terça-feira, novembro 25, 2008

Casas com música

A reconversão de edifícios com valor arquitectónico, ou interesse histórico e público para fins culturais foi um processo iniciado a partir do século passado.

Várias casas, de construção secular, com maior ou menor dimensão, perpetuaram-se até aos nossos dias, pela sua utilidade para local de ensino de artes.

Todo o conceito estaria correcto se o estado de conservação desses imóveis não se tivesse degradado ao longo dos anos. A necessidade de obras de restauro, respectiva reabilitação e adequação a conceitos intrínsecos das várias artes, nem sempre foram conseguidas, ou ficaram adiadas durante anos, por falta de cabimento orçamental.

Neste particular, existiam condições diárias de ensino sem qualquer isolamento térmico, obrigando a gastos suplementares, para se obter a respectiva e necessária climatização, aumentando em muito os custos da gestão corrente de vários estabelecimentos, sempre aflitos para cumprir os seus compromisso programáticos e curriculares.

Qualquer notícia de projectos de modernização dos equipamentos culturais da cidade é efectivamente bem recebida. Peca por tardia a intervenção no Centro de Arte e futuramente na Academia de Música, na qual me vou debruçar no próximo paragrafo.

Segundo veio a público durante o presente ano, a Câmara Municipal de S. João da Madeira pretende restaurar o edifício, onde no século XIX funcionou uma escola primária. O projecto escolhido, da autoria do arquitecto Carvalho Araújo prevê uma série de melhorias, com destaque para o futuro auditório, localizado no centro do edifício, tendo o conceito de foyer da Academia. Além deste importante melhoramento, não foram descurados os isolamentos acústicos deste novo espaço e dos adjacentes, assim como a ventilação e iluminação naturais. A Academia de Música ficará de face renovada, com mais e melhores serviços, onde se inclui uma mediateca e camarins de apoio ao auditório.

O custo total da obra será de setecentos e cinquenta mil euros.

Tudo estaria certo se os conceitos de ensino de música não se tivessem alterado, há já alguns anos. Refiro-me concretamente à proliferação pelo país de Escolas Profissionais de Música, com a adesão de vários jovens, em idade de escolaridade obrigatória.

Esta será a grande amputação ao projecto apresentado, por não prever um apêndice às actuais instalações da Academia de Música, para instalação de uma Escola Profissional. Deste modo, conseguir-se-ia aproveitar sinergias físicas entre as duas escolas, nomeadamente e na partilha de experiências entre alunos.

Este pólo dinâmico de ensino de música seria importante para uma cidade, que pretende diferenciar-se pela cultura. Não apenas pela construção ou reconversão de edifícios mas, pelas sensibilidades, idiossincrasias e talento das suas gentes.

Não emito esta opinião, apenas como reacção ao “trabalho de casa” efectuado por uma concelhia partidária, que sugeriu o aproveitamento das Quintas dos Condes para instalação da referida Escola Profissional.

Nos próximos anos, na área cultural da cidade prevê-se a reconversão do Cinema Imperador, o aproveitamento da Torre da Oliva, além das obras referidas de restauro do Centro de Arte e da Academia de Música. A estes, junte-se os inaugurados recentemente Paços da Cultura e Museu da Chapelaria e teremos suficientes centros de cultura, para uma cidade com oito quilómetros quadrados.

É para a área do conhecimento que a cidade deve convergir. Vejo vários pólos do programa “Ciência-Viva” a serem inaugurados por todo o país. Em S. João da Madeira restam poucos locais na sua zona central para acolher um centro de ciência com capacidade de desenvolver actividades não só no seu interior, como também no exterior. A Quinta dos Condes preenche esses requisitos e a sua disponibilidade para a totalidade da população seria de equacionar. Além disso, este tipo de atracções fazem movimentar no nosso país uma série famílias, vocacionadas para a visita destes “centros”, não se importando com distâncias a percorrer.

Espero que não haja falta de sensibilidade, para implementar estes conceitos modernos do nosso quotidiano.

Não queria terminar sem referir que o atraso da cidade na área do ensino de música, via Escola Profissional, obriga a uma menor de quinze anos, residente nesta cidade, a deslocar-se diariamente para Espinho e a regressar no final das aulas, gastando mais de hora e meia em viagens, via comboio. Como penso não conhecer pessoalmente a estudante, não refiro o seu nome mas, gostaria de enaltecer o seu espírito de sacrifício, pois de outra forma não conseguiria estudar tão intensamente o instrumento musical de eleição.

(a publicar no dia 27/11/08)

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