Nas últimas três semanas salientei algumas das práticas culturais da cidade. Ao longo desses três artigos, comecei por focar a relação do Estado, através das Escolas e do ensino articulado, não esquecendo as atividades extracurriculares, como o teatro. Na semana seguinte, evidenciei como uma boa prática da Autarquia, a “Poesia à Mesa”, tinha sido bem assimilada pela população, que formou um grupo informal de declamadores de poemas. No texto da semana passada, debrucei-me sobre as associações e sua dedicação à promoção da cultura, quer como organizadores de eventos, quer como praticantes das mais variadas artes, ou mesmo, como formadores.
Para esta semana reservei um outro tema, ainda cultural, sobre o produtor de arte. Onde se enquadra o produtor individual de arte, nestes conceitos coletivos (turmas, grupos e associações) existentes na cidade?
Escritores, músicos, pintores, fotógrafos, escultores, poetas, ilustradores, cineastas, atores, bailarinas, desenhadores, entre outros, sem mencionar algum em particular, foram sendo referenciados ao longo dos anos pela imprensa local. Alguns fazem parte da comunidade local. Outros vivem fora da cidade, dedicando-se à arte como profissionais. Vários foram galardoados nas suas áreas de atuação. Um sinal de mérito na opção de uma forma de vida.
A cidade em algumas áreas oferece formação: a preferência no secundário pela área de artes é possível na cidade; a Academia de Música ensina vários instrumentos, com uma componente teórica associada; o próprio Centro de Arte tem cursos para vários escalões etários, em áreas como pintura, fotografia, banda desenhada, desenho e serigrafia. Não esquecendo as aulas de dança nas Academias Liliana Leite e Luísa Mendonça, assim como, o ensino da Banda de Música de S. João da Madeira.
Se aqueles que recorrem a estas instituições têm oportunidade de fazer apresentações ao público dos seus trabalhos, ou do seu desempenho enquanto instrumentista, o cenário é um pouco mais dificultado para os outros.
É certo que sempre existiram espaços comerciais com vertente de galeria, exibindo nas suas paredes quadros com pinturas, desenhos, fotografias, tapeçarias ou azulejos de artistas locais ainda sem nome no mercado da arte. O mesmo acontecendo nas exibições de grupos musicais, que atuam por vezes em espaços comerciais de horário noturno.
A Biblioteca Municipal neste capítulo tem sido sempre uma boa montra para os novatos artistas locais.
Nos últimos anos, com a difusão da animação de rua, vários artistas passaram a dedicar-se às artes circenses. Obviamente, que a rua é o melhor local para a sua exibição. Espontâneo, ou organizado por associações, ou mesmo pela Autarquia vão surgindo episódios destas manifestações.
A criatividade ganhou espaço próprio na cidade. A vertente empresarial ocupa um grande espaço na antiga Oliva. A exposição dos vários negócios foi uma preocupação bem conseguida, com a abertura das portas para divulgação ao grande público.
São estas sinergias que são importantes conciliar. Aproveitar a atividade das empresas criativas, da animação de rua, dos artistas individuais, dos grupos informais, dos alunos das várias instituições de formação e mesmo das escolas privadas e organizar um evento no espaço da Oliva Creative Factory. Aberto ao público, com o objetivo de exibir a capacidade artística dos nossos conterrâneos.
No fundo, não é nada de novo. É recuperar a ideia que esteve na génese do espetáculo “Raízes”, que infelizmente se perdeu. Conferindo-lhe na atualidade um grau de transversalidade às várias artes, como teve o evento organizado pela Associação Estamos Juntos, em 1989, intitulado “Adeus ao Verão”.
Como prefiro o modelo deste último, nada melhor para finalizar, do que propor a adaptação dum evento desta natureza ao calendário de festejos da emancipação da concelhia.
Votos de boa Páscoa.
(a publicar no dia 24/03/16)