Os meus interesses em matéria de brinquedos repartiam-se pelas peças de Lego. Apesar das montras que expunham esses produtos serem afastadas do percurso para alcançar a escola, o regresso a casa era feito por caminhos mais alargados e muitas vezes em bicos de pés contemplava as últimas novidades da marca dinamarquesa. O processo era semelhante ao dos carrinhos, acumulavam-se tempos de espera até se conseguir a desejada aquisição.
Numa época de mudança, com novos hábitos de consumo, maior poder de compra generalizado, a introdução de novas marcas de brinquedos fez atrasar a minha saída da infância. A adolescência ficava para depois. Era preciso aproveitar a oportunidade.
O último de todos os meus brinquedos foi o cubo mágico, o de Rubik. O objecto da mudança de idade. Por um lado o fascínio das cores, por outro lado o desafio de encontrar a solução para o quebra-cabeças.
Há dias, contribuindo para uma acção de solidariedade, fiquei com um cubo desses na mão. Passei-o para os meus filhos e lembrei-me da frustração de jamais ter “feito” um cubo completamente (era esta a gíria). Aprendi a fórmula até aquilo que se designava de 2ª camada, porque numas férias a pessoa que me estava a ensinar, perdeu o apontamento da solução das fases posteriores e como no dia seguinte voltava para casa, as minhas lições ficaram por ali. A arte e o engenho necessários para o resto escaparam-me sempre… A mudança de idade pode ter prejudicado também.
Nesta nova era de informação, não descansei enquanto não encontrei o resto da solução. Ainda me lembrava do que tinha aprendido. Daí até ao final, faltavam apenas 4 passos, extremamente mecanizáveis e simples de fazer, o que me permitiu fechar um ciclo com mais de vinte e sete anos.
Mais do que a minha perseverança, do testemunho da infância desafogada, importa realçar que a geração a que eu pertenço, assistiu à transformação do conceito da Quadra que atravessamos. Entre os vários exageros que se cometem hoje e a espiritualidade de outrora, haverá certamente um ponto de equilíbrio mais justo. Este é o momento de encerrar o ciclo actual.
BOM NATAL.
(a publicar dia 24/12/09)
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