Ao longo dos últimos anos, este festival tem recebido várias e justificadas apreciações positivas.
Recompilando alguns desses elogios:
a) Destaque para a programação, pela mistura dos grupos escolares com grupos amadores locais e dos concelhos vizinhos, acrescentando-se grupos profissionais de âmbito nacional;
b) Enaltecer a iniciativa da organização, da Escola Secundária Dr. Serafim Leite e pela liderança do processo consecutivamente desde a primeira edição;
c) O interesse em inovar em cada edição, envolvendo novos parceiros e aproveitando os recursos físicos da cidade;
d) A metamorfose operada nos elementos dos grupos escolares e dos amadores, em especial, pelo surgimento de dramaturgos, encenadores, construtores de cenários e de guarda-roupa;
e) A transfiguração no palco dos atores, com óbvia referência para os estudantes, sem desprestígio para os restantes escalões etários.
Este último ponto merece um maior desenvolvimento.
As artes cénicas desenvolvem competências como memória, capacidade de enfrentar plateias, oratória, dicção e expressão corporal, entre outras. Ver alunos, adolescentes a ter as primeiras experiências de representação dramática, de aptidão para a interpretação de personagens é congratulador. Nos palcos do Festival de Teatro verifica-se que a Escola é capaz de transmitir algo mais do que os conhecimentos existentes nos manuais escolares. Qualquer das competências atrás descritas são extremamente importantes no desempenho do jovem enquanto estudante e depois entrando no mundo profissional, ainda mais valorizadas serão.
Numa época em que começa a ser questionado o ensino para a nota, ou seja, reduzindo-se essencialmente à aferição por testes, a participação de alunos em atividades extracurriculares são um bom argumento para os defensores de outro modelo de avaliação. Neste capítulo, o Festival de Teatro e os grupos escolares demonstram assertivamente que existem outras formas de adquirir conhecimentos e competências.
A expressão artística dos jovens alunos de S. João da Madeira não se limita às atividades extracurriculares. É sobejamente conhecido o ensino articulado de música. Mais publicitado por os piores motivos: falta de verbas para pagamento aos professores, atraso nesses pagamentos e mesmo, no inicio do presente ano letivo, redução do número de turmas a criar no ensino de música. Apesar destas dificuldades, os jovens vão progredindo os seus estudos e começam a surgir atuações diferenciadas. O calendário de apresentações ao público vai sendo incrementado, sob a égide da Academia de Música de S. João da Madeira, agendando-se mais espetáculos, como o organizado na semana passada na Casa da Criatividade.
No contexto do ensino articulado, um parágrafo final para a dança. S. João da Madeira é destino de muitas jovens dos concelhos vizinhos que optam por esta arte, inscrevendo-se na Escola EB 2/3. Esta forma de expressão, manifestada em cultura urbana, tem um enorme potencial de apresentação ao público, que em meu entender ainda não saiu dos muros da referida Escola. Há um potencial enorme, sem esquecer a centralidade, proporcionada pela opção de se estudar na adolescência na cidade, em promover a dança em espaços municipais para a divulgação ao público. Se quiserem ter uma ideia da dimensão destas manifestações urbanas, podem assistir no próximo sábado à noite, no Pavilhão das Travessas, ao Campeonato de Hip Hop e tirar as devidas ilações.
(a publicar no dia 04/02/16)