Trinta e dois anos depois, PSD e CDS vão concorrer coligados às eleições autárquicas de S. João da Madeira.
Depois da maioria obtida em 1979 e repetida em 1982, pela coligação denominada AD, o poder autárquico a partir dessa data, tem alternado entre CDS / PP - de 1984 a 2001 - e PSD, a partir desse ano até ao presente.
Durante os últimos 15 anos, a soma dos votos dos dois partidos, nas respetivas eleições autárquicas, variou da seguinte forma:
- em 2001: PSD + CDS = 8462 votos;
- em 2005: PSD + CDS = 7922 votos;
- em 2009: PSD + CDS = 7356 votos;
- em 2013: PSD + CDS = 4104 votos;
Em 12 anos, a intenção de voto nestes dois partidos diminuiu para mais de metade. A perda de votos do CDS foi mais intensa: passou de 3059 votos em 2001, para os 296 de 2013; a esta tendência decrescente, verifica-se uma gradual descida em 2005, 1463 votos e em 2009, o CDS obteve 833. Pelo lado do PSD, o percurso é diferente: em 2009 atingiu a sua melhor votação, 6523 votos, depois dos 5403 em 2001 e dos 6459 em 2005; já em 2013, verificou-se uma queda abrupta para os 3808 votos.
Apresente-se os resultados do PS, desde 2001 até 2013, em eleições autárquicas:
- em 2001: PS = 2433 votos;
- em 2005: PS = 2270 votos;
- em 2009: PS = 3077 votos;
- em 2013: PS = 3513 votos;
Ou seja, o PS aumentou a sua votação desde 2005, no entanto, não absorveu a totalidade de votos perdidos pelos dois partidos de direita. Os cerca de 4358 perdidos ao longo dos anos pelos dois partidos, não se refletem em ganhos no PS (1243 votos em 8 anos, repartidos por praticamente 800 votos de 2005 para 2009 e o restante dessa data para 2013). Pode-se então concluir, que o voto autárquico em 2013 foi um voto de protesto, penalizando o PSD, o que não significou uma grande transferência para o PS.
Antes de avançar e para não ficar a ideia de que a tendência de voto em S. João da Madeira é nos partidos da coligação, convém analisar qual o somatório dos resultados eleitorais destas duas forças políticas, em período semelhante, nas eleições legislativas e europeias, comparando-os com os do PS. O último resultado, dos que se seguem, corresponde aos votos na coligação, como todos se recordam.
Assim, nas eleições legislativas, recolhendo os valores dos últimos 17 anos:
- em 1999: PSD + CDS = 4928; PS = 5664 votos
- em 2002: PSD + CDS = 5700; PS = 5020 votos;
- em 2005: PSD + CDS = 4451; PS = 6226 votos;
- em 2009: PSD + CDS = 4944; PS = 4967 votos;
- em 2011: PSD + CDS = 5023; PS = 3888 votos;
- em 2015: PSD + CDS = 4700; PS = 4037 votos;
Convém indicar que os votos no CDS têm pouca amplitude de variação: um mínimo de 1108 e um máximo de 1423. Quando a amplitude máxima do somatório dos partidos é cerca de 1000 votos. Portanto, a maior alteração registada foram os votos para o PSD.
Nas eleições europeias, há uma ligeira diferença, pois tanto o primeiro como o último valor correspondem a resultado efetivos da coligação de direita:
- em 2004: PSD + CDS = 2633; PS = 3995 votos;
- em 2009: PSD + CDS = 3264; PS = 2367 votos;
- em 2014: PSD + CDS = 2160; PS = 2522 votos;
A oscilação apresentada em ambas eleições, com os valores mais altos a coincidir com vitórias nacionais, permite concluir sobre a flutuação de votos, em conformidade com o programa ou os candidatos dos partidos, não sendo por isso linear existir um voto ideológico na cidade.
Existe na análise política, a ideia do voto penalizador ao partido do Governo, nas eleições autárquicas, europeias e até presidenciais. Por outro lado, à semelhança dos restantes países europeus, começou a indexar-se o voto de protesto, ou antissistema, como aquele aplicado nas franjas do espetro político (por exemplo, independentes em eleições autárquicas ou MPT nas últimas europeias). As eleições europeias, normalmente a meio do mandato de um Governo, provam que foi essa a ideia do eleitorado local, pois em 2004, em pleno Governo de coligação de direita, o PS teve mais votos. Em 2009 inverteu-se a tendência, sendo a eleição antes do final do mandato de um Governo PS e já em 2014, a coligação de direita perdeu novamente votos.
Se o eleitorado local segue as tendências nacionais, podemos interpretar os resultados das eleições autárquicas à luz desses fenómenos. Embora, não seja possível relacionar o partido vencedor com qualquer sinal de protesto do eleitorado.
Tal como a tendência nacional, o voto autárquico de protesto em 2013, dispersou-se em S. João da Madeira por independentes, pequenos partidos, ou brancos e nulos, ou mesmo no aumento da abstenção.
É certo que a primeira leitura que se faz é que o voto no Movimento Independente SJM Sempre recebeu os votos dos descontentes de direita, por inerência da aritmética, daqueles que sempre votaram no CDS. É prematuro perceber se esse voto se vai manter, porque estas eleições autárquicas, sendo intercalares, têm um enquadramento diferente: existe uma coligação autárquica entre dois partidos dominadores da vida política local dos últimos 36 anos; existe um ressentimento político face aos acontecimentos da política nacional (o que pode transmitir-se no voto de protesto ao Governo em funções); existe um vasto conhecimento da forma de atuação dos vários candidatos.
Por tudo isto, a coligação de direita espera captar o voto militante ou simpatizante dos eleitores locais, montando a sua campanha com este objetivo.
Em contrapartida, só uma ampla coligação de esquerda, seria suficiente para travar este ímpeto. No entanto, com as péssimas relações existentes entre as estruturas locais dos demais partidos, tal será impossível em 2016.