quarta-feira, julho 29, 2015

Milhões sem festa

Antes das férias de verão, é raro haver assuntos para comentar.
As últimas semanas na política local contrariam a tendência estival.

A meio do mês fomos confrontados com os valores dos fundos
comunitários atribuídos ao município. 3 milhões desperdiçados, 5 milhões
reclamados, 7 milhões atribuídos, foi a aritmética utilizada na
argumentação. A frase popular "mais vale um pássaro na mão do que dois a
voar", resume a discussão e permite relembrar que existem oportunidades que
não se repetem. Os 5 milhões reclamados pressupunham uma lógica de
favoritismo ao concelho, baseado na ligação do secretário de Estado, Castro
Almeida, à cidade. A invocação da cunha à portuguesa e do típico jeitinho do
político da administração central estavam subentendidos, só que desta vez
não funcionou.
Dias depois, o empréstimo municipal. O presidente da Câmara
Municipal, Ricardo Figueiredo apresentou o seu plano de investimentos, a
necessidade de contrair empréstimo e o valor envolvido. Mais, explicou os
montantes do endividamento atual, as consequências do empréstimo nas contas
municipais e quais os valores a abater nos próximos dois anos, indicando
qual o valor final da dívida municipal. Esperava-se muita discussão e uma
posição de coerência da oposição, chumbando o empréstimo, alegando as "más
contas", como têm vindo a repetir nos últimos dois anos. Contudo, o PS
rebateu. Limitou o endividamento, retirou projetos e ao apresentar a sua
proposta, obviamente teve que vota-la favoravelmente. Ou seja, aprovou
tacitamente as contas do PSD. É claro que o erro político foi reconhecido e
para emendá-lo, atabalhoadamente, voltou a falar-se em auditorias às contas
municipais, quando no ano passado, essa análise já tinha sido efetuada por
entidade competente e aprovada nos órgãos municipais.
No próximo trimestre, se a incoerência não prevalecer, o PS não pode
reprovar o orçamento municipal para 2016. Está agarrado ao seu plano de
investimento e não terá hipótese de alterar o sentido de voto. A teoria dos
duodécimos não se concretizará.
Ao retirar das propostas a Academia de Campeões, o PS voltou a
melindrar as Associações locais. A ADS, um dos clubes lesados, reclamou
prontamente a insensibilidade da ação política. O futebol envolve
diariamente demasiadas crianças e jovens da cidade e seus arredores, em
treinos e aos fins-de-semana em jogos, para em ano de eleições legislativas
optar-se por assumir uma medida impopular.
O choque entre o PS e as associações locais é apanágio desde 2013.
Primeiro foi com os Ecos Urbanos, meses depois com a AEJ, a propósito da
nova piscina municipal. Aliás, antes de avançar no texto, se o que foi feito
com este empréstimo para os investimentos, estudo e contra-proposta, tivesse
sido o método utilizado na piscina, ou seja, analisar o projeto do
arquitecto Souto Moura contrapor com uma redução do custo da obra, indicando
qual o montante máximo do valor final pretendido, estaríamos agora numa
situação totalmente diferente de credibilidade e toda a questão de
responsabilidade seria reconhecida.
Assim não foi. Ficou mais uma vez provado, passado praticamente um
ano, que o PS local quis chumbar a piscina por questões meramente
partidárias, em prejuízo da população.
Entretanto, nesta última semana, foi assinado o protocolo entre a
Santa Casa da Misericórdia e o Ministério da Saúde, para devolução do
Hospital de S. João da Madeira à instituição local.
Um culminar de longas negociações. Apesar do assunto ainda estar
fresco e de os ânimos permanecerem exaltados, é importante esclarecer e
recordar que a Santa Casa da Misericórdia sempre prestou assistencialismo em
S. João da Madeira e que conseguiu erguer valências que promovem a sua
auto-sustentabilidade. Infelizmente confunde-se tudo e ao não se reconhecer
a importância histórica desta instituição, estamos a esquecer a história da
cidade, da sua população sofredora e daqueles que dedicaram a sua vida a
prestar auxílio ao próximo. Não esquecendo a importância da fundação, pela
iniciativa da Santa Casa, do Hospital de S. João da Madeira, que em 1974
passou para a esfera do Estado.
A ilusão dos apoios das redes sociais, dos números conseguidos na
petição em defesa do hospital, estancou na mobilização de rua. A vigília a
16 de Maio demonstrou que a população não estava com o PS. 200 pessoas,
segundo a imprensa local, é um número muito baixo, para quem queria defender
uma causa da cidade e demonstrar ter um grande apoio da população.
É na rua, na mobilização da população para ações políticas, que se verifica
se há tendências de mudança. Em Maio isso não se verificou.
Na manhã de 28 de Julho, em frente às instalações da Santa Casa da
Misericórdia estavam 100 pessoas, segundo a SIC Notícias.
A fraca envolvência dos sanjoanenses, nesta causa, demonstra que o
tema foi mal desenvolvido.
O número de manifestantes foi semelhante ao de uma ação de um
partido de extrema - esquerda.
Uma evidência, com a terrível constatação, o PS local caminha para o
abismo.