Na extensa província da Andaluzia Espanhola, existe uma pequena cidade perto de Jáen chamada Martos. Com pouco mais de 20 mil habitantes, esta povoação não é conhecida por nada de especial. Normalmente, existem monumentos, especialidades gastronómicas, incluindo os vinhos e a doçaria, que fazem a fama de uma terra, ou de uma região. Outras vezes, são a origem de um escritor, um artista plástico, ou um compositor. Mas, Martos não é o caso. A referência da pequena cidade Andaluza surge no livro autobiográfico “Patagonia Express”, do escritor chileno Luís Sepúlveda, conhecido pela facilidade de leitura dos seus livros.
Em Martos reencontra o chileno as suas origens. Dali tinha saído o seu avô para o Chile. O exílio forçado de um anarquista, de ideias libertárias, que guardava de Espanha a má memória da derrota na guerra civil, a perseguição e a prisão. Um avô dos que incluem na suas tarefas a leitura do grande livro de Cervantes aos seus netos. O de Sepúlveda incentivou na infância do neto, um outro ritual. Aos Domingos oferecia-lhe todas as bebidas que normalmente os pais não deixam beber. O rapaz ficava felicíssimo e de bexiga cheia. No regresso a casa, com o miúdo aflito, o alívio surgia invariavelmente na porta de uma igreja, das que existem em Santiago de Chile.
Os anarquistas sempre tiveram dificuldade em lidar com a ordem, tanto da Igreja, como do Estado. Comportamentos como o do rapaz, eram usuais contra as mais variadas paredes, em especial, as da esquadra da polícia. No final do passeio da Rua do Visconde, em noites secas e de luar permanentemente visível, a parede da antiga esquadra da PSP frequentemente aparecia molhada... Ali perto, a Igreja Matriz permanecia seca e altaneira.
As Igrejas, sem entrar em considerações religiosas, são importantes monumentos da história. Testemunhos de várias épocas. Por vezes singelas, outras vezes faustosas. Da simples capela ao enorme mosteiro ou catedral, por toda a Europa vemos edificados monumentos que são ex-libris das mais variadas cidades. Em S. João da Madeira, a construção de uma nova Igreja é uma ideia antiga na paróquia. O Rev. Padre tem-na defendido e procurado encontrar várias soluções, tendo inclusivamente convidado um prestigiado arquitecto para fazer um estudo sobre a nova Igreja, pretendendo assim um local de culto que fique conhecido pelas melhores razões arquitectónicas. Efectivamente, S. João da Madeira precisa de uma Igreja para o mundo. À semelhança do que aconteceu com a igreja de Marco de Canaveses, projectada pelo Arquitecto Siza Vieira.
Parece-me, que a localização escolhida não é a melhor. A minha discórdia surge apenas de uma opinião pessoal que assenta no direito e no dever do exercício de cidadania. No “caos urbanístico”, como em tempos foi referida a cidade, o melhor é aproveitar os espaços existentes, enriquecendo-os com equipamentos modernos e procurar, com tranquilidade, harmonizar os outros, sem grandes revoluções. Construir a nova igreja perto da actual Matriz, é retirar a esta a importância que ele teve. Além disso, o centro já está sobrecarregado com várias construções.
Para contrariar esta tendência, a melhor opção seria construir a nova igreja numa zona com menor índice de construção. Para mim, a melhor localização é a Praça Barbazieux, no largo em frente ao cemitério n.º 3, que em tempos albergou o Mercado por Grosso e agora serve de pseudo Parque Radical. O espaço é amplo e a envolvente paisagística é um dos locais mais aprazíveis de S. João da Madeira, o que daria ao arquitecto a possibilidade de melhor projectar a futura igreja.
compilação dos textos publicados no jornal labor (www.labor.pt), de 2004 a 2020.
terça-feira, dezembro 20, 2005
terça-feira, dezembro 06, 2005
Era uma vez uma piscina
Naquela cidade havia várias escolas primárias, todas elas muito bonitas. A do Francisco era bestial. Tinha um bosque bem verde à volta, repleto de árvores centenárias. As salas de aula eram grandes e ajudavam a alargar os horizontes dos meninos. O Francisco adorava aprender e todas as actividades eram ao seu gosto. Brincar no recreio com os seus colegas era o grande momento do dia. O recreio tinha um pequeno campo de futebol, o que dava para correr atrás da bola e meter golos nas balizas.
No regresso à Escola para mais um ano de aulas, uma má notícia era dada: as aulas de Natação não podiam funcionar como no ano anterior. Da grande cidade, a capital, uns senhores diziam que era perigoso haver actividades fora da escola, durante o horário das aulas. Essas actividades deviam ser organizadas depois do horário da escola sob a responsabilidade do ATL.
Os pais das crianças daquela escola tentaram essa solução, mas não conseguiram pessoas para os acompanhar à piscina, que ficava longe e obrigava a ir de autocarro, o que até seria divertido. O Francisco ficou muito triste. A natação era talvez a sua actividade preferida. Divertia-se muito a brincar com os seus colegas na água e, além disso, tinha-lhe sido receitada pelo médico, para favorecer o seu desenvolvimento. Como havia natação pela Escola, os pais do Francisco tinham optado por aquela solução. Agora esgotadas todas as hipóteses, pois a Escola de Natação não tinha horários disponíveis para a idade do Francisco, o seu pai ia com ele aos fins de semana à Piscina e juntos brincavam e nadavam na água. Enfim, não era a mesma coisa, mas o Francisco percebeu o esforço dos pais.
Uma noite, estava em sua casa para jantar o tio Miguel, irmão do pai. A certa altura, o seu tio começou a falar num tom irritado como era costume, protestando com todos, ao que o pai do Francisco lhe pedira para voltar à razão. Naquela noite o tio falava, entre outras coisas, de uma piscina nas traseiras da Escola do sobrinho fechada há muito tempo, o Francisco não pode deixar de ouvir. O discurso foi outra vez interrompido pelo pai. No dia seguinte, quando chegou à Escola, contou aos seus amigos o que o tio tinha dito. Ele, o Tiago e a Ana, amigos inseparáveis, pensaram logo num plano para fazerem uma exploração às traseiras da Escola. Numa tarde no recreio, ficaram a brincar por detrás de uma das balizas. Ali ao lado estava uma pequena escada e, chegando lá, era só subir e depois correr sem que ninguém os visse até ao grande armazém branco. Conseguiram. As auxiliares estavam distraídas e lá para trás nunca ninguém ia. O grande armazém tinha três portões mas todos estavam fechados. Empurraram um atrás do outro, até que o último cedeu. Afinal estava mal fechado, apenas encostado. O Francisco entrou primeiro, ninguém ficou a vigiar. Tinha um pequeno corredor e à esquerda uma outra porta. Entraram e encontraram um pequeno balneário. À direita outra passagem, prosseguiram. Uns chuveiros apareciam-lhes diante dos olhos. Uma grande porta... Ali permanecia uma piscina!! Sem água e mais parecida com um tanque, é certo, mas era uma Piscina. Perfeita para o seu tamanho! Com medo de que alguém desse pela sua falta, voltaram para o recreio. À saída fecharam a porta e repararam num pequeno lago em forma rectangular, com água da chuva mas, sem peixes, também ele abandonado ao tempo.
Francisco queria recordar o resto da conversa do tio, mas não conseguia. À noite, ao jantar, perguntou ao pai pela piscina da escola dele. O pai percebendo que algo de novo tinha acontecido, perguntou-lhe o que é que se tinha passado para que fizesse aquela pergunta. Como tinha sido educado para assumir os seus actos, Francisco contou a sua exploração. O pai explicou-lhe que aquela piscina, já não era precisa, pois havia a grande e era suficiente para todos os habitantes da cidade. O melhor era esquecer o assunto. Francisco não percebeu, mas aceitou a ideia para não contrariar o pai.
Na escola dele havia uma piscina e ele e os seus colegas não podiam ir lá nadar, pois na cidade havia uma melhor. Só que por causa de uns senhores da grande cidade, eles tinham ficado sem aulas de natação...?
Passados alguns dias, Francisco ganhou coragem e falou com o seu tio sobre a Piscina. Os seus pais não estavam por perto o que facilitou bastante a conversa. O tio perguntou-lhe: “E queres tu nadar nela?”, os olhos de Francisco brilhavam. Para o tio ajudar alguém era a essência da vida, fazia-o de forma desinteressada e falava sempre de uma palavra: fraternidade. O Francisco já tinha perguntado à mãe o queria dizer e ela tinha-lhe ensinado que era sermos amigos de todos como se fossem irmãos. Quando se enervava e falava alto o tio Miguel dizia sempre “Aburguesaram-se e esqueceram-se do sentido da fraternidade”. Quando o Francisco disse que sim, o tio disse: “Finalmente, acção!”. Combinaram um plano que ia durar dias até ficar pronto e no final o mais velho rematou: “Pelo menos os da tua escola vão nadar”. Nesse momento o pai entrou na sala e os dois conspiradores tiveram que calar-se.
Os dias foram passando e nada aconteceu. Um dia, o Francisco recebeu um telefonema. Era o tio Miguel. “Para a semana fazemos história”, disse. Era o sinal pelo qual esperava Francisco ansiosamente. No dia combinado, as crianças das Escolas Primárias não foram ao ATL. Levaram declarações dos pais, uns dias antes e fizeram aquilo muito bem feito, que ninguém reparou que todas elas tinham o mesmo pedido, para a mesma data, à mesma hora. Assim, os ATL ficaram vazios e cá fora umas carrinhas com senhores de aspecto divertido ao volante, transportaram os meninos todos para o largo da Câmara. Um dos condutores tinha uma barba branca e longa, ao que um dos meninos dizia ser o Pai Natal, mesmo sem o fato vermelho. Rapidamente chegaram ao destino, pois a cidade não era muito grande. Os das Escolas mais perto foram a pé, quase correndo, atravessando ordeiramente as passadeiras. Os mais velhos olhando pelos mais novos. Em 15 minutos, estava o largo cheio de meninos e meninas das Escolas Primárias. Até os felizardos que continuavam a ter aulas de Natação estavam lá. O tio do Francisco tinha-lhe dito “convence todos, ou todos ou nenhum”.
Os condutores tiraram das carrinhas umas faixas enormes que diziam: “QUEREMOS AULAS DE NATAÇÃO”, “A NOSSA ESCOLA TEM UMA PISCINA FECHADA, PORQUÊ?”, “PARA QUÊ UMA PISCINA NOVA, SE NÃO PODEMOS TER AULAS?”, “DESPORTO PARA TODOS!?”. Quem passava na rua pensou tratar-se de mais uma actividade escolar para encher o Jardim. No entanto, quando os megafones chegaram às mãos dos miúdos, os gritos produzidos com as palavras escritas nos cartazes soaram pela cidade. Francisco via do outro lado da rua o tio e os seus amigos, a parar o trânsito, dizendo “venham ver as nossas crianças”, ”ouçam o que elas têm para dizer”, “ajudem estas crianças, são as nossas crianças”. Rapidamente as ruas pararam, os curiosos aproximavam-se. A força do grito dos meninos era tão grande, que o Presidente do Município ouviu. Estava no último piso do edifício e sem se aperceber do que estava a passar, questionou os seus colaboradores sobre qual o motivo dos festejos das crianças. Ninguém ousou responder e o presidente percebeu que havia motivo para preocupação. Inteirou-se com a Segurança de quem fazia aquele barulho e quando percebeu que eram só crianças, não quis acreditar. Desceu para falar com eles e ficou surpreendido com o que via, estavam ali todos os meninos das escolas que ele conhecia, dos mais pequeninos aos mais velhos. Logo na frente o Francisco, atrás todos os meninos, por detrás uma multidão silenciosa.
O presidente vinha com má cara, atrás dele muitos crescidos. Francisco encolheu-se, olhou para trás, além dos meninos, que se calaram todos, e via o seu tio a incentivá-lo, fazendo-lhe sinal que tudo estava a correr bem. A voz do presidente parecia um trovão quando perguntou, “Quem é responsável por isto?” Francisco ficou pequeno mas de repente, sentiu-se crescer, pegou no megafone e respondeu: Sou Eu! Não se sabe se foi o eco, mas ouviu-se muito bem aquele som. Todos os meninos começaram a gritar o mesmo, “sou eu!”. A certa altura, mais confiantes gritaram, “Somos nós todos”. O presidente sorriu, fez sinal para os meninos pararem e disse, “Muito bem”. Perguntou “Então o vos traz por cá?” De pronto os vários gritos começaram de novo: “QUEREMOS AULAS DE NATAÇÃO”, “A NOSSA ESCOLA TEM UMA PISCINA, ESTÁ FECHADA PORQUÊ?”, “PARA QUÊ UMA PISCINA NOVA, SE NÃO PODEMOS TER AULAS” , “DESPORTO PARA TODOS?”. O presidente corou, voltou a sorrir e dirigindo-se ao Francisco disse-lhe “Já percebi!. Amanhã vou à vossa Escola ver essa Piscina. As escolas dos outros meninos também não vão ficar esquecidas, podem ficar com a minha palavra. Em breve todos vão ter aulas de Natação”. Quando acabou, uma voz vinda da multidão gritava “Uma salva de palmas para os miúdos”. Era o tio Miguel, que se repetiu mais de dez vezes. “Viva as crianças” , “Viva as crianças desta cidade”. A multidão começou a bater palmas, o presidente e os seus colaboradores também. O tio Miguel não se calava, parecendo o mais novo da multidão. Entre os seus vivas, gritava várias palavras sobre os políticos, e os mais pequenos não percebiam nada do que ele queria dizer. Entretanto, o presidente voltou para a Câmara e rapidamente as carrinhas se encheram de meninos e meninas de regresso à Escola.
Os pais vieram buscá-los, sem saber o que tinha acontecido. Chegados a casa, os telefones não paravam de tocar, outros pais, por outras vozes, contavam uns aos outros o que os filhos tinham feito. Os pais de Francisco olharam o filho e perceberam de quem tinha surgido a ideia. Nada lhe disseram. Ficaram à espera dos dias seguintes.
Na manhã seguinte, estavam os meninos a chegar às suas Escolas e ao mesmo tempo entravam a correr senhores de fato e gravata, para falarem com as respectivas directoras das Escolas. O presidente não queria que os alunos fossem repreendidos pelo que fizeram. Afinal, eles estavam a reclamar o que era um seu direito, por isso nem uma só palavra. Na Escola do Francisco um alvoroço. O recreio foi atravessado por dezenas de homens adultos. À frente deles, vinha o presidente. Vinha com má cara e barafustava com várias pessoas. Dirigiram-se para o armazém velho.
Seguiu-se um mês de obras no edifício. Fizeram-se novas paredes, puseram-se vidros e portas novas. Um dia a directora da escola entrou na sala e disse: “Bom dia! Têm uma visita muito importante. Levantem-se.” Era o presidente que entrava, vinha anunciar ele próprio a inauguração da Piscina daquela Escola. O Francisco sorriu e o brilho voltou-lhe aos olhos. A piscina serviria para a escola dele e para outras duas, que ficavam pertinho. O presidente explicou-lhes que as escolas mais perto da piscina municipal continuavam a ter aulas nessa piscina. Para as escolas mais distantes ia construir mais duas piscinas em outras duas Escolas e assim, permitir que todos os alunos das Escolas Primárias tivessem aulas de Natação, pois “não se podia andar para trás”... O Francisco, olhou para a Ana e para o Tiago e todos se riram. Todos bateram palmas, o que deixou o presidente feliz. Foi um belo dia de Escola.
E assim, no dia seguinte, no final das aulas, várias carrinhas se aproximaram da Escola do Francisco, traziam as crianças das outras Escolas. Todos queriam ver a piscina da escola do Francisco. Era linda, claro. Tinha uma água transparente e o azul do fundo tão visível, que apetecia tomar um valente banho. Os balneários eram muito acolhedores e havia um espaço junto à piscina que permitia fazer ginástica. As turmas das várias escolas entraram e saíram de forma organizada e no final o presidente ofereceu-lhes um grande lanche. Repetiu o que dissera na véspera sobre construir novas piscinas. Mas de repente a atenção de todos voltava-se para o barulho de várias pessoas a caminhar. O som provinha do bosque ao lado da Escola. Os alunos começaram a ver os seus pais a chegar ao recreio, ocupando o campo onde se jogava à bola. Ficaram calados até o campo se encher, não cabia mais ninguém. Uma voz gritou: “um, dois, três” e todos os pais responderam: “Obrigado Filhos!!!”
No regresso à Escola para mais um ano de aulas, uma má notícia era dada: as aulas de Natação não podiam funcionar como no ano anterior. Da grande cidade, a capital, uns senhores diziam que era perigoso haver actividades fora da escola, durante o horário das aulas. Essas actividades deviam ser organizadas depois do horário da escola sob a responsabilidade do ATL.
Os pais das crianças daquela escola tentaram essa solução, mas não conseguiram pessoas para os acompanhar à piscina, que ficava longe e obrigava a ir de autocarro, o que até seria divertido. O Francisco ficou muito triste. A natação era talvez a sua actividade preferida. Divertia-se muito a brincar com os seus colegas na água e, além disso, tinha-lhe sido receitada pelo médico, para favorecer o seu desenvolvimento. Como havia natação pela Escola, os pais do Francisco tinham optado por aquela solução. Agora esgotadas todas as hipóteses, pois a Escola de Natação não tinha horários disponíveis para a idade do Francisco, o seu pai ia com ele aos fins de semana à Piscina e juntos brincavam e nadavam na água. Enfim, não era a mesma coisa, mas o Francisco percebeu o esforço dos pais.
Uma noite, estava em sua casa para jantar o tio Miguel, irmão do pai. A certa altura, o seu tio começou a falar num tom irritado como era costume, protestando com todos, ao que o pai do Francisco lhe pedira para voltar à razão. Naquela noite o tio falava, entre outras coisas, de uma piscina nas traseiras da Escola do sobrinho fechada há muito tempo, o Francisco não pode deixar de ouvir. O discurso foi outra vez interrompido pelo pai. No dia seguinte, quando chegou à Escola, contou aos seus amigos o que o tio tinha dito. Ele, o Tiago e a Ana, amigos inseparáveis, pensaram logo num plano para fazerem uma exploração às traseiras da Escola. Numa tarde no recreio, ficaram a brincar por detrás de uma das balizas. Ali ao lado estava uma pequena escada e, chegando lá, era só subir e depois correr sem que ninguém os visse até ao grande armazém branco. Conseguiram. As auxiliares estavam distraídas e lá para trás nunca ninguém ia. O grande armazém tinha três portões mas todos estavam fechados. Empurraram um atrás do outro, até que o último cedeu. Afinal estava mal fechado, apenas encostado. O Francisco entrou primeiro, ninguém ficou a vigiar. Tinha um pequeno corredor e à esquerda uma outra porta. Entraram e encontraram um pequeno balneário. À direita outra passagem, prosseguiram. Uns chuveiros apareciam-lhes diante dos olhos. Uma grande porta... Ali permanecia uma piscina!! Sem água e mais parecida com um tanque, é certo, mas era uma Piscina. Perfeita para o seu tamanho! Com medo de que alguém desse pela sua falta, voltaram para o recreio. À saída fecharam a porta e repararam num pequeno lago em forma rectangular, com água da chuva mas, sem peixes, também ele abandonado ao tempo.
Francisco queria recordar o resto da conversa do tio, mas não conseguia. À noite, ao jantar, perguntou ao pai pela piscina da escola dele. O pai percebendo que algo de novo tinha acontecido, perguntou-lhe o que é que se tinha passado para que fizesse aquela pergunta. Como tinha sido educado para assumir os seus actos, Francisco contou a sua exploração. O pai explicou-lhe que aquela piscina, já não era precisa, pois havia a grande e era suficiente para todos os habitantes da cidade. O melhor era esquecer o assunto. Francisco não percebeu, mas aceitou a ideia para não contrariar o pai.
Na escola dele havia uma piscina e ele e os seus colegas não podiam ir lá nadar, pois na cidade havia uma melhor. Só que por causa de uns senhores da grande cidade, eles tinham ficado sem aulas de natação...?
Passados alguns dias, Francisco ganhou coragem e falou com o seu tio sobre a Piscina. Os seus pais não estavam por perto o que facilitou bastante a conversa. O tio perguntou-lhe: “E queres tu nadar nela?”, os olhos de Francisco brilhavam. Para o tio ajudar alguém era a essência da vida, fazia-o de forma desinteressada e falava sempre de uma palavra: fraternidade. O Francisco já tinha perguntado à mãe o queria dizer e ela tinha-lhe ensinado que era sermos amigos de todos como se fossem irmãos. Quando se enervava e falava alto o tio Miguel dizia sempre “Aburguesaram-se e esqueceram-se do sentido da fraternidade”. Quando o Francisco disse que sim, o tio disse: “Finalmente, acção!”. Combinaram um plano que ia durar dias até ficar pronto e no final o mais velho rematou: “Pelo menos os da tua escola vão nadar”. Nesse momento o pai entrou na sala e os dois conspiradores tiveram que calar-se.
Os dias foram passando e nada aconteceu. Um dia, o Francisco recebeu um telefonema. Era o tio Miguel. “Para a semana fazemos história”, disse. Era o sinal pelo qual esperava Francisco ansiosamente. No dia combinado, as crianças das Escolas Primárias não foram ao ATL. Levaram declarações dos pais, uns dias antes e fizeram aquilo muito bem feito, que ninguém reparou que todas elas tinham o mesmo pedido, para a mesma data, à mesma hora. Assim, os ATL ficaram vazios e cá fora umas carrinhas com senhores de aspecto divertido ao volante, transportaram os meninos todos para o largo da Câmara. Um dos condutores tinha uma barba branca e longa, ao que um dos meninos dizia ser o Pai Natal, mesmo sem o fato vermelho. Rapidamente chegaram ao destino, pois a cidade não era muito grande. Os das Escolas mais perto foram a pé, quase correndo, atravessando ordeiramente as passadeiras. Os mais velhos olhando pelos mais novos. Em 15 minutos, estava o largo cheio de meninos e meninas das Escolas Primárias. Até os felizardos que continuavam a ter aulas de Natação estavam lá. O tio do Francisco tinha-lhe dito “convence todos, ou todos ou nenhum”.
Os condutores tiraram das carrinhas umas faixas enormes que diziam: “QUEREMOS AULAS DE NATAÇÃO”, “A NOSSA ESCOLA TEM UMA PISCINA FECHADA, PORQUÊ?”, “PARA QUÊ UMA PISCINA NOVA, SE NÃO PODEMOS TER AULAS?”, “DESPORTO PARA TODOS!?”. Quem passava na rua pensou tratar-se de mais uma actividade escolar para encher o Jardim. No entanto, quando os megafones chegaram às mãos dos miúdos, os gritos produzidos com as palavras escritas nos cartazes soaram pela cidade. Francisco via do outro lado da rua o tio e os seus amigos, a parar o trânsito, dizendo “venham ver as nossas crianças”, ”ouçam o que elas têm para dizer”, “ajudem estas crianças, são as nossas crianças”. Rapidamente as ruas pararam, os curiosos aproximavam-se. A força do grito dos meninos era tão grande, que o Presidente do Município ouviu. Estava no último piso do edifício e sem se aperceber do que estava a passar, questionou os seus colaboradores sobre qual o motivo dos festejos das crianças. Ninguém ousou responder e o presidente percebeu que havia motivo para preocupação. Inteirou-se com a Segurança de quem fazia aquele barulho e quando percebeu que eram só crianças, não quis acreditar. Desceu para falar com eles e ficou surpreendido com o que via, estavam ali todos os meninos das escolas que ele conhecia, dos mais pequeninos aos mais velhos. Logo na frente o Francisco, atrás todos os meninos, por detrás uma multidão silenciosa.
O presidente vinha com má cara, atrás dele muitos crescidos. Francisco encolheu-se, olhou para trás, além dos meninos, que se calaram todos, e via o seu tio a incentivá-lo, fazendo-lhe sinal que tudo estava a correr bem. A voz do presidente parecia um trovão quando perguntou, “Quem é responsável por isto?” Francisco ficou pequeno mas de repente, sentiu-se crescer, pegou no megafone e respondeu: Sou Eu! Não se sabe se foi o eco, mas ouviu-se muito bem aquele som. Todos os meninos começaram a gritar o mesmo, “sou eu!”. A certa altura, mais confiantes gritaram, “Somos nós todos”. O presidente sorriu, fez sinal para os meninos pararem e disse, “Muito bem”. Perguntou “Então o vos traz por cá?” De pronto os vários gritos começaram de novo: “QUEREMOS AULAS DE NATAÇÃO”, “A NOSSA ESCOLA TEM UMA PISCINA, ESTÁ FECHADA PORQUÊ?”, “PARA QUÊ UMA PISCINA NOVA, SE NÃO PODEMOS TER AULAS” , “DESPORTO PARA TODOS?”. O presidente corou, voltou a sorrir e dirigindo-se ao Francisco disse-lhe “Já percebi!. Amanhã vou à vossa Escola ver essa Piscina. As escolas dos outros meninos também não vão ficar esquecidas, podem ficar com a minha palavra. Em breve todos vão ter aulas de Natação”. Quando acabou, uma voz vinda da multidão gritava “Uma salva de palmas para os miúdos”. Era o tio Miguel, que se repetiu mais de dez vezes. “Viva as crianças” , “Viva as crianças desta cidade”. A multidão começou a bater palmas, o presidente e os seus colaboradores também. O tio Miguel não se calava, parecendo o mais novo da multidão. Entre os seus vivas, gritava várias palavras sobre os políticos, e os mais pequenos não percebiam nada do que ele queria dizer. Entretanto, o presidente voltou para a Câmara e rapidamente as carrinhas se encheram de meninos e meninas de regresso à Escola.
Os pais vieram buscá-los, sem saber o que tinha acontecido. Chegados a casa, os telefones não paravam de tocar, outros pais, por outras vozes, contavam uns aos outros o que os filhos tinham feito. Os pais de Francisco olharam o filho e perceberam de quem tinha surgido a ideia. Nada lhe disseram. Ficaram à espera dos dias seguintes.
Na manhã seguinte, estavam os meninos a chegar às suas Escolas e ao mesmo tempo entravam a correr senhores de fato e gravata, para falarem com as respectivas directoras das Escolas. O presidente não queria que os alunos fossem repreendidos pelo que fizeram. Afinal, eles estavam a reclamar o que era um seu direito, por isso nem uma só palavra. Na Escola do Francisco um alvoroço. O recreio foi atravessado por dezenas de homens adultos. À frente deles, vinha o presidente. Vinha com má cara e barafustava com várias pessoas. Dirigiram-se para o armazém velho.
Seguiu-se um mês de obras no edifício. Fizeram-se novas paredes, puseram-se vidros e portas novas. Um dia a directora da escola entrou na sala e disse: “Bom dia! Têm uma visita muito importante. Levantem-se.” Era o presidente que entrava, vinha anunciar ele próprio a inauguração da Piscina daquela Escola. O Francisco sorriu e o brilho voltou-lhe aos olhos. A piscina serviria para a escola dele e para outras duas, que ficavam pertinho. O presidente explicou-lhes que as escolas mais perto da piscina municipal continuavam a ter aulas nessa piscina. Para as escolas mais distantes ia construir mais duas piscinas em outras duas Escolas e assim, permitir que todos os alunos das Escolas Primárias tivessem aulas de Natação, pois “não se podia andar para trás”... O Francisco, olhou para a Ana e para o Tiago e todos se riram. Todos bateram palmas, o que deixou o presidente feliz. Foi um belo dia de Escola.
E assim, no dia seguinte, no final das aulas, várias carrinhas se aproximaram da Escola do Francisco, traziam as crianças das outras Escolas. Todos queriam ver a piscina da escola do Francisco. Era linda, claro. Tinha uma água transparente e o azul do fundo tão visível, que apetecia tomar um valente banho. Os balneários eram muito acolhedores e havia um espaço junto à piscina que permitia fazer ginástica. As turmas das várias escolas entraram e saíram de forma organizada e no final o presidente ofereceu-lhes um grande lanche. Repetiu o que dissera na véspera sobre construir novas piscinas. Mas de repente a atenção de todos voltava-se para o barulho de várias pessoas a caminhar. O som provinha do bosque ao lado da Escola. Os alunos começaram a ver os seus pais a chegar ao recreio, ocupando o campo onde se jogava à bola. Ficaram calados até o campo se encher, não cabia mais ninguém. Uma voz gritou: “um, dois, três” e todos os pais responderam: “Obrigado Filhos!!!”
terça-feira, novembro 29, 2005
Vouginha: do Metro do Porto ao TGV
Na quietude dos dias do século passado, o fumo do Vouguinha rasgava o lado poente de S. João da Madeira. Ainda hoje, apesar de ter deixado o vapor, nas tardes calmas de fim de semana ecoa o som do seu apito, quebrando o silêncio dos dias de descanso. O comboio da Linha do Vale do Vouga teve sempre direito a diminutivo, foi sempre tratado carinhosamente pelos habitantes da região. O movimento das locomotivas e suas carruagens surgiu em 1908, quando este caminho de ferro foi inaugurado, ligando numa primeira fase Espinho a Oliveira de Azeméis. Esta Linha tinha como propósito ligar Viseu ao litoral, objectivo conseguido em 1914. Em seis anos foram construídos 140 quilómetros de carris, aproveitando-se o vale formado pelo Rio Vouga, para ligar a Beira Alta ao litoral. Ao projecto inicial, entroncou-se em 1911, a ligação por via férrea entre Aveiro e Sernada do Vouga – freguesia do concelho de Águeda, que ficou conhecido pelo ramal de Aveiro.
Desde o final de 1989, o Vouginha já não ecoa no seu Vale. A linha resume-se agora à ligação de Espinho até Sernada, mantendo-se o ramal desta estação a Aveiro. Os carris são agora menos, apenas os 62 km de norte para sul, mais os 34 do ramal. Do tempo do vapor, resta agora o Museu, em Macinhata do Vouga.
Factores como a velocidade e os horários dos comboios são fundamentais nas opções de quem pode preferir este transporte. A linha do Vouga está dotada de automotoras herdadas da antiga linha da Póvoa, que atingem velocidades máximas de 70 km/h, caso o estado dos carris o permita. Pelo que pude constatar, de Oliveira de Azeméis para Sul o estado da linha está muito degradado, limitando o andamento das automotoras a 35 km/h. Por outro lado, os horários não são os mais adequados nem para quem trabalha na indústria, nem para serviços e comércios. Algumas estações e apeadeiros, além de estarem muito degradadas, obrigam a paragens do comboio para entrar um ou dois passageiros.
A reconversão desta linha em Metro de Superfície foi um projecto que surgiu há vários anos mas, nunca se concretizou. Na última campanha para as eleições autárquicas, o partido vencedor lançou de novo a ideia. Não cheguei a perceber qual o alcance territorial deste Metro. Se o objectivo único é promover a mobilidade na Região Entre Douro e Vouga (EDV), penso que o projecto não terá viabilidade. Outras regiões, ou agrupamento de concelhos estão a reavaliar os seus projectos de Metro de Superfície, como é o caso de Coimbra e o seu Metro para a Linha da Lousã. Para quem pode, o automóvel próprio é sempre a opção mais rápida e o transito na EDV não é muito intenso, com excepção da ligação de Santa Maria da Feira a S. João da Madeira. As pequenas deslocações dificilmente se farão por Metro.
Caso a opção seja aproveitar o limite do percurso da linha do Vouga, inaugurado em 1908, mas com horários regulares, havendo partidas de quinze em quinze minutos ora para Norte, ora para Sul, poderá ser vantajoso para algumas pessoas deslocarem-se por Metro. No entanto, isto não me parece suficiente para a viabilidade deste projecto. Um Metro a Sul da Área Metropolitana do Porto (AMP) faria certamente pressão suficiente para ligar Espinho a Vila Nova de Gaia e desta forma, expandir o Metro do Porto. Os concelhos do Sul teriam um transporte muito mais rápido e envolvente com o centro da grande cidade e claro, muito mais cómodo.
Penso que a entrada de S. João da Madeira para a AMP, só fará sentido quando este concelho deixar para trás a região híbrida do Entre Douro e Vouga e se envolver plenamente nos projectos comuns com os seus novos parceiros, não desperdiçando nem recursos, nem energias em projectos virtuais.
Apesar desta ser a solução mais lógica, penso que devia ser dada mais dimensão ao Metro. Se a Norte um novo rumo pode ser dado ao “Vouguinha”, o que dizer a Sul? Dado o consenso da estação ferroviária de Aveiro como ponto de paragem tanto do Alfa Pendular, como do comboio de Alta Velocidade, no caso de construção da linha vulgarmente designada como TGV, é imperioso ligar toda esta região a esse rápido e “fashion” transporte, sobretudo para quem se desloca para a capital . Obviamente que o trajecto actual não serve. A passagem por Águeda retira rapidez na ligação a Aveiro. O ideal seria ao trajecto actual S. João da Madeira - Oliveira de Azeméis - Albergaria a – Velha construir um troço entre esta cidade e Aveiro. A viabilidade seria conseguida, claro está, com horários complementares à paragem do comboio rápido em Aveiro mas apenas nas sedes de concelho.
Os próximos tempos serão decisivos em matéria de opções do governo sobre os grandes investimentos públicos. O regresso às ligações ferroviárias, quer em Alta Velocidade, quer em velocidade média, está de novo na ordem do dia. Paralelamente, deviam ser lançados estudos sobre a viabilidade da reconversão da linha do Vouga em Metro de Superfície. Nos últimos tempos, Portugal discutiu muito sobre esses investimentos e adiou a construção da ligação ferroviária em Alta Velocidade a Espanha. À nossa escala, não podemos cometer os mesmos erros, a reconversão do Vouginha devia começar já.
Desde o final de 1989, o Vouginha já não ecoa no seu Vale. A linha resume-se agora à ligação de Espinho até Sernada, mantendo-se o ramal desta estação a Aveiro. Os carris são agora menos, apenas os 62 km de norte para sul, mais os 34 do ramal. Do tempo do vapor, resta agora o Museu, em Macinhata do Vouga.
Factores como a velocidade e os horários dos comboios são fundamentais nas opções de quem pode preferir este transporte. A linha do Vouga está dotada de automotoras herdadas da antiga linha da Póvoa, que atingem velocidades máximas de 70 km/h, caso o estado dos carris o permita. Pelo que pude constatar, de Oliveira de Azeméis para Sul o estado da linha está muito degradado, limitando o andamento das automotoras a 35 km/h. Por outro lado, os horários não são os mais adequados nem para quem trabalha na indústria, nem para serviços e comércios. Algumas estações e apeadeiros, além de estarem muito degradadas, obrigam a paragens do comboio para entrar um ou dois passageiros.
A reconversão desta linha em Metro de Superfície foi um projecto que surgiu há vários anos mas, nunca se concretizou. Na última campanha para as eleições autárquicas, o partido vencedor lançou de novo a ideia. Não cheguei a perceber qual o alcance territorial deste Metro. Se o objectivo único é promover a mobilidade na Região Entre Douro e Vouga (EDV), penso que o projecto não terá viabilidade. Outras regiões, ou agrupamento de concelhos estão a reavaliar os seus projectos de Metro de Superfície, como é o caso de Coimbra e o seu Metro para a Linha da Lousã. Para quem pode, o automóvel próprio é sempre a opção mais rápida e o transito na EDV não é muito intenso, com excepção da ligação de Santa Maria da Feira a S. João da Madeira. As pequenas deslocações dificilmente se farão por Metro.
Caso a opção seja aproveitar o limite do percurso da linha do Vouga, inaugurado em 1908, mas com horários regulares, havendo partidas de quinze em quinze minutos ora para Norte, ora para Sul, poderá ser vantajoso para algumas pessoas deslocarem-se por Metro. No entanto, isto não me parece suficiente para a viabilidade deste projecto. Um Metro a Sul da Área Metropolitana do Porto (AMP) faria certamente pressão suficiente para ligar Espinho a Vila Nova de Gaia e desta forma, expandir o Metro do Porto. Os concelhos do Sul teriam um transporte muito mais rápido e envolvente com o centro da grande cidade e claro, muito mais cómodo.
Penso que a entrada de S. João da Madeira para a AMP, só fará sentido quando este concelho deixar para trás a região híbrida do Entre Douro e Vouga e se envolver plenamente nos projectos comuns com os seus novos parceiros, não desperdiçando nem recursos, nem energias em projectos virtuais.
Apesar desta ser a solução mais lógica, penso que devia ser dada mais dimensão ao Metro. Se a Norte um novo rumo pode ser dado ao “Vouguinha”, o que dizer a Sul? Dado o consenso da estação ferroviária de Aveiro como ponto de paragem tanto do Alfa Pendular, como do comboio de Alta Velocidade, no caso de construção da linha vulgarmente designada como TGV, é imperioso ligar toda esta região a esse rápido e “fashion” transporte, sobretudo para quem se desloca para a capital . Obviamente que o trajecto actual não serve. A passagem por Águeda retira rapidez na ligação a Aveiro. O ideal seria ao trajecto actual S. João da Madeira - Oliveira de Azeméis - Albergaria a – Velha construir um troço entre esta cidade e Aveiro. A viabilidade seria conseguida, claro está, com horários complementares à paragem do comboio rápido em Aveiro mas apenas nas sedes de concelho.
Os próximos tempos serão decisivos em matéria de opções do governo sobre os grandes investimentos públicos. O regresso às ligações ferroviárias, quer em Alta Velocidade, quer em velocidade média, está de novo na ordem do dia. Paralelamente, deviam ser lançados estudos sobre a viabilidade da reconversão da linha do Vouga em Metro de Superfície. Nos últimos tempos, Portugal discutiu muito sobre esses investimentos e adiou a construção da ligação ferroviária em Alta Velocidade a Espanha. À nossa escala, não podemos cometer os mesmos erros, a reconversão do Vouginha devia começar já.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Assobiar Dexis
O recente anúncio publicitário de uma instituição de crédito nacional, incentiva os jovens até aos 35 anos a recorrerem às condições por eles oferecidas para adquirirem habitação. O anúncio é bem simpático por sinal, ao associar a minha geração com uma música dos Dexis Midnigt Runners.
Tivemos sorte. Há alguns anos atrás chamaram-nos “geração rasca” e encharcaram-nos os ouvidos com música pimba. Agora, separado o trigo do joio, mostram-nos com um ar moderno em várias actividades. O que o anúncio televisivo se esqueceu, foi de explicar porque é que alguém aos 35 anos precisa de comprar uma habitação maior. Os vários assobiadores aparecem todos individualmente, sem demonstrarem o seu lado familiar. Para alguns, como é óbvio, a necessidade de compra de uma habitação com maior área surge pelo aumento do número de elementos da família. A vontade de proporcionar uma vida com qualidade aos nossos descendentes, atira-nos para um novo crédito e endividamento até aos 70 anos.
Além desta característica comum, os jovens que cantaram pela noite fora “Come on Eileen”, debatem-se com os sonos, ou a falta deles, dos seus filhos. É usual em encontros de “trintões” ouvirmos falar em noites mal dormidas, insónias até às 5 ou mais da manhã e o facto mais difícil de entender, o acordar cedo, bem cedo, dos pequenos príncipes e princesas ao fim de semana.
Um certo sábado de Setembro, com os primeiros raios solares, uma vozinha chamava-me: “Pai!...”. Mal viu um olho aberto disparou: “o parque Infantil de Arada já abriu! Podemos lá ir?”. À pergunta, como é que sabes, resposta imediata, “está uma placa no poste em frente ao meu quarto, com uns senhores a dizer o caminho”. Surpresa matinal e esforço para perceber. A placa, era afinal um cartaz de propaganda política, para as eleições autárquicas, com uma fotografia colectiva dos membros de uma das listas concorrentes, que tinha como fundo, o novo parque infantil de Arada. Tínhamos acompanhado o inicio das obras, semana após semana e a ansiedade gerada nos miúdos, era recompensada com aquela visão matinal. O prazer de brincar em parques infantis é um dos encantos inesgotáveis das crianças.
Tal como outros, o concelho de S. João da Madeira também apostou nestes equipamentos, abrindo de uma assentada dois parques, no inicio do passado mês de Outubro. Este facto permitiu a muitos habitantes da cidade regressar ao Parque Ferreira de Castro, assim como o rappel já havia sido responsável por algumas peregrinações a Fundo de Vila. Excelentes exemplos da reabilitação urbana de que foi alvo S. João da Madeira nos últimos anos. O centro é que não teve tanta sorte. Todos estes parques são periféricos e a sedução dos mais pequenos retira muitos dos apreciadores da Praça para outros locais. Os comerciantes bem se esforçam, mas uma ida à Praça Luís Ribeiro já não tem o mesmo encanto.
A zona pedonal da cidade tem sofrido algum abandono. Especula-se sobre a necessidade de a abrir ao trânsito, altera-se o sentido de trânsito numa rua, introduz-se transportes especiais no centro e lentamente, esta zona perde o seu sentido pedonal. Existem várias cidades, de variada dimensão, com zonas vedadas ao trânsito, voltadas para o lazer dos seus habitantes, estimulando a partilha de espaços públicos por várias gerações.
Seria bom que a rede de parques infantis no concelho se centralizasse, começando pela criação de um parque na Praça (ali no topo Norte, na confluência da Rua Oliveira Júnior, com a rua Dr. Maciel, por exemplo). A cidade agradecia, os mais pequenos também. Os da geração do assobio podiam voltar à Praça e mesmo os avós teriam mais motivos para sorrir.
Tivemos sorte. Há alguns anos atrás chamaram-nos “geração rasca” e encharcaram-nos os ouvidos com música pimba. Agora, separado o trigo do joio, mostram-nos com um ar moderno em várias actividades. O que o anúncio televisivo se esqueceu, foi de explicar porque é que alguém aos 35 anos precisa de comprar uma habitação maior. Os vários assobiadores aparecem todos individualmente, sem demonstrarem o seu lado familiar. Para alguns, como é óbvio, a necessidade de compra de uma habitação com maior área surge pelo aumento do número de elementos da família. A vontade de proporcionar uma vida com qualidade aos nossos descendentes, atira-nos para um novo crédito e endividamento até aos 70 anos.
Além desta característica comum, os jovens que cantaram pela noite fora “Come on Eileen”, debatem-se com os sonos, ou a falta deles, dos seus filhos. É usual em encontros de “trintões” ouvirmos falar em noites mal dormidas, insónias até às 5 ou mais da manhã e o facto mais difícil de entender, o acordar cedo, bem cedo, dos pequenos príncipes e princesas ao fim de semana.
Um certo sábado de Setembro, com os primeiros raios solares, uma vozinha chamava-me: “Pai!...”. Mal viu um olho aberto disparou: “o parque Infantil de Arada já abriu! Podemos lá ir?”. À pergunta, como é que sabes, resposta imediata, “está uma placa no poste em frente ao meu quarto, com uns senhores a dizer o caminho”. Surpresa matinal e esforço para perceber. A placa, era afinal um cartaz de propaganda política, para as eleições autárquicas, com uma fotografia colectiva dos membros de uma das listas concorrentes, que tinha como fundo, o novo parque infantil de Arada. Tínhamos acompanhado o inicio das obras, semana após semana e a ansiedade gerada nos miúdos, era recompensada com aquela visão matinal. O prazer de brincar em parques infantis é um dos encantos inesgotáveis das crianças.
Tal como outros, o concelho de S. João da Madeira também apostou nestes equipamentos, abrindo de uma assentada dois parques, no inicio do passado mês de Outubro. Este facto permitiu a muitos habitantes da cidade regressar ao Parque Ferreira de Castro, assim como o rappel já havia sido responsável por algumas peregrinações a Fundo de Vila. Excelentes exemplos da reabilitação urbana de que foi alvo S. João da Madeira nos últimos anos. O centro é que não teve tanta sorte. Todos estes parques são periféricos e a sedução dos mais pequenos retira muitos dos apreciadores da Praça para outros locais. Os comerciantes bem se esforçam, mas uma ida à Praça Luís Ribeiro já não tem o mesmo encanto.
A zona pedonal da cidade tem sofrido algum abandono. Especula-se sobre a necessidade de a abrir ao trânsito, altera-se o sentido de trânsito numa rua, introduz-se transportes especiais no centro e lentamente, esta zona perde o seu sentido pedonal. Existem várias cidades, de variada dimensão, com zonas vedadas ao trânsito, voltadas para o lazer dos seus habitantes, estimulando a partilha de espaços públicos por várias gerações.
Seria bom que a rede de parques infantis no concelho se centralizasse, começando pela criação de um parque na Praça (ali no topo Norte, na confluência da Rua Oliveira Júnior, com a rua Dr. Maciel, por exemplo). A cidade agradecia, os mais pequenos também. Os da geração do assobio podiam voltar à Praça e mesmo os avós teriam mais motivos para sorrir.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Sabor a Mufete
Waldemar Bastos é um músico Angolano, com um vasto percurso musical. É um dos rostos mais conhecidos da denominada, World Music. Viveu exilado em Portugal, saindo do seu país devido à guerra civil e por divergências com o MPLA. Gravou os seus discos no Brasil e como o seu talento foi reconhecido, David Byrne, ex - vocalista dos Talking Heads, convidou-o para gravar no seu estúdio nos EUA. Do seu repertório musical destaca-se o primeiro disco, de 1986, intitulado “Estamos juntos”, expressão utilizada pelos angolanos quando se despedem de alguém, em reconhecimento de amizade. O disco de Waldemar é um produto afro, cheio de batucada, coristas e sabor a mufete.
A saudação da fraternidade angolana, esteve na origem do nome da Associação Estamos Juntos. Curiosamente, oficializava-se nesta cidade no mesmo ano da edição desse disco de Waldemar Bastos. A associação não surgiu do nada. Estava-se no final do 5º Campo de Férias, quando se escrituraram os Estatutos. Até aí um grupo de jovens, liderados por Armando Margalho, havia organizado, anualmente, actividades de ocupação dos tempos livres, nas férias grandes de miúdos e jovens dos 4 aos 12 anos.
Voltar a escrever a história desta Associação, não é o propósito destas linhas. Pretende-se apenas lembrar a origem, daquela que hoje é notícia pela eleição de uma nova direcção. A 27 do mês passado, como certamente será noticiado nas páginas deste jornal, a Associação Estamos Juntos elegeu, pela primeira vez, uma direcção não formada por sócios fundadores. Dezanove anos depois, aqueles que estiveram presentes na constituição da associação, deram o seu lugar a outros. Mais novos, bastante mais, nalguns casos. Na assembleia geral, estiveram presentes 6 sócios fundadores, uma clara demonstração do afecto destes pela Associação. É com a sensação de dever cumprido, que assisto a esta passagem de testemunho que, representa igualmente, uma mudança de geração.
Durante estes anos, a Associação Estamos Juntos tornou-se um clube desportivo de referência da cidade. Possui 7 secções desportivas, o que o torna num clube bastante ecléctico. Organiza anualmente, de forma bem sucedida, o Campo de Férias Estamos Juntos – que tal como outrora, ainda é a principal actividade da cidade para ocupação dos tempos livres dos jovens, no período de férias. A dinâmica desta Associação é bem visível na sua sede social, cedida em boa hora pela Câmara Municipal de S. João da Madeira. Aliás, a Associação Estamos Juntos tornou-se um parceiro institucional da autarquia no tocante a políticas de juventude e desportivas.
Com quase 20 anos de história, a Associação Estamos Juntos é reconhecidamente o 2º clube desportivo da cidade. Para isso, muito contribuíram os resultados desportivos dos seus atletas, sob a orientação dos respectivos treinadores e apoio dos vários seccionistas, directores e claro está, presidentes do clube. É um clube singular, pois sendo uma Associação Juvenil assiste praticamente todos os anos à saída dos seus atletas para ingressarem nas Universidades e jamais voltarem a competirem com as suas cores. E o mesmo acontece com os participantes do Campo de Férias, que vão crescendo, ano após ano, até ao limite da idade de participação, e que depois pelos estudos ou por causas laborais, desaparecem das Corgas.
Desde 1982 já passaram por esta Associação centenas ou mesmo, milhares de jovens. Desta cidade, dos arredores, de outros pontos do nosso país mesmo até de outros países. Importa destacar isso mesmo, para se perceber melhor que, existe por esse mundo fora, gente com várias recordações desta cidade e uma das mais importantes é a Associação Estamos Juntos.
Para todos eles, Estamos juntos.
A saudação da fraternidade angolana, esteve na origem do nome da Associação Estamos Juntos. Curiosamente, oficializava-se nesta cidade no mesmo ano da edição desse disco de Waldemar Bastos. A associação não surgiu do nada. Estava-se no final do 5º Campo de Férias, quando se escrituraram os Estatutos. Até aí um grupo de jovens, liderados por Armando Margalho, havia organizado, anualmente, actividades de ocupação dos tempos livres, nas férias grandes de miúdos e jovens dos 4 aos 12 anos.
Voltar a escrever a história desta Associação, não é o propósito destas linhas. Pretende-se apenas lembrar a origem, daquela que hoje é notícia pela eleição de uma nova direcção. A 27 do mês passado, como certamente será noticiado nas páginas deste jornal, a Associação Estamos Juntos elegeu, pela primeira vez, uma direcção não formada por sócios fundadores. Dezanove anos depois, aqueles que estiveram presentes na constituição da associação, deram o seu lugar a outros. Mais novos, bastante mais, nalguns casos. Na assembleia geral, estiveram presentes 6 sócios fundadores, uma clara demonstração do afecto destes pela Associação. É com a sensação de dever cumprido, que assisto a esta passagem de testemunho que, representa igualmente, uma mudança de geração.
Durante estes anos, a Associação Estamos Juntos tornou-se um clube desportivo de referência da cidade. Possui 7 secções desportivas, o que o torna num clube bastante ecléctico. Organiza anualmente, de forma bem sucedida, o Campo de Férias Estamos Juntos – que tal como outrora, ainda é a principal actividade da cidade para ocupação dos tempos livres dos jovens, no período de férias. A dinâmica desta Associação é bem visível na sua sede social, cedida em boa hora pela Câmara Municipal de S. João da Madeira. Aliás, a Associação Estamos Juntos tornou-se um parceiro institucional da autarquia no tocante a políticas de juventude e desportivas.
Com quase 20 anos de história, a Associação Estamos Juntos é reconhecidamente o 2º clube desportivo da cidade. Para isso, muito contribuíram os resultados desportivos dos seus atletas, sob a orientação dos respectivos treinadores e apoio dos vários seccionistas, directores e claro está, presidentes do clube. É um clube singular, pois sendo uma Associação Juvenil assiste praticamente todos os anos à saída dos seus atletas para ingressarem nas Universidades e jamais voltarem a competirem com as suas cores. E o mesmo acontece com os participantes do Campo de Férias, que vão crescendo, ano após ano, até ao limite da idade de participação, e que depois pelos estudos ou por causas laborais, desaparecem das Corgas.
Desde 1982 já passaram por esta Associação centenas ou mesmo, milhares de jovens. Desta cidade, dos arredores, de outros pontos do nosso país mesmo até de outros países. Importa destacar isso mesmo, para se perceber melhor que, existe por esse mundo fora, gente com várias recordações desta cidade e uma das mais importantes é a Associação Estamos Juntos.
Para todos eles, Estamos juntos.
quinta-feira, outubro 20, 2005
A aldeia de Astérix
Nos dias seguintes às eleições, a imprensa nacional tem o bom hábito de apresentar os resultados por via de mapas do nosso país, indicando quem foi o vencedor em cada concelho e atribuindo a cada partido ou coligação partidária uma determinada cor. Esta perspectiva, permite verificar tendências de voto em determinadas zonas do país e encontrar de forma rápida o resultado eleitoral de alguns concelhos, cuja localização nos é familiar.
Nas eleições do passado dia 9, a observação da zona entre rios Douro e Vouga conduz-nos a uma sucessão de concelhos pintados a cor de laranja – concelhos com vitória do PSD, com as faixas laterais pintadas a cor de rosa – concelhos com vitória do PS. Nesses mapas globais, os editores têm sempre dificuldade em contemplar o concelho de S. João da Madeira por motivos vários, como por exemplo, na revista Visão do dia 13 de Outubro, que sobrepôs o nome do distrito à área deste concelho, ficando uma letra a tapar os seus contornos, o que não permitiu evidenciar a separação dos concelhos vizinhos.
Esta tendência editorial surgiu na década anterior, quando os jornais passaram a apresentar páginas a cores. A partir dessa época a apresentação no tocante a resultados das eleições autárquicas era bem mais dignificante para S. João da Madeira. A sua visibilidade era sempre maior, devido a ser apresentado por um ponto azul – símbolo da vitória do CDS/PP - no meio do mesclado laranja e rosa.
Chamava sempre a atenção. Sobretudo, para aqueles que do seu imaginário infantil, se recordam dos livros de Astérix. À terceira página surgia o mapa da Gália e por baixo da lupa a aldeia do herói gaulês. A legenda continha as seguintes frases: “Toda a Gália está ocupada pelos Romanos... Toda? Não! Uma aldeia habitada por irredutíveis gauleses resiste sempre ao invasor”. Com as devidas proporções, evidentemente. A situação ainda ficou mais bizarra, quando nas várias entradas da cidade se colocaram “dois menires” em paralelo.
Apesar da longevidade de Astérix, os tempos são agora outros. O próprio autor do nosso (ou meu) herói, apesar de ser um digno representante da banda desenhada europeia, tem introduzido nos seus livros sinais de mangas – BD japonesa – e de comics americanos, como no último livro, lançado a 14 do presente mês, “ O Céu cai-lhe em cima da cabeça”.
Sinal dessa mudança de tempos, o PSD saiu claro vencedor das eleições autárquicas neste concelho. Uma vitória por maioria absoluta em todas as frentes. A eleição do 5º elemento para o executivo camarário foi deveras uma surpresa, mesmo sabendo que era esse o propósito do reconduzido Presidente da Câmara, desde Dezembro de 2001. Conseguiu-o por pouco mais de 400 votos, os mesmos que fugiram ao PS, para eleger o segundo vereador e sair destas eleições de cabeça erguida, pois teria contrariado o objectivo do PSD. Curiosamente, na votação para a Assembleia Municipal e para a Junta de Freguesia, o PS obteve esses votos!?
Espera-se que a oposição saída destas eleições não hiberne. O PS tem que continuar a sua reestruturação, apresentando alternativas construtivas aos projectos e à dinâmica imposta por Castro Almeida. Não pode esperar por Maio de 2009 e verificar que é necessário encontrar um candidato às eleições autárquicas desse ano. A menos que encontre uma solução semelhante à do PSD em 2001...
E do executivo Camarário, o que se espera? Pelo apresentado e pelos votos conquistados, espero que a meta não seja chegar ao sexto vereador em 2009. A sucessão de inaugurações nos próximos 4 anos vão transformar a cidade. Elejo apenas estas: Centro Empresarial, Cinema Imperador e o novo Centro Comercial na Avenida Renato Araújo. Contudo, gostaria que o novo executivo, perante as questões sociais deste concelho e dos limítrofes, promovesse uma política de emprego ambiciosa, à semelhança do prometido pelos seus correligionários de partido e de área metropolitana.
A poção mágica de S. João da Madeira foi, é e será na minha opinião, a sua capacidade industrial. Reformular o tipo de produção, qualificando os seus agentes, procurando novos produtos com maior valor acrescentado é um desafio da economia nacional e que se aplica particularmente a este concelho.
Nas eleições do passado dia 9, a observação da zona entre rios Douro e Vouga conduz-nos a uma sucessão de concelhos pintados a cor de laranja – concelhos com vitória do PSD, com as faixas laterais pintadas a cor de rosa – concelhos com vitória do PS. Nesses mapas globais, os editores têm sempre dificuldade em contemplar o concelho de S. João da Madeira por motivos vários, como por exemplo, na revista Visão do dia 13 de Outubro, que sobrepôs o nome do distrito à área deste concelho, ficando uma letra a tapar os seus contornos, o que não permitiu evidenciar a separação dos concelhos vizinhos.
Esta tendência editorial surgiu na década anterior, quando os jornais passaram a apresentar páginas a cores. A partir dessa época a apresentação no tocante a resultados das eleições autárquicas era bem mais dignificante para S. João da Madeira. A sua visibilidade era sempre maior, devido a ser apresentado por um ponto azul – símbolo da vitória do CDS/PP - no meio do mesclado laranja e rosa.
Chamava sempre a atenção. Sobretudo, para aqueles que do seu imaginário infantil, se recordam dos livros de Astérix. À terceira página surgia o mapa da Gália e por baixo da lupa a aldeia do herói gaulês. A legenda continha as seguintes frases: “Toda a Gália está ocupada pelos Romanos... Toda? Não! Uma aldeia habitada por irredutíveis gauleses resiste sempre ao invasor”. Com as devidas proporções, evidentemente. A situação ainda ficou mais bizarra, quando nas várias entradas da cidade se colocaram “dois menires” em paralelo.
Apesar da longevidade de Astérix, os tempos são agora outros. O próprio autor do nosso (ou meu) herói, apesar de ser um digno representante da banda desenhada europeia, tem introduzido nos seus livros sinais de mangas – BD japonesa – e de comics americanos, como no último livro, lançado a 14 do presente mês, “ O Céu cai-lhe em cima da cabeça”.
Sinal dessa mudança de tempos, o PSD saiu claro vencedor das eleições autárquicas neste concelho. Uma vitória por maioria absoluta em todas as frentes. A eleição do 5º elemento para o executivo camarário foi deveras uma surpresa, mesmo sabendo que era esse o propósito do reconduzido Presidente da Câmara, desde Dezembro de 2001. Conseguiu-o por pouco mais de 400 votos, os mesmos que fugiram ao PS, para eleger o segundo vereador e sair destas eleições de cabeça erguida, pois teria contrariado o objectivo do PSD. Curiosamente, na votação para a Assembleia Municipal e para a Junta de Freguesia, o PS obteve esses votos!?
Espera-se que a oposição saída destas eleições não hiberne. O PS tem que continuar a sua reestruturação, apresentando alternativas construtivas aos projectos e à dinâmica imposta por Castro Almeida. Não pode esperar por Maio de 2009 e verificar que é necessário encontrar um candidato às eleições autárquicas desse ano. A menos que encontre uma solução semelhante à do PSD em 2001...
E do executivo Camarário, o que se espera? Pelo apresentado e pelos votos conquistados, espero que a meta não seja chegar ao sexto vereador em 2009. A sucessão de inaugurações nos próximos 4 anos vão transformar a cidade. Elejo apenas estas: Centro Empresarial, Cinema Imperador e o novo Centro Comercial na Avenida Renato Araújo. Contudo, gostaria que o novo executivo, perante as questões sociais deste concelho e dos limítrofes, promovesse uma política de emprego ambiciosa, à semelhança do prometido pelos seus correligionários de partido e de área metropolitana.
A poção mágica de S. João da Madeira foi, é e será na minha opinião, a sua capacidade industrial. Reformular o tipo de produção, qualificando os seus agentes, procurando novos produtos com maior valor acrescentado é um desafio da economia nacional e que se aplica particularmente a este concelho.
quinta-feira, setembro 29, 2005
O bom governador Sancho Pança
Sabiam os leitores que o famoso Sancho Pança foi governador de uma ilha?
A ilha situava-se em pleno reino de Aragão e não era circundada por água mas, esse pormenor geográfico, não afectou Sancho Pança no desempenho das suas funções. A nomeação foi feita pelo Duque e senhor daquelas terras, em sinal do reconhecimento da dedicação e devoção de Sancho, enquanto escudeiro do Cavaleiro da Triste Figura, D. Quixote de la Mancha, o último dos cavaleiros Andantes.
O seu governo durou pouco, apenas uma semana. Durante esse período, Sancho dedicou-se a resolver os conflitos que iam surgindo na ilha. A todos eles respondeu com mestria, surpreendendo os demais. Emendou injustiças, desmascarou burlões e evitou com facilidade uma trapalhada que lhe queria propor um desonesto comerciante. Ao fim de 8 dias Sancho Pança abdicou invocando dois motivos. Por um lado, não aguentou o controlo à sua degustação por parte do seu médico. Passou fome o que, para um sôfrego comedor e ainda por cima sendo novel governador, esperando poder comer todas iguarias possíveis devido ao cargo exercido, foi terrível. Por outro lado, ao verificar a sua falta de capacidade de liderar as suas tropas, no ataque virtual dos seus inimigos, entendeu que o lugar de governador não lhe era ajustado, preferindo por isso continuar a ser fiel escudeiro de D. Quixote.
Tudo isto nos conta Miguel Cervantes, no seu livro, publicado em dois volumes – “O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha” - considerado por muitos como o primeiro romance da era moderna e pelo autor como o último livro sobre a Cavalaria Andante. As lições de ética e honestidade de Sancho Pança e os bons conselhos de D. Quixote ao seu escudeiro, antes de este se tornar governador, são eternos. Numa clara prova da eternidade da literatura. Não consta, segundo o relato de Miguel Cervantes, que Sancho Pança tivesse inaugurado qualquer estrada, ou ponte, ou qualquer tipo de edificação. Nem sequer projectado. O seu governo ficou perpetuado pela história, pelas palavras e não pela construção. Hoje, praticamente 400 anos depois do seu governo, Sancho Pança é mais recordado do que qualquer Alcaide seu contemporâneo, Aragonês, Manchego ou até Português, pois nessa época toda a Península Ibérica estava unificada sob a coroa Espanhola.
Recentemente, o conhecido comentador desportivo, candidato à presidência da Câmara Municipal de Sintra, numa entrevista dizia mais ou menos o seguinte “Na actual conjuntura económica do país, com o PEC e a necessidade de redução do défice, nos próximos 4 anos as verbas do PIDAC serão cada vez menores. (...) Prometer grandes investimentos para o concelho seria pura demagogia (...)”.
De norte a sul, da esquerda à direita, passando pelos demais independentes, a ânsia da eternidade não permite aos candidatos a autarcas verificarem a realidade económica do país. Sobretudo ao elaborarem programas eleitorais, nos quais sobejam projectos e mais projectos de construção, ampliação e outras tantas obras de renovação de vários equipamentos existentes nos respectivos concelhos, além das inevitáveis melhorias das acessibilidades... Esses programas de promoção de obras municipais, ou melhor, estes “cadernos de encargos” parecem seduzir mais os empreiteiros do que os próprios munícipes.
Por vezes, os nossos autarcas enquanto candidatos devem ser atacados pelos mesmos nigromantes e demónios que atormentavam D. Quixote, os famosos encantamentos, que transformavam gigantes em moinhos de vento, cabeças de gigante em odres de vinho, exércitos de Cavaleiros em rebanhos de ovelhas e mesmo a bela donzela Dulcinea numa vulgar e carrancuda camponesa...
A ilha situava-se em pleno reino de Aragão e não era circundada por água mas, esse pormenor geográfico, não afectou Sancho Pança no desempenho das suas funções. A nomeação foi feita pelo Duque e senhor daquelas terras, em sinal do reconhecimento da dedicação e devoção de Sancho, enquanto escudeiro do Cavaleiro da Triste Figura, D. Quixote de la Mancha, o último dos cavaleiros Andantes.
O seu governo durou pouco, apenas uma semana. Durante esse período, Sancho dedicou-se a resolver os conflitos que iam surgindo na ilha. A todos eles respondeu com mestria, surpreendendo os demais. Emendou injustiças, desmascarou burlões e evitou com facilidade uma trapalhada que lhe queria propor um desonesto comerciante. Ao fim de 8 dias Sancho Pança abdicou invocando dois motivos. Por um lado, não aguentou o controlo à sua degustação por parte do seu médico. Passou fome o que, para um sôfrego comedor e ainda por cima sendo novel governador, esperando poder comer todas iguarias possíveis devido ao cargo exercido, foi terrível. Por outro lado, ao verificar a sua falta de capacidade de liderar as suas tropas, no ataque virtual dos seus inimigos, entendeu que o lugar de governador não lhe era ajustado, preferindo por isso continuar a ser fiel escudeiro de D. Quixote.
Tudo isto nos conta Miguel Cervantes, no seu livro, publicado em dois volumes – “O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha” - considerado por muitos como o primeiro romance da era moderna e pelo autor como o último livro sobre a Cavalaria Andante. As lições de ética e honestidade de Sancho Pança e os bons conselhos de D. Quixote ao seu escudeiro, antes de este se tornar governador, são eternos. Numa clara prova da eternidade da literatura. Não consta, segundo o relato de Miguel Cervantes, que Sancho Pança tivesse inaugurado qualquer estrada, ou ponte, ou qualquer tipo de edificação. Nem sequer projectado. O seu governo ficou perpetuado pela história, pelas palavras e não pela construção. Hoje, praticamente 400 anos depois do seu governo, Sancho Pança é mais recordado do que qualquer Alcaide seu contemporâneo, Aragonês, Manchego ou até Português, pois nessa época toda a Península Ibérica estava unificada sob a coroa Espanhola.
Recentemente, o conhecido comentador desportivo, candidato à presidência da Câmara Municipal de Sintra, numa entrevista dizia mais ou menos o seguinte “Na actual conjuntura económica do país, com o PEC e a necessidade de redução do défice, nos próximos 4 anos as verbas do PIDAC serão cada vez menores. (...) Prometer grandes investimentos para o concelho seria pura demagogia (...)”.
De norte a sul, da esquerda à direita, passando pelos demais independentes, a ânsia da eternidade não permite aos candidatos a autarcas verificarem a realidade económica do país. Sobretudo ao elaborarem programas eleitorais, nos quais sobejam projectos e mais projectos de construção, ampliação e outras tantas obras de renovação de vários equipamentos existentes nos respectivos concelhos, além das inevitáveis melhorias das acessibilidades... Esses programas de promoção de obras municipais, ou melhor, estes “cadernos de encargos” parecem seduzir mais os empreiteiros do que os próprios munícipes.
Por vezes, os nossos autarcas enquanto candidatos devem ser atacados pelos mesmos nigromantes e demónios que atormentavam D. Quixote, os famosos encantamentos, que transformavam gigantes em moinhos de vento, cabeças de gigante em odres de vinho, exércitos de Cavaleiros em rebanhos de ovelhas e mesmo a bela donzela Dulcinea numa vulgar e carrancuda camponesa...
sábado, setembro 17, 2005
Tendências de voto
Os resultados eleitorais em S. João da Madeira nos últimos 10 anos permitem constatar que os eleitores Sanjoanenses votam em sentidos opostos: quando se trata de eleições legislativas ou europeias, o voto tende para o Partido Socialista e nas eleições autárquicas o voto tende a divergir. Em 1995, 1999 e 2005, para as eleições legislativas, a vitória nacional do PS sempre foi acompanhada, também nesta cidade, pelo maior número de votos neste partido. Mesmo em 2002, após o descalabro do governo de António Guterres, o PS foi o partido mais votado em S. João da Madeira nas eleições legislativas desse ano, contrariando a tendência distrital e nacional, que permitiram a vitória ao PSD.
Se analisarmos os resultados locais das várias eleições na década anterior, de 1985 a 1991, verificamos um acompanhamento da tendência nacional da época, isto é, vitórias claras do PSD. Ou seja, desde 1995, houve uma inflexão na tendência de voto dos eleitores Sanjoanenses, que passaram a votar maioritariamente no PS.
Em termos de eleições locais, desde esse ano que os resultados tiveram desfechos diferentes. Nas autárquicas de 1997, o CDS/PP venceu por apenas 199 votos de diferença e em 2001,o PSD triunfou com maioria absoluta, no tocante ao número de vereadores eleitos. Entre as duas eleições, o PS local passou de segunda força política para terceira. Passou da derrota por apenas 200 votos, com maioria na Assembleia Municipal e conquista da Junta de Freguesia, para o pior resultado de sempre em eleições autárquicas.
Se quiséssemos analisar as causas para esta diferença na tendência de voto entraríamos num vasto campo de especulações. No entanto, se perguntarmos a um militante local do PS, este naturalmente justificará as derrotas com o CDS/PP pelo efeito Manuel Cambra e a última, com o PSD, pela “onda laranja”, que percorreu o país em 2001. Se a primeira justificação tem raízes em 1985, numa coligação em bloco central de apoio a José Pinho - que provocou uma cisão profunda dentro da estrutura local do PS, já a segunda, não tem razão alguma, pois passados três meses, como anteriormente referi, o PS venceria em SJM para as eleições legislativas, contrariando precisamente essa “onda”.
Em jeito de seriedade, um destacado membro da concelhia local confidenciava-me há uns meses atrás que o problema era essencialmente de personalidades. A questão é essa mesma, pois existe a máxima que “quem ganha as eleições autárquicas são as pessoas”, à qual este Concelho não parece fugir.
Para as eleições do próximo dia 9 de Outubro, o PS formou listas com mais equilíbrio. À primeira vista venceu o complexo Manuel Cambra, fazendo regressar à vida política alguns dos seus militantes antigos. Em segundo lugar, encontrou candidatos que abrangem várias gerações e sem fazer qualquer tipo de avaliação pessoal, qualquer uma das três listas, é formada por candidatos com um currículo político superior aos das listas formadas há 4 anos. O próprio candidato a Presidente da Câmara, com o seu jeito dinâmico e empresarial, é uma mudança na história recente do partido.
Poderá não ser o suficiente para vencer, é certo. Mas uma derrota do PS será por mérito de quem vença e não por causas externas, como seria tentador pensar face “ao desagrado dos eleitores locais pelas políticas do governo”. Esta fuga à responsabilidade e atitude do tipo “avestruz”, já não se justifica. A actual liderança da concelhia encontrou as estratégias para que o partido saia do abismo em que outrora mergulhou. Não se pode voltar atrás.
Se analisarmos os resultados locais das várias eleições na década anterior, de 1985 a 1991, verificamos um acompanhamento da tendência nacional da época, isto é, vitórias claras do PSD. Ou seja, desde 1995, houve uma inflexão na tendência de voto dos eleitores Sanjoanenses, que passaram a votar maioritariamente no PS.
Em termos de eleições locais, desde esse ano que os resultados tiveram desfechos diferentes. Nas autárquicas de 1997, o CDS/PP venceu por apenas 199 votos de diferença e em 2001,o PSD triunfou com maioria absoluta, no tocante ao número de vereadores eleitos. Entre as duas eleições, o PS local passou de segunda força política para terceira. Passou da derrota por apenas 200 votos, com maioria na Assembleia Municipal e conquista da Junta de Freguesia, para o pior resultado de sempre em eleições autárquicas.
Se quiséssemos analisar as causas para esta diferença na tendência de voto entraríamos num vasto campo de especulações. No entanto, se perguntarmos a um militante local do PS, este naturalmente justificará as derrotas com o CDS/PP pelo efeito Manuel Cambra e a última, com o PSD, pela “onda laranja”, que percorreu o país em 2001. Se a primeira justificação tem raízes em 1985, numa coligação em bloco central de apoio a José Pinho - que provocou uma cisão profunda dentro da estrutura local do PS, já a segunda, não tem razão alguma, pois passados três meses, como anteriormente referi, o PS venceria em SJM para as eleições legislativas, contrariando precisamente essa “onda”.
Em jeito de seriedade, um destacado membro da concelhia local confidenciava-me há uns meses atrás que o problema era essencialmente de personalidades. A questão é essa mesma, pois existe a máxima que “quem ganha as eleições autárquicas são as pessoas”, à qual este Concelho não parece fugir.
Para as eleições do próximo dia 9 de Outubro, o PS formou listas com mais equilíbrio. À primeira vista venceu o complexo Manuel Cambra, fazendo regressar à vida política alguns dos seus militantes antigos. Em segundo lugar, encontrou candidatos que abrangem várias gerações e sem fazer qualquer tipo de avaliação pessoal, qualquer uma das três listas, é formada por candidatos com um currículo político superior aos das listas formadas há 4 anos. O próprio candidato a Presidente da Câmara, com o seu jeito dinâmico e empresarial, é uma mudança na história recente do partido.
Poderá não ser o suficiente para vencer, é certo. Mas uma derrota do PS será por mérito de quem vença e não por causas externas, como seria tentador pensar face “ao desagrado dos eleitores locais pelas políticas do governo”. Esta fuga à responsabilidade e atitude do tipo “avestruz”, já não se justifica. A actual liderança da concelhia encontrou as estratégias para que o partido saia do abismo em que outrora mergulhou. Não se pode voltar atrás.
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