quarta-feira, março 09, 2016

Inquietações poéticas

                Nos próximos quinze dias, a cidade respirará poesia.

                Como os demais anos, a Câmara Municipal promove uma nova edição da iniciativa “Poesia à mesa”. A programação continua a ser diversificada e este ano é um pouco mais ambiciosa.

Existe uma clara aposta da autarquia em Poesia, que não se limita à actividade programada para os próximos dias. O concurso literário “João da Silva Correia” é um bom exemplo dessa promoção.

É bom recordar que, durante anos, a Câmara Municipal de S. João da Madeira procurou investir no património. Identificados os edifícios com interesse municipal, houve dinheiro para a sua aquisição, reabilitação ou restauro e abertura ao público. Praticamente, ano após ano, sucederam-se os investimentos: ampliação da biblioteca municipal; transformação de edifícios a precisar de regeneração, finalizando-os, como os Paços da Cultura, o Museu da Chapelaria, a Casa da Criatividade e mais recentemente com a entrega à cidade da Oliva Creative Factory. Pelo meio, é importante não esquecer a reabilitação das instalações da Academia de Música. Nem, muito menos, as novas instalações da Banda de Música no espaço onde em tempos funcionou o Auditório Municipal. Nesta enumeração, temos que incluir dois edifícios que apesar de restaurados, não conheceram o mesmo fim que os restantes. Refiro-me à Quinta do Rei da Farinha e ao Palacete dos Condes (este praticamente reconstruído), ambos desocupados desde há anos, estando a sua futura ocupação a ser finalmente planeada.

Este cuidar do património, exigente em termos financeiros, foi completado durante todos estes anos com os diversos apoios às associações e iniciativas culturais, algumas destas avulsas. Neste sentido, pela sua longevidade e singularidade, a “Poesia à Mesa” ganhou o seu espaço. Primeiro por ser uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal, quando o normal é haver um proponente e a autarquia subsidiar. Segundo pela sua afirmação no calendário municipal de eventos. Finalmente, por este evento ter sido assimilado pela população.

A compreensão dos habitantes da cidade não se limita à participação no programa, quer como assistentes, ou pendurando poemas, ou declamando os seus trabalhos. Existe mais actividade, que extravasa a “Poesia à mesa”.

Logo no início do texto, terceiro parágrafo, referi o Concurso Literário João da Silva Correia. Como é do conhecimento geral, nos últimos anos, este concurso inicialmente previsto para trabalhos de prosa e poesia, apenas tem premiado poemas. Essencialmente pelo número de trabalhos apresentados nas primeiras edições do Concurso. Este sinal de vitalidade da população, ainda hoje se mantém e teve uma maior visibilidade com as informais tertúlias de poesia. As “Fugas poéticas”, idealizadas e concebidas por um grupo de cidadãos, tem sessões regulares ao longo de todo o ano. Curiosamente, em diversos locais da cidade. Chegando a haver por parte de estabelecimentos comerciais o expressar de vontade em albergar as ditas “Fugas”, o que traduz a capacidade da poesia em ser cartaz cultural e ter público para a ouvir.

A expressão artística fica registada, para a posteridade, nas publicações nas páginas dos jornais locais de poemas avulsos de diversos autores. É igualmente importante referir a edição de poemas compilados em livros, que alguns poetas ousam propor aos restantes cidadãos. 

Se houvesse dúvidas sobre o efeito da iniciativa “Poesia à mesa”, por parte da Câmara Municipal, o facto de ter despontado toda esta energia na população (e sua desinibição) é um sinal de uma política cultural bem conseguida.

 

(a publicar no dia 10/03/16)