é indicativo pela criação de emprego e pela atractividade da população nas suas horas de descanso.
                 A posição geográfica de um município relativo a outros é um dado objectivo de centralidade, esquecido na maioria das análises da questão, por alavancar a questão das acessibilidades e outra não menos importante, o fluxo de pessoas, o âmago deste texto. 
As migrações são diárias devido ao emprego, embora não conclusivas da centralidade, devido à alteração do tecido económico dos últimos anos. O abastecimento em grandes superfícies também não permite tirar conclusões, atendendo à proliferação de vários na região.
Os equipamentos diferenciadores são apelativos e traduzem-se em focos de interesse da população. Cada um tem a sua época, alguns apenas devido ao pioneirismo e por isso, vai sendo repartida a atração regional por diferentes camadas da população e por vários dos concelhos circunvizinhos.
Na actualidade, a cidade torna-se atractiva pelo shopping, em parte pelas cinco salas de cinema, pela piscina exterior no verão, pela potencialidade da Oliva Creative Factory e pela capacidade de promover espectáculos na Casa da Criatividade.
Não é pouco.
Há movimentações interessantes, como por exemplo, as festas relativas aos institutos superiores de Santa Maria da Feira e Paços de Brandão, as chamadas Queima das Fitas, serem realizadas este ano em S. João da Madeira, mais concretamente nas instalações da antiga metalúrgica. Ou mesmo a hipótese de uma academia de dança de Santa Maria da Feria poder utilizar a Casa da Criatividade, para o seu espectáculo final, é outro indicador da abrangência regional dos equipamentos municipais.
Curioso é a afluência de pessoas às ruas da cidade, em dias de festejos da conquista de campeonato nacional de futebol. Uma concentração espontânea, atraindo populações de povoações vizinhas, à qual tive oportunidade de assistir (participando). Comparando com as imagens recolhidas em outros locais do país, não fica atrás de algumas capitais de distrito fotografadas ou filmadas, neste último domingo. 
É redutor acreditar que o centro de S. João da Madeira se resume apenas ao espaço físico da Praça Luís Ribeiro. O movimento centrífugo, incluindo o ordenamento territorial, retirando munícipes do centro, implicou a expansão das competências da cidade e o alargamento dos seus faróis de importância.
A centralidade pode ser um processo não linear.
Há aspectos históricos e de evolução das povoações, às quais as populações estão agarradas e dificilmente serão ultrapassados.
Há o Porto.
A grande cidade. A sua proximidade torna-a imbatível na capacidade de aglutinar e de centralizar.
O verdadeiro centro da região, da Área Metropolitana, onde 17 concelhos estão inseridos, por vontade própria. Um dos quais é S. João da Madeira.
 
(a publicar no dia 24/04/14)

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