quarta-feira, abril 18, 2007

ALLGARVE

Desiluda-se quem pense encontrar neste texto alguma abordagem à recente campanha turística preparada pelo Ministro da Economia, para promoção da região do Turismo do Algarve.
Tão pouco alguma alusão ao conceito turístico desta cidade.
Daquela região surge um bom exemplo de divulgação das principais actividades culturais, um cartaz: anunciando os eventos, os concelhos, as datas associadas e o local de realização. É usual aparecer nos jornais nacionais, diários ou semanários, em jeito de publicidade e obviamente são espalhados vários painéis por toda a região.
Esta forma de promoção cultural colectiva dos vários municípios da região Algarvia é a forma adequada de como deve ser feita a programação cultural. Em actividades calendarizadas em concelhos próximos, deve existir a preocupação de não sobrepor actividades no mesmo dia, por vezes fim de semana e nalguns casos, semanas.
Trata-se apenas e só de programação integrada entre vários concelhos, uma vertente que infelizmente a sub-região Entre Douro e Vouga nunca abordou. É corrente nesta região surgirem coincidências fantásticas, com justaposição de datas de eventos, festivais, concertos, entre outros, que infelizmente só prejudica o promotor, o espectáculo ou a actividade, além do público e dos artistas, obviamente.
A concepção cultural merecia nova atenção à programação do auditório dos Paços da Cultura. Na semana em que se realiza uma louvável iniciativa – Festival de Teatro - nunca é demais lembrar que a inércia na programação deste espaço, continua a ser a legenda da política cultural da cidade. Dois anos depois da sua abertura, os hábitos culturais da cidade não se alteraram substancialmente. A propagada “grande actividade” continua com um ritmo lento. Depois de um prometedor arranque, o número de espectadores por mês, bem como o número de espectáculos promovidos em igual período não são muito encantadores. Sobretudo, servindo-nos desses números para justificar o grande investimento que será a recuperação do antigo Cinema Imperador transformando-o em Casa das Artes do Espectáculo (CAE).
Procurando por outra via essa justificação, tendo como base uma série de antigas salas de cinema, ou de teatro restauradas nos últimos anos em vários pontos do país, mais uma série de equipamentos construídos de raiz para o efeito, os dados da capacidade dessas Salas de Espectáculos e o número de habitantes desses concelhos (segundo a Wikipédia) são os seguintes:
Guarda : 44.084 habitantes - Teatro Municipal 626 lugares;
Vila Real: 49.957 habitantes – Teatro de Vila Real 500 lugares;
Faro: 57.151 habitantes - Teatro Municipal 794 lugares;
Figueira Foz: 62.601 habitantes – Centro de Artes 800 lugares;
Aveiro: 73.335 habitantes – Teatro Aveirense 632 lugares;
Viseu: 96.810 habitantes – Teatro Viriato 300 lugares;
Famalicão: 127.567 habitantes – Casa das Artes 500 lugares;
Coimbra: 168.105 habitantes - Teatro Gil Vicente 773 lugares;
Braga: 170.000 habitantes – Theatro Circo 1500 lugares;
Guimarães: 188.178 habitantes – Centro Cultural Vila Flor 794 lugares;
Se fizéssemos uma relação (regra de três simples) com todas as cidades, teríamos a necessidade da capacidade ideal do CAE entre 65 a 300 lugares, sendo os extremos as cidades de Viseu e Guarda, respectivamente. Este dado é curioso porque são cidades em que o equipamento similar mais próximo dista mais de 70 quilómetros. Se considerarmos a relação entre as médias (do número de habitantes de cada concelho e de lugares por Teatro) chegávamos ao seguinte valor, 147 lugares, o que seria o ideal para o CAE.
O auditório dos Paços da Cultura tem uma capacidade de 200 lugares. Pelas minhas contas, sem nenhum rigor científico, seria suficiente para o número de habitantes de S. João da Madeira (21.102 segundo o Censos 2001).
Não apresentarei qualquer conclusão, lembro apenas a existência do auditório do Europarque, em Santa Maria da Feira, com capacidade de 1.500 lugares e claro está, a distância de S. João da Madeira a este equipamento e às cidades de Aveiro e Porto.
Pode-se contrariar tudo isto, argumentando com as capacidades únicas do CAE e a possibilidade de com este investimento aumentar significativamente o número de espectadores por evento, atraindo novos públicos. Sobre isto, remeto os interessados ao artigo publicado no Jornal Público de 11 de Novembro de 2006, intitulado “Descentralização da Cultura” da autoria de Joana Gorjão Henriques, no qual outros dados são indicados e que servirão para cada qual tirar as suas conclusões.
Para terminar, relembro que o Theatro Circo de Braga, demorou 17 anos a ser restaurado. Sensato.

(a publicar no dia 19/04/07)

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