O equinócio de Setembro não deixou dúvidas, dia de chuva, para recordar a todos que o Outono tinha chegado.
Adeus dias escaldantes.
Na viagem matinal e apressada rumo à escola dos filhos, recordo as férias grandes. Meses e meses, sem aulas. Houve um ano com quatro, de 15 de Junho a 15 de Outubro. Quando chegavam os dias de chuva, sabíamos que as férias estavam a terminar. A hora recuava em final de Setembro, o que tornava as tardes mais curtas. Era o último sinal para o fim de férias. O ano lectivo era o nosso principal calendário.
A escola para quem é pai, é hoje sobretudo uma recordação. É certo que existem as várias preocupações. Analisar, avaliar e comentar as escolas e os professores. Escolher um sem número de actividades extra escolares: desportos, formação física, musical, linguistica, etc., que julgamos serem as adequadas para os nossos descendentes. Contudo, este tempo de regresso à escola, encaminha-nos para o reino da nostalgia.
Percebemos a alegria dos nossos filhos, pois recordamos a alegria do que era voltar a ver amigos, colegas, professores e demais pessoal envolvido, caras que perdemos o contacto visual, com o tempo. Nomes que são hoje apenas uma memória, que sabemos vivos, embora sem saber o seu paradeiro. Nada sabemos deles, o que julgávamos impossível nesse tempo.
É verdade que os primeiros anos escolares são os mais apreciados. O novo mundo que nos é ensinado e o fascínio proposto, não tem comparação com os demais anos. A partir da adolescência, a escola fica para segundo plano, pois o tempo livre é mais apreciado e aproveitado para outros interesses.
No período após as aulas, ou no intervalo das mesmas, enquadramo-nos com pessoas com afinidades comuns. O grupo de amigos, que nos irá acompanhar pelos anos seguintes, até sairmos para outras cidades, para seguirmos os estudos e optarmos por uma actividade profissional.
Os primeiros dias de Outono, logo chuvosos.
Afinidades com uma música de Tim e Zé Pedro. Entre a “chuva dissolvente”, verificamos que de todas as artes, a música é das mais nostálgicas. Acompanhamos novidades da sétima e de outras artes. Não conseguimos seguir, descobrir a música do momento e as tendências actuais. Invariavelmente, voltamos ao passado. Enquanto adolescentes, convivemos com gerações que tinham feito todas as revoluções, políticas, culturais e outras. Não entendíamos a constante referência a grupos musicais surgidos em décadas anteriores. Agora, recordamos e assinalamos as duas décadas da edição de alguns LPs do nosso tempo. Músicas sem videoclip obrigatório, porque a rádio era o principal meio de divulgação. Ouvir novamente a fantástica sonoridade de “How soon is now?”, dos The Smiths vocalizado por Morrissey, ao fim destes anos todos, é um puro acto de desespero. Passar alguns minutos a olhar para prateleiras de discos de vinil com capas em tamanho grande, é sobretudo uma recordação de uma actividade de juventude. O entrar da agulha em cena, com aquele barulho característico, tipo fritar de batatas, por mais escovada que aquela estivesse , ou limpo o vinil. O ouvir uma sequência 5 ou 6 faixas e repetir novamente aquele gesto, que no fundo era um ritual, para o lado B.
Esperamos os dias secos e quentinhos de Outono. A vontade de regressar aos espaços naturais. As praias próximas serão de novo itinerário, já desprovidas de domingueiros. Mais as subidas à serra, que já se deve ter “limpo” das atrocidades do verão.
A grande cidade ganha nesta época uma atracção maior. Os seus jardins e parques, envolvidos pela paisagem urbana. Pelas folhas caídas das grandes árvores, pela oferta que nos proporciona. Percebemos porque é que alguns dos nossos amigos, colegas de escola jamais voltaram à terra natal. Felizes, apesar dos contratempos do trânsito confuso. De longe, prefiro a vida recata da província.
Outono, cobertores de volta. Edredões para os mais friorentos. As primeiras constipações que degeneram em gripes. Iniciamos a preparação para o aquecimento caseiro pelo fogo envidraçado. Até haver essa necessidade, ainda escrevo mais umas linhas. Certamente.