Portugal sempre se dividiu em províncias. Durante séculos, seis grandes áreas naturais serviram para a organização administrativa e estatística: Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beira, Extremadura, Alentejo e Algarve. A designação de comarca era o título inicialmente recebido, com exceção do Algarve, à qual historicamente sempre foi atribuído a honraria de reino.
As províncias perduraram até ao século XIX, incluindo a organização militar, que adotou jurisdição territorial semelhante à área de cada província.
A partir da revolução liberal, 1835, são adaptados os distritos como unidade de organização territorial. O conceito de província passa a ser utilizado para fins estatísticos e de referência geográfica. Relativamente ao conceito anterior, surge a divisão de Minho e Douro e da Beira em Alta e Baixa.
No século XX, a partir de 1936, para fundamentar uma ideia de regionalização defendida pelo Estado Novo, redefiniram-se as províncias. Baseando-se num estudo do geógrafo Amorim Girão, optou-se pela divisão: Minho, Trás-os-Montes, Douro Litoral, Alto Douro, Beira Alta, Beira Transmontana, Beira Litoral, Beira Baixa, Ribatejo, Estremadura, Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve. A fusão de Alto Douro em Trás-os-Montes e de Beira Transmontana em Beira Alta deu origem aos mapas coloridos distribuídos pelas escolas primárias e incorporados nos manuais escolares, que serviram de estudo para muitos bons anos.
Além dos mapas, procurando-se vincar o conceito na população, identificaram-se caraterísticas comuns na população de cada região, indicando-se vestuário, habitações, gastronomia, danças e modinhas, para simbolizar as províncias continentais de Portugal.
Para cimentar o conceito, incluíram-se nas festas populares os cortejos etnográficos, misturando-se as caraterísticas agrícolas da população, ou de outra atividade económica, com o desfile de ranchos e outros grupos folclóricos, sendo ainda comum exibirem-se as bandeiras das coletividades de cada comunidade.
Os meios de comunicação, nas décadas seguintes, nomeadamente rádio e mais tarde televisão, foram bombardeados com músicas representativas de cada província. A título de exemplo, o corridinho algarvio e o fandango ribatejano eram audíveis nessas épocas.
Naturalmente, por negação dos interesses das gerações anteriores, ou mesmo, por conflito geracional, com uma revolução militar pelo meio, desde há alguns anos, pelo menos uns trinta, as modinhas desapareceram dos hábitos dos portugueses.
O reconhecimento do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade pela Unesco, é prémio para quem nos anos da democracia não desistiu de manter viva a tradição, os usos e costumes de uma comunidade regional.
Uma recompensa para quem ficou naquelas paragens, não migrou para a beira Tejo, nem emigrou para outras terras. Em terras desertificadas, resistiu cantando, que é uma forma tão portuguesa de se expressar. Uma estranha forma de vida.
(a publicar no dia 04/12/14)