quarta-feira, dezembro 27, 2017

2017 - o ano de mudança

A eleição de Jorge Sequeira, com a vitória autárquica do Partido Socialista foi, sem sombra de dúvidas, o grande acontecimento neste concelho, no ano que por estes dias termina.

Uma alteração da cor maioritária do executivo camarário é sempre um facto a democrático a realçar. Assim foi em S. João da Madeira, em 1979, quando o PS perdeu as eleições para a extinta AD. Repetiu-se em 1984, com a vitória do CDS. Voltou a acontecer em 2001, com a vitória maioritária do PSD. E agora em 2017, quase quatro décadas depois de ter sido o partido mais votado em eleições autárquicas, o PS volta a vencer na cidade.

A vitória inesperada, pelos votos alcançados e mandatos conquistados, teve o seu fundamento na estratégia de ataque ao seu opositor. Baseando-se nas ruturas partidárias e na descontinuidade do anterior executivo camarário, o PS passou a mensagem da sua própria competência. Enquanto, do lado do PSD/CDS nem a descontinuidade, nem as desavenças com alguns militantes foram minimamente desconstruídas, nem foi esclarecido todo o processo de convites, o que implicou a desconfiança dos eleitores na lista proposta.    

Por não ser caso inédito, em que uma força partidária no poder não consegue eleger um novo candidato, é necessário analisar as especificidades dos antecedentes da eleição autárquica. Depois dumas eleições intercalares em 2016, o ano e meio que se seguiu permitiu ao novo executivo pôr em prática vários dos seus propósitos, ou promessas eleitorais. Com destaque para a inauguração do museu do calçado, a requalificação da zona central, incluindo  a demolição do elemento arquitetónico da Praça Luís Ribeiro e claro está, a promoção de eventos na cidade, por forma a fixar por cá a população nas suas horas de lazer. É evidente, neste capítulo, que a recusa de Ricardo Figueiredo em se candidatar nos moldes propostos, equilibraram os pratos da balança. Não querendo repetir os argumentos escritos em outubro, em que referi que havia mérito de Jorge Sequeira na vitória, é importante comparar estratégias para entender melhor a mudança de voto dos eleitores. Se por um lado, o PS teve uma tática eleitoral bem definida e passou bem a sua mensagem, por outro, a coligação PSD / CDS esqueceu-se de contra-atacar, mantendo-se na sua estratégia, sem verificar a desconfiança do eleitorado. E o eleitorado respondeu dessa forma: não confiando num candidato e votando maciçamente noutro.

O que esperar de 2018? Esta é a pergunta que se coloca neste momento.

Em primeiro lugar, há eleições partidárias. O PSD aparentemente só com eleições para líder nacional. O PS com eleições para a concelhia. Umas e outras dizem respeito aos seus militantes. No entanto, ambas podem desencadear processos inesperados para futuras eleições autárquicas.

O PSD pode entrar num processo novo, com a preparação imediata das eleições de 2021, como é propósito do candidato Rui Rio. Neste sentido, haverá necessidade de reabrir o dossier  autárquico e pensar num candidato a longo prazo e claro, como está bem presente o desaire eleitoral deste ano, a concelhia em funções terá que ter perspicácia para escolher um candidato com perfil vencedor.

Do lado do PS, as hipotéticas duas candidaturas para a concelhia poderão provocar um ajuste de contas inesperado, com desfecho imprevisível a longo prazo.

Tudo isto acontecerá no mês de Janeiro, depois disto e mais importante, será verificar como o novo executivo municipal põe em prática o seu plano de atividades. Existe uma grande expectativa, por parte dos parceiros associativos, entre outros, para verem agendadas as várias iniciativas, que nos últimos anos fizeram o calendário de eventos da cidade. Para já, com um orçamento para 2018 mais composto, tudo fica em aberto e com possibilidade de ser concretizado.

 

(a publicar no dia 28/12/17)

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Um fino

Uma reportagem publicada na imprensa económica, sobre uma cervejeira artesanal, sediada em Coimbra, trazia a história do nome com que habitualmente se designa o copo de cerveja, na região norte e centro de Portugal. O fino, como vulgarmente é utilizado, deve a sua origem à cidade de Coimbra. Conta-se que um cliente especial, pedia a cerveja em copo alto e fino, com o tempo adotou o singelo “copo fino” e daí até ficar apenas “fino”, foi uma pequena simplificação temporal. Esta é uma história antiga, que os mais velhos conhecem, por ter sido editada no livro “Boémia Coimbrã“ da autoria de António Nicolau da Costa. A edição faz referência aos anos quarenta do século passado e compila esta e outras histórias da cidade, com especial relevo as dos seus estudantes.

Convém recordar, que o autor era natural de S. João da Madeira e exerceu a sua atividade nesta localidade, sendo conhecido como Doutor Nicolau. O livro está registado no espólio da Biblioteca Municipal desta cidade. Para aquisição, é difícil de encontrar à venda, mesmo em alfarrabistas. O livro é um precioso documento, guardou memórias de Coimbra e o esforço do seu autor permitiu às gerações futuras ter um conhecimento mais aprofundado sobre a tradição daquela cidade. Quando pesquisei um pouco mais sobre o assunto na internet, apareceram referências à forma singular como o Doutor Nicolau transpôs a vivência Coimbrã para S. João da Madeira. À sua maneira, pelo seu modo de atuar, as histórias do nosso conterrâneo perpetuaram-se pelos anos e é um desperdício não ficarem, também elas, documentadas para memória futura. 

Fiz alusão, em texto publicado no mês passado, há necessidade de incrementar o acervo municipal com o património humano que se encontra fragmentado, dando como exemplo as coleções de fotografias que tardam em estar à disposição da população da cidade. Podemos acrescentar a compilação das histórias do Doutor Nicolau, como as famosas consultas em tascas, ou outras igualmente conhecidas. Do mesmo modo, a compilação e recolha de outras histórias de outros conterrâneos podem e devem merecer a devida atenção. Até porque isso possibilitaria entender-se melhor a história da localidade, as suas transformações e o seu desenvolvimento.

Não é só de passado que se deve encher o acervo municipal. A atividade dos agentes culturais deve igualmente ser merecedora do reconhecimento da autarquia. Numa fase imediata, a parceria poderia passar por expor algumas dessas obras nas instalações municipais, promovendo os artistas de maior nomeada, dando visibilidade aos seus trabalhos. Neste contexto, a expansão do acervo municipal, com a aquisição dos seus trabalhos mais significativos, será a consequência da divulgação e reconhecimento dos principais vultos da cultura local.

Por outro lado, pensando no futuro e na totalidade dos artistas emergentes, seria importante equacionar uma mostra anual de novos talentos criativos. Juntar num evento anual, a produção artística local, desde pintores, músicos, escritores, desenhadores, artistas de rua e também bandas, grupos de dança ou de teatro, entre outros, que não me ocorrem de momento. Promovendo exibições e atuações individuais, mas também sinergias entre as várias artes, ou estilos.

É com esta proposta, com o objetivo promover o espirito comunitário, que é chego ao fim do texto idealizado para esta edição. Por ser nos últimos dias do advento natalício, aproveito para desejar Boas Festas a todos os leitores.

 

(a publicar no dia 21/12)

quarta-feira, dezembro 06, 2017

Nem governo nem Estado

Na primeira música que ouvi dos Xutos e Pontapés, corria o ano de 1985, à segunda frase cantada fiquei perplexo e maravilhado. O disco era uma coletânea de bandas nacionais dos estilos marginais da época: punk-rock, pós-punk, gótico, urbano-depressivo e outros géneros urbanos. As duas primeiras faixas estavam entregues aos Xutos: Esquadrão da Morte e 1º de Agosto. Ao vivo, cheio de energia, com ritmo intenso proveniente de uma bateria tocada de forma rápida, uma linha de baixo com presença e uma guitarra a produzir riffs intensos. O som assemelhava-se ao de uma banda britânica, os The Clash, cujo álbum “Combat Rock” tocava com frequência lá em casa. Ao paradoxo ouvido inicialmente, “Por não querer aquilo que me é dado”, seguiu-se a tal frase ”Por não querer nem governo, nem Estado”, assim mesmo, toda a crueldade anarquista explícita era cantada de forma seca pela voz do vocalista. Seguiam-se mais dois versos, repetia duas vezes. Um refrão a começar, um simplismo da escrita punk. A meio ouviam-se os coros, com interjeições, repetidas pelo público. E claro havia um solo de guitarra. Estavam-me apresentados os Xutos e Pontapés.

Leitor do jornal Blitz, desde a primeira hora, todo aquele envolvimento urbano me fascinou. Aderi à roupa preta, um sóbrio sobretudo, uma gabardine, o casaco de cabedal, as t-shirt alusivas a bandas (que ainda conservo), mais uma botas da tropa resgatadas do sótão de casa dos meus pais e passei a ser consumidor de música regular, vendo concertos ou adquirindo discos, variando entre estéticas, conforme as mencionadas no parágrafo anterior. De tal modo que de tenra idade, fui para Lisboa assistir a dois concertos, faltando às aulas, com a devida autorização parental.     

Voltando aos Xutos e Pontapés. Encontrar os discos deles, naquela época era difícil, só tinham editado um álbum (1978/82), sem muita difusão. Era difícil chegar a esse som. Tudo funcionava na base da gravação em cassetes – fita magnética com disponibilidade entre 60 a 90 minutos. Ouvir aquele som era irreverente e provocador: toda a família entendia as letras, nas quais os valores aceites pela sociedade eram criticados. Era uma música de intervenção, de combate, sem claras referências partidárias.

Entretanto, é editado o disco “Cerco”, com a introdução de um novo instrumento musical, o saxofone. As letras eram menos rudes. Apesar das dificuldades em editar o disco, por desinteresse das editoras, ainda agarradas às músicas de estreia do grupo, a assimilação do conceito pelo meio musical, é bem conseguida. Os Xutos definem-se como um grupo rock, nas aparições em programas de televisão. Os concertos em espaços urbanos sucedem-se, aproveitando a banda para produzir um novo disco ao vivo. O visual também é aligeirado, retiram-se as correntes, as roupas rasgadas como nos primórdios do movimento punk de 1977 e os músicos passam a vestir o preto integral, com o lenço vermelho ao pescoço, apenas com a única transgressão a ficar pendurada na orelha de Zé Pedro – um brinco em forma de cruz. É preciso mencionar o fenómeno das rádios piratas, então emergentes com a possibilidade de divulgar música maldita, distante dos tops de vendas, para explicar a difusão de grupos como este.

Em 1987, os Xutos e Pontapés lançam um novo disco. A sonoridade fica mais acessível ao grande público. As letras passam a ser mais domésticas. É incluída uma versão de “Minha Alegre Casinha”, uma música em voga na juventude dos nossos progenitores. A acessibilidade fomenta a divulgação. As rádios e as televisões apadrinham a Casinha. A banda consegue fazer uma digressão nacional e até surgem numa campanha publicitária a uma determinada marca de refrigerantes. A cópia da indumentária dos músicos, em especial o lenço vermelho, passa a fazer parte das vestes dos jovens, que nos concertos cruzam os braços por cima da cabeça. Gestos que se repetiram por muitos anos e por várias cidades, vilas e aldeias do país.

Talvez seja este o momento em que os Xutos e Pontapés conseguem a eternização no panorama musical português. Para muitos jovens por esse país fora, este foi o primeiro concerto a que assistiram. O primeiro contacto com uma música rock, com influências do simplismo do punk-rock, expressos em princípios musicais enérgicos e com ritmos acelerados, de refrões simples. Uma fórmula que permitiu a alguns conhecerem outras sonoridades, a outros passarem a tolerar outros sons e outros a passarem a fazer da música a sua profissão.

É com este estigma que a banda entra na sua primeira década de vida. No entanto, a sua sonoridade e imagem estavam esgotadas. Perante isto, recorrem de novo à música de combate, com letras mais intervencionistas, com enfoque na luta de classes, criticando o governo de então. Os concertos voltam a ser negros, bem puxados, com um punhado de músicas mais fortes, um cenário cuidado, em que focos vermelhos passam a rasgar a escuridão do palco. Curioso facto é, nesta fase, os êxitos radiofónicos da década anterior serem tocados constantemente, demonstrando a banda estar preparada para agradar a todos os públicos. Entretanto, os elementos do grupo passam a pertencer a outros projetos e aqui sobressaem as qualidades pessoais dos elementos dos Xutos e Pontapés, mais carismáticos. O pavilhão Atlântico em 1999 demonstrou que os Xutos e Pontapés eram a primeira super banda portuguesa. Tinham vinte anos de carreira e preparavam-se para prolongar o seu estatuto por mais anos.

Conforme escrevi em agosto deste ano, tive oportunidade de os ver ao vivo durante o verão. Pela enésima vez, é certo. Em família, sem esperar nada em concreto, além do concerto. O entusiasmo levou-me a cantar, saltar e a ficar arrepiado ao ouvir o tema “remar, remar”. Antes do final, Zé Pedro ficou no palco a interagir com o público. Atirava palhetas, umas dezenas à esquerda, ao centro e à direita. O baterista, o multifacetado e carismático Kalu, ficou ali com ele, minuto após minuto, enquanto o público pedia o segundo encore. A música foi retomada e Zé Pedro ficou na mesma, em contacto com a assistência, retribuindo toda a simpatia, com aquela pose de rocker.       

Provavelmente fiquei com a melhor das imagens de Zé Pedro: o palco, a relação de proximidade com os fãs e os gestos simpáticos.

Com ele, enquanto difusor de música na rádio, aprendi a ouvir as bandas mais novas, percebendo que a música rock, não teve décadas, nem se compartimenta em anos. E que podemos estar sempre preparados para ouvir dentro dos géneros musicais, umas alterações e novidades sonoras que nos deixam surpreendidos. Mesmo depois de passar trinta e muitos anos a ouvir rock.

 

(a publicar no dia 07/12/17)

quarta-feira, novembro 29, 2017

Aguardar pela descentralização

                As infraestruturas municipais desportivas vão conhecer melhorias.

                As últimas ações do anterior presidente da Câmara permitiram perceber que a finalização do novo campo de futebol deve estar por dias. Do mesmo modo, fui anunciado em tempo oportuno, um plano para a construção de novos courts de ténis.

Mais recentemente, o novo Presidente da Câmara demonstrou estar empenhado em dotar a cidade de uma pista de atletismo.

E claro continua nos planos da população ver uma nova piscina construída, fazendo-se cumprir as promessas eleitorais.    

Todos estes investimentos deviam ter duas análises prévias: em primeiro lugar a localização – equacionando a proximidade das novas infraestruturas desportivas às áreas habitacionais da cidade; em segundo lugar, o investimento municipal - a capacidade financeira da autarquia para assegurar os empréstimos e verificar quantos anos demoram a ser pagos.

Apesar destas duas discussões serem importantes, existe um terceiro fator que não deve ser desprezado: a ideia repetida durante estes dois últimos anos, pelo atual Governo, de descentralizar, nomeadamente a totalidade da gestão das escolas. Ou seja, pretende-se que à semelhança das escolas do ensino básico, as autarquias assumam a responsabilidade de gerir os estabelecimentos de ensino dos anos seguintes.

Essa intenção, mesmo ser ter recebido atenção na discussão do orçamento do Estado para 2018, tem sido estudada por este Governo, através do atual Ministro da Administração Interna, que ao assumir esta pasta manteve na sua alçada a reforma da descentralização.

É com expetativa que autarquias aguardam pelo desbloquear do programa, para terem uma noção das verbas indexadas à descentralização e também quais as competências que devem receber.

Atendendo ao mandato do atual Governo e à necessidade de cumprir com o programa de reformas administrativas, tudo terá que ser resolvido até 2019.

Até lá, é oportuno que os novos autarcas aguardem pelos resultados dessa descentralização. A possibilidade de passar a gerir a totalidade das escolas públicas, permitirá equacionar uma série de soluções, dentro das instalações daqueles espaços. Veja-se o potencial desportivo de S. João da Madeira: 4 escolas – 4 pavilhões, mais um court de ténis, espaços exteriores com ringue para a prática desportiva; não esquecendo o pavilhão devoluto do antigo liceu, ou antigas instalações da Escola João da Silva Correia.

Este parque desportivo, mesmo tendo que remodelar-se dois pavilhões, permitirá à autarquia, em horário pós-escolar, responder a todas as solicitações das associações e de grupos informais de cidadãos que procuram a prática desportiva nas suas horas de lazer.

A excelente localização das escolas, em contexto de proximidade ao centro e encostadas aos núcleos habitacionais permitirá equacionar-se a dotação de novas infraestruturas desportivas de que a cidade está carente, em alguns destes espaços. Existe uma grande vantagem de aproximação do desporto às escolas, precisamente a possibilidade de proporcionar aos alunos uma prática diferenciada de atividades desportivas, além de promover a captação de talentos em determinados desportos.

Criar uma pista de atletismo na escola EB 2/3, não será muito difícil. Ficaria central, próximo de alguns dos equipamentos desportivos da cidade. Do mesmo modo, construir court de ténis na escola Dr. Serafim Leite, também não será difícil.

É uma mudança de paradigma, com a valorização das instalações escolares e permitirá aplicar-se o investimento de uma forma mais racional, evitando-se expropriações, com custos desnecessários.

Quanto à piscina municipal, as considerações ficarão para futura oportunidade.

 

(a publicar no dia 30/11/17)

 

quarta-feira, novembro 22, 2017

Memórias fragmentadas

No texto publicado a semana passada, intitulado “A fachada”, por necessidade de não transgredir o espaço que gentilmente me é disponibilizado, não me alonguei em demasia com menções à evolução da povoação.

Visitar os espaços onde vivemos a infância, ajuda-nos a preservar a memória. Percorrer a casa dos pais, ou mesmo dos avós, permite manter intactas certas recordações, sobretudo quando o espaço físico permanece semelhante ao longo de anos. As memórias individuais, ou familiares, transformam-se em coletivas, quando as vivências foram partilhadas em espaço público. Tudo é mais fácil se o espaço continua semelhante. O pior é se tudo é modificado, ou destruído, não ficando vestígios desse passado.

Neste capítulo, as transmissões orais funcionaram, durante anos, como a base da memória de uma povoação. Esta tendência humana, de partilha de lembranças, teve a necessidade de ser documentada para o futuro. Primeiro, através da pintura paisagística, ou pela descrição literária, que ajudavam a documentar as recordações. Pode-se incluir neste âmbito, os documentos oficiais, caso o escriba tivesse obrigação de fazer algum enquadramento do local.

Tudo mudou com a introdução das fotografias. E da captação de imagens com movimento, os filmes. A divulgação, dos primeiros destes documentos, permitiu à imprensa desempenhar um papel preponderante na perpetuação da memória coletiva ao longo do século XX. As redes sociais, já no presente século, permitiram a partilha de fotos e vídeos pessoais, o que pode ser considerado como o lado mais positivo desta novas formas de sociabilização.

A recolha dos mais variados documentos possibilita entender-se melhor a história de cada povoação. Infelizmente, em S. João da Madeira, a maioria desses documentos e mesmo a memória coletiva, concentra-se no desenvolvimento ocorrido ao longo do último século.

Existem menções históricas em documentos medievais, anteriores à independência de Portugal. Mas, a partir daí, ao longo dos vários séculos, todo o evoluir da região de Terras de Santa Maria – do feudalismo até à criação do concelho da Feira no século XVI – permanece nebuloso. Perceber como a estrada real atravessava a paróquia de S. João da Madeira, como se desenvolvia o casario, com os seus ofícios relacionados com madeira e sapatos, são exercícios imaginativos. É certo que a partir da Monarquia liberal, portanto, no século XIX, com a agregação ao novel concelho de Oliveira de Azeméis começa a haver mais informação. Ainda assim, os vestígios que permaneceram para o século XX, foram as vastas propriedades agrícolas, entretanto fragmentadas e alguns agrupamentos de casas, em torno de alguns lugares, incluindo igrejas.

Poder-se-ia esperar um espólio mais alargado, comas fotografias e os filmes, para melhor retratar o século passado. No entanto, apesar de existirem várias fotografias e mesmo coleções, a maioria continua no foro privado. Mais concretamente, as várias imagens captadas por Carlos Costa continuam a não estar no acervo municipal. Para os mais novos (em idade ou com menos de tempo de habitação na cidade), é necessário fazer um enquadramento, pois o nome poderá não significar nada. Carlos Costa foi um fotógrafo amador que captou várias cenas do quotidiano sanjoanense, ao longo de várias décadas do século XX. A sua coleção está dispersa pelos seus herdeiros. Como representa um valor inquestionável para a comunidade local, seria de todo o interesse que a Câmara Municipal o adquirisse para o seu acervo, podendo a partir daqui desenvolver e apetrechar a tal “Casa da Memória”, por exemplo.

No mesmo sentido, existem documentos interessantes associados às casas comerciais que se dedicavam à venda de material fotográfico. Seria um desperdício para a memória coletiva, que todo esse espólio se perdesse, com o encerramento desses estabelecimentos.

Para finalizar a ideia dos exemplos fragmentados, seria igualmente interessante que os documentos, alguns seculares, da paróquia fossem cuidadosamente digitalizados e colocados ao dispor da comunidade.

A autarquia tem um papel preponderante para promover a centralização das memórias dispersas. Nos últimos anos, conseguiu abrir ao público dois museus de cariz industrial. Foi consensual, ao longo da última campanha eleitoral, as propostas para se aproveitar a singularidade nacional da indústria do lápis e associá-la ao espólio dos Encontros Internacionais de ilustração. Parece-me ser igualmente importante que o património humano da população tenha agora o seu lugar, num espaço próprio e condigno, para preservação da memória coletiva.

 

(a publicar no dia 23/11/17)

quarta-feira, novembro 15, 2017

A fachada

O modo de ser lusitano persistiu durante anos na maneira de viver dos Portugueses. Castrejos, encerrados sobre o seu povoado, assim se justifica a variedade musical do seu povo, pelas demais regiões, ou ainda pela peculiaridade da sua secular cozinha, que vai variando de tipicismo em poucas léguas.

As aldeias são o que restam dessa forma de vida. Sem plano urbanístico, com arruamentos estreitos e sinuosos, com casas a entrar pelas ruas, sem qualquer harmonia na construção. Nem é em vão que sistemas radiais permaneceram durante anos nas principais cidades portuguesas, ou que é usual existir uma Rua Direita nas mais diversas toponímias, por ser diferente das outras artérias da povoação. Outra caraterística é o horror ao vazio. Os largos, que eram pequenos, eram sempre preenchidos com qualquer elemento no centro. Isto é usual na paisagem humana Portuguesa. São comuns praças com o centro preenchido com árvores, ou pequenos lagos, ou chafarizes, além de pelourinhos, cruzeiros e as merecidas estátuas de homenagem

Tudo mudou com o terramoto de 1755. Em Lisboa, a necessidade de reconstrução, implicou a adoção de um sistema ortogonal, com ruas mais largas, paralelas e com outras a cruzar-se perpendicularmente. Sistema que vigorou na construção nas avenidas novas, anos mais tarde. A harmonia da construção foi outra caraterística adaptada.

A cidade do Porto, depois das desavenças absolutistas, já no século XIX, iniciou a sua expansão com o mesmo sistema ortogonal, abrindo-se ruas e avenidas, para norte, para o mar, dentro do mesmo princípio moderno.

Ainda assim, é visível nestas cidades, a ideia de preencher o centro das praças. Permaneceu como fator histórico do povo que somos. As grandes praças de Lisboa têm estátuas no centro. No Porto também. E no resto do país são raras as exceções de praças espaçosas.

Esta apetência arquitetónica vinca a diferenciação no Iberismo dos dois povos peninsulares. Os portugueses com as suas praças preenchidas e os espanhóis com espaços amplos. Uma exceção, curiosa, é a cidade do país vizinho, Mérida, outrora a capital romana da província Lusitânia. Ali tudo está preenchido, na praça central, parece que estamos em Portugal, o templo a Diana, mais intacto que o de Évora, está rodeado de alçados de prédios e nas principais ruínas romanas avistam-se as varandas dos prédios circundantes.

Toda esta introdução, histórica, permitirá entender-se o desenvolvimento urbano do século XX. Por um lado, a abertura de ruas e praças com amplitude e largas, por outro, a necessidade de ocupar o vazio, sobretudo, nos terreiros. Não esquecendo a harmonia arquitetónica, nos edifícios a construir, com fachadas semelhantes e idêntico número de andares.

Neste capítulo e centrando a atenção do leitor para a Praça Luís Ribeiro, pode-se verificar que a desocupação da zona central permitiu uma extensão pouco comum à nossa cultura. Ainda assim, pelo projeto divulgado na imprensa local, está programada a plantação de árvores, num anel interior, o que irá preencher mais um pouco o “miolo” da praça, retirando-lhe novamente versatilidade. Mais relevante e sem solução imediata no projeto de reabilitação urbana em curso, é o enquadramento do edifício Parque América. Com moradores, com comércio e serviços ali instalados a sua demolição não faz qualquer sentido. Contudo, uma alteração na fachada, com pintura de branco e a colocação de aros de granito, em torno dos pilares da arcada e das janelas, tornava o edifício mais encaixado. A réplica da fachada dos edifícios em meia-lua construídos à sua frente, com a simulação do avermelhado telhado à cota dos oponentes, pode ser equacionado em projeto futuro.

Apenas uma minimização do impacto visual do prédio, que poderia proporcionar-lhe uma maior ocupação, caso se converta em espaço contemporâneo de serviços, trazendo com essa uma maior dinâmica ao centro da cidade.

 

(a publicar no dia 16/11/17)

quarta-feira, novembro 08, 2017

Caras

As reportagens sobre os conterrâneos espalhados pelo mundo, leva ao esquecimento dos que vivem perto e assumem posições de relevo no quotidiano nacional.               

Na passagem de António Costa por S. João da Madeira, no pretérito mês de Setembro, surgiu uma informação que despertou interesse: “há três Secretários de Estado oriundos desta cidade”.

               Um deles despensa apresentações, Pedro Nuno Santos, político local, está em funções desde a primeira hora deste XXI Governo constitucional, exercendo as funções de Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

Ana Lehmann, Secretária de Estado da Indústria, teve destaque na imprensa local, logo na tomada de posse, tendo sido explicado as suas ligações à cidade e indicado o nome dos seus familiares.

Entretanto, ficou-se a saber que desde essa tomada de posse, há uma terceira Secretária de Estado, desta feita da Habitação, de seu nome Ana Pinho, que se apresenta como sendo de S. João da Madeira.

À semelhança das notícias associadas a Ana Teresa Lehmann, fiquei à espera que a imprensa local nos informasse quem era Ana Pinho.

Esperei uma semana, mais outra e nada vi escrito. Era tempo assumido da campanha eleitoral e as atenções da imprensa estavam depositadas em outros protagonistas.

É sempre bom verificar que aos nossos conterrâneos é reconhecido mérito social, profissional e político para exercerem cargos importantes no nosso país.

A curiosidade em saber-se quem é quem e se por acaso nos cruzamos no passado, na infância, ou na adolescência, ou mesmo em adulto, sobressalta-nos a memória.

Antes de avançar com os dados de Ana Pinho e a propósito de recordações da adolescência, como fui contemporâneo de Ana Teresa Lehmann na Escola Secundária Dr. Serafim Leite, recordava-me das suas capacidades académicas. Lembrava-me de anos mais tarde, a ter visto em alguns debates da televisão e de a ter reconhecido, apesar do nome de casada. Como Ana Lehmann vivia no Porto e estava a exercer atividade profissional na CCDR-N, propus o seu nome para participar no Fórum Repensar S. João da Madeira, no ano de 2012. Por dificuldades várias o seu contributo não veio a ser conseguido. Em 2013, vi o seu nome a ficar relacionado com a Assembleia Municipal do Porto e atendendo à sangria que o executivo municipal daquela cidade sofreu, durante os últimos 4 anos, cheguei a comentar com uma sua antiga colega de turma que a Ana Teresa estaria bem posicionada para ser Vereadora da Câmara Municipal do Porto, pela lista de Rui Moreira. Apesar do meu palpite, errei no prognóstico. Ainda bem.

Voltemos a Ana Pinho.

Depois da espera, passei eu próprio à pesquisa. Por isso, aproveito as próximas linhas para vestir a pele de jornalista e transmitir os dados que recolhi.

Vi as suas habilitações académicas e o currículo profissional, continuei sem saber quem era. Revi a fotografia da tomada de posse dos vários Secretários de Estado perfilados e não reconheci aquele perfil. Até que aprofundei mais um pouco. Pesquisei o nome e ao ver Ana Cláudia da Costa Pinho a memória começou a processar alguma informação. Ainda assim, só quando acedi a uma fotografia individual, é que reconheci aquele rosto. Em primeiro lugar, associei-a com uma sua irmã, que foi minha colega no secundário em pelo menos 3 anos.  Confirmando esta informação, recordei-me que a conhecia como Cláudia e que tinha jogado xadrez na AEJ, nos primeiros anos da década de 90, ou seja, na sua adolescência, tendo participado no Campeonato Nacional Feminino organizado em S. João da Madeira. Lembrei-me então que o seu pai foi proprietário de um próspero comercio de motas, situado das galerias comerciais Santo António. Julgo que o stand tinha o nome de “Big Rela”, se a memória não me falha.

O pior é se falhou e tudo o que eu escrevi, acerca da ligação da Secretária de Estado da Habitação a S. João da Madeira, não se confirmar.

 

(a publicar no dia 09/11/17)

terça-feira, outubro 31, 2017

E a Carta Educativa?

A dois meses do fim do ano, o Orçamento de Estado de 2018 (OE18) passou a ser o tema dominante da política nacional. Será certamente um ano histórico, com a possibilidade da diferença entre as despesas e as receitas do Estado ser menor a 1%, o que poderá significar que durante uns trimestres, essa diferença seja nula.

A “receita” será a mesma, controlo da despesa, com as cativações por Ministério a terem direito a indicador e controlo mensal pela Assembleia da República. Por outro lado, o investimento público continuará reduzido, não provocando alterações no crescimento do Produto Interno Bruto, antes pelo contrário.

Uma das certezas do próximo ano é que os manuais escolares para os alunos do 1º ciclo, continuarão a ser gratuitos. O sistema de reutilização desses manuais será melhorado, aperfeiçoando-se uma medida, que não é apenas simbólica, já utilizada em muitos países europeus. A incerteza que perdura, relativamente aos manuais escolares, prende-se com o alargamento da gratuitidade até ao 9º ano.

Enquanto isto não fica decidido é importante verificarmos como deve ficar o apoio autárquico ao ensino.

Durante anos, várias autarquias consagraram a oferta de manuais escolares aos alunos do 1º ciclo do ensino básico. Algumas optavam também por oferecer material escolar. Os destinatários dessa medida alteravam conforme o concelho e a sua disponibilidade financeira. Por cá, em S. João da Madeira, os mais necessitados eram os visados, recebendo apenas manuais. Houve um ano de interregno nesta política de apoio familiar, consagrando-se todas as famílias, independentemente do seu rendimento. A experiência autárquica do atual Primeiro – Ministro permitiu prever um programa nacional de oferta de manuais e atendendo às restrições orçamentais, implementou-se o tal sistema de reutilização, para alunos de anos futuros.

Com esta medida do Estado central, as autarquias ficaram órfãs da sua generosidade. Ficou patente nas últimas eleições para o poder local, em alguns programas eleitorais, a oferta de manuais escolares. Uma duplicação ou um complemento é a dúvida que subsiste. A confusão nas propostas poderia ser entre manuais escolares e livros de atividades, o que permitirá sustentar a tese de suplemento, caso o objetivo fosse a oferta destes últimos.

A questão que importa aprofundar é se é necessário tanto altruísmo para com a generalidade das famílias dos alunos do 1º ciclo.

Os indicadores educativos do concelho estão desatualizados. A Carta Educativa limitou-se a consagrar os agrupamentos escolares. Estes reportando ao Ministério de Educação estão preocupados com os rankings impostos por Lisboa. Os indicadores que demonstram a realidade educativa do concelho, como o abandono escolar, não são aprofundados, nem publicados anualmente.

Os dados nacionais recentemente divulgados demonstram duas situações. Em primeiro lugar, o tradicional abandono escolar precoce, foi diminuindo ao longo dos últimos dez anos, no entanto, em 2016 teve um pequeno aumento, fixando-se nos 14% de jovens que não completam o 9º ano. Em segundo lugar, atendendo às novas metas da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, os números são demolidores. Pelo estudo divulgado em Setembro passado, 36% dos jovens portugueses abandonam os seus estudos no ensino secundário. Esta realidade coloca Portugal na cauda dos países desenvolvidos.

A situação de S. João da Madeira não deve diferir muito da realidade nacional. Neste sentido, caso os indicadores concelhios assim o demonstrem, é importante traçar políticas municipais de apoio aos jovens e suas famílias, para contrariar o abandono escolar.

Mais do que “chover no molhado” e estar a apoiar quem já é contemplado pela gratuitidade (sem necessidade real), importa definir novas metas no Orçamento Municipal e lançar um programa que permita aumentar a qualificação da população jovem do concelho, extrapolando apoios quer ao nível de manuais, quer de livros de atividades, ou mesmo de material escolar, adequado aos alunos do ensino secundário, seguindo o princípio nacional da reutilização, atendendo às restrições orçamentais.

Um desafio para os novos autarcas.

 

(a publicar no dia 02/11/17)

quarta-feira, outubro 25, 2017

Valorizar o meio multicultural da cidade

Carlota Amado teve honra de primeira página na edição do jornal labor de 12/10. A manchete da entrevista da pianista radicada em Munique não passou despercebida: “Adoro o meio multicultural em que vivo”, foram as palavras destacadas.

Uma frase sintomática para quem escolhe a arte como profissão e tem a oportunidade de viver em cidades com apetência para desenvolver a carreira artística.

Uma frase igualmente exemplificativa da ambição da nova geração de músicos, para quem não chega a oferta de Porto ou de Lisboa, cidades portuguesas com reais possibilidades de um artista exercer a sua atividade de forma mais reconhecida.

Uma frase que pode servir de mote para um programa autárquico, atendendo ao novo ciclo que agora se inicia.

“Valorizar o meio multicultural da cidade”, é um imperativo para dar consequência aos investimentos municipais dos últimos dez anos, em equipamentos culturais.  

Os programas eleitorais, dos partidos representados no novo executivo municipal, focaram-se na difusão de agentes culturais, quer através da expansão do festival de teatro a outras empresas em laboração em S. João da Madeira, quer alargando a participação a várias iniciativas aos moradores dos bairros sociais da cidade, no sentido de promover a inclusão social através de atividades culturais. A ampliação previa-se numa determinada proposta eleitoral, na qual participei na elaboração, passaria também por envolver os artistas individuais da comunidade, integrando-os nas várias iniciativas culturais, existentes no calendário da cidade.

Independentemente da boa vontade das propostas eleitorais, existe uma realidade educativa que não mereceu a devida atenção por parte dos proponentes políticos.

Trata-se do ensino articulado de música ou de dança, que funciona até ao 9º ano e não tem algum tipo de consequência na comunidade. Ou pelo menos, não é visível.

Existem duas fases. Uma primeira agrega os jovens estudantes do 5º ao 9º ano. Havendo jovens de concelhos vizinhos que optam por fazer os seus estudos de primeiro contacto com estas artes na cidade. No final do ciclo de ensino, a tal segunda fase, apenas uma minoria prossegue com o estudo artístico. Alguns como complemento aos estudos curriculares, permanecem ligados às instituições de ensino artístico da cidade e outros que pretendem o estudo de artes de forma mais intensa recorrem a escolas profissionais, ou a escolas com ensino integrado, em outras localidades. Pode-se dar como exemplo, a nível de música escolas da Branca, Espinho, Paços de Brandão, Aveiro e Porto e a nível de dança, Branca e Vila Nova de Gaia.

Existem duas constatações perante estes movimentos: quem é de fora do concelho, raramente fica com ligação a S. João da Madeira e por outro lado, quem sai para prosseguir os seus estudos artísticos, fica apenas com uma ligação afetiva à cidade, o que não sendo pouco, não é suficiente.

Contrariar isto não é fácil.

Não estando eu ligado a qualquer estabelecimento de ensino, nem instituição cultural, nem associação cultural, posso apenas iniciar um debate, escrevendo a minha perspetiva sobre o assunto, baseando-me na minha experiência de encarregado de educação, tendo precisamente dois educandos relacionados com artes.

No meu ponto de vista, uma forma de manter o contacto dos jovens artistas com a cidade é dar-lhes a oportunidade de continuar a praticar a sua arte em S. João da Madeira. Através da constituição de orquestras, companhias de dança e até de teatro, consegue-se agarrar os jovens à cidade, melhorando o nível qualitativo das propostas culturais. Obviamente que o modelo de Associação é meu preferido, tendo sempre como referência o Coro de Câmara de S. João da Madeira. (Para não confundir ninguém, a ideia é direcionada para jovens, para fazer a captação de talentos em anos de ensino obrigatório, ou nos anos seguintes e não para criar companhias profissionais.)

Por outro lado, o ensino artístico no secundário devia ser uma realidade. Aproveitando-se todo o potencial da cidade com salas de espetáculo, museus, incubadoras de criatividade, pode ser um argumento competitivo para fixar temporariamente jovens estudantes na cidade, trazendo dos concelhos vizinhos outros interessados. A solução podem ser cursos profissionais, não esquecendo que existem escolas devolutas no concelho, caso o argumento das infraestruturas venha a debate.

É uma perspetiva que faz a ligação da educação com a cultura, servindo como fator dinamizador na melhoria das competências da população.

Esta valorização do meio multicultural, alicerçada em jovens, não evitará a saída dos mesmos para os grandes centros culturais nacionais, nem muito menos para qualquer cidade do estrangeiro. Mas, deixará marcas, mantendo os jovens ligados por muitos bons anos ao concelho, colocando-os como fundamentais em toda uma política cultural que, atendendo ao potencial físico, precisa de ser diferenciadora.

 

(a publicar no dia 26/10/17)

quarta-feira, outubro 18, 2017

Coincidências

Nota prévia: Os feriados de Outubro anteciparam a publicação semanal do jornal labor, nas edições das duas últimas semanas. Como habitualmente escrevo à terça-feira à noite, ou seja, depois do fecho editorial, não coincidi, por isso, no envio de artigos.

1700: A nota prévia fará mais sentido para os leitores, atendendo a que só nesta edição, passado quinze dias das eleições autárquicas, é que irei fazer um comentário sobre o assunto. A passagem deste período de tempo permite analisar de forma mais racional e menos emotiva (ver nota final), o resultado eleitoral.

A vitória do PS foi esmagadora.

A comparação de resultados tem que ser feita com os das eleições de 2016. As intercalares, portanto. Nestas circunstâncias há um dado curioso: o PS conseguiu uma melhoria de cerca de 1.700 votos, passando dos 4.400 para 6.100. Este ganho correspondeu a um decréscimo de igual valor da coligação PSD / CDS, ou seja, dos 5.200, do escrutínio das intercalares, a “maioria por S. João” desceu para 3.500 votos. Os valores apresentados não são rigorosos, não entrando na minúcia dos números, na ordem das dezenas e unidades, o que será facilmente entendível. No fundo, o que importa realçar é grandeza da movimentação dos votos e não a singularidade dos mesmos.

Convém igualmente evidenciar, antes de prosseguir com qualquer tipo de análise à alteração do sentido do voto dos eleitores, com outros dados: o aumento da abstenção em 400 eleitores, coincidindo este número com a votação do Movimento Independente “S. João da Madeira Sempre”, nas intercalares de 2016. Outra coincidência é o número de votos obtidos pelo PAN ser idêntico à perda relativa da CDU, do BE e do outro partido concorrente nas eleições do ano passado.

Não é linear que os votos tenham migrado conforme as coincidências numéricas, no entanto, esta evidência ajudaria mais facilmente a explicar os resultados das eleições autárquicas de 2017.

Existem várias explicações para a vitória do PS. Muitos procuraram atenuar o feito de Jorge Sequeira, tentando encontrar explicações nas desavenças do PSD ou na rotura de Ricardo Figueiredo com a concelhia do mesmo partido. Com o devido respeito pelos visados, julgo que a vitória é conseguida por mérito do próprio Jorge Sequeira.

Quais as razões para defender esta tese?

Reveja-se o processo eleitoral.

Em Abril, depois de meses de muita pressão da opinião pública, a concelhia do PS anunciou o seu candidato. Jorge Sequeira foi bem aceite e começou a trabalhar numa nova imagem do partido – menos populista, mais conciliador, mais próximo das associações locais. No mês de Junho ficava a saber-se que Ricardo Figueiredo não seria candidato pela coligação PSD / CDS. A menos de quatro meses das eleições, Paulo Cavaleiro, como líder da concelhia, assume a sua candidatura, arriscando o seu futuro político. O parceiro da coligação aceitou tal facto.

Em Julho são conhecidos a totalidade dos candidatos do PS. Só em Agosto é que são conhecidos os candidatos da coligação. Antes disso, o executivo municipal derruba o elemento arquitetónico da Praça (com contestação) e o jornal “O Regional” publica uma primeira sondagem, com um elevado número de indecisos, apontando para uma diferença de 10% de intenções de votos, favorecendo o candidato Paulo Cavaleiro.

Em Setembro a menos de um mês das eleições, ambas as forças partidárias apostaram forte, com a vinda de políticos nacionais a S. João da Madeira. O PS apresentou o seu secretário-geral, António Costa e ainda traria mais tarde o atual ministro da Cultura. Pelo lado da coligação, houve uma aposta clara numa ala política do PSD, com a vinda de Paulo Rangel, Rui Rio e Luís Montenegro, todos figuras de referência para a sucessão do ex-presidente do partido Passos Coelho. A balança pendeu para o lado do PS, apesar do apoio do CDS, através de João Almeida, ele próprio candidato e da presença de Pedro Mota Soares.

Entretanto, o programa eleitoral de ambos era divulgado e curiosamente, poucas, ou quase nenhumas, diferenças eram apresentadas. O PS prometia construir uma Piscina Municipal, fazendo “mea culpa” sobre o seu passado recente, o que não deixava de surpreender, ou mesmo de tranquilizar, alguns dos eleitores. Além disso corrigia alguns erros de campanha, deixando de atacar pessoalmente o adversário, passando a explorar as desavenças partidárias, surgidas na elaboração das listas eleitorais.

Chegava-se à última semana. Depois da mobilização de jantares e almoços ter evidenciado um empate de comensais, a rua haveria de clarificar a diferença. Uma arruada, impressionante para domingo à tarde, ficou na retina de quem viu passar a comitiva do PS pela Rua Oliveira Júnior em direção à Praça Luís Ribeiro. Dias depois, a arruada da coligação trazia pouca gente, não entusiasmando quem observava.

Até que surgiu o confronto direto. Numa semana, dois debates. Com poucos dias de diferença (o que não dá hipótese de corrigir algo que tivesse corrido mal no primeiro, a qualquer dos candidatos), a capacidade oratória de Jorge Sequeira sobressaiu. Tranquilo, expôs o seu programa e transmitiu uma imagem de confiança e de preparação política. Os indecisos, que seguiram o debate, devem ter retirado as suas conclusões, podendo depois ao ler as últimas entrevistas publicadas na imprensa local, ter decidido o seu voto.

A poucos dias das eleições, assistiu-se à habitual publicação de sondagens. O jornal “O Regional” publicava a sua terceira projeção, sempre com vitória para Paulo Cavaleiro, embora na última, a diferença fosse menor e indicava claramente o número de indecisos. O jornal labor, por seu lado, publicava uma sondagem apresentando empate técnico, embora com ligeira vantagem para Jorge Sequeira. Ambas as sondagens falharam claramente. 

No final do dia 1 de Outubro, já vencedor, Jorge Sequeira foi extremamente sensato nas suas declarações de vitória. Nos dias seguintes à eleição, tive oportunidade de seguir uma entrevista sua ao Porto Canal e não vi alteração nenhuma relativamente ao seu desempenho enquanto candidato.

Reduzir a vitória do PS a outras questões menores, é não reconhecer talento a quem fez melhor campanha, quem beneficiou do apoio da estrutura nacional e distrital do partido, quem controlou os ímpetos excessivos dos seus apoiantes e sobretudo, quem se preparou melhor politicamente. Penso que terá sido isto que terá motivado perto de 1700 eleitores a alterar o seu sentido de voto, dando uma maioria expressiva a Jorge Sequeira.

Nota final: essencialmente, em questões políticas, sou democrata e plural. Estou bastante longe da militância partidária. Em 2013, apoiei incondicionalmente a candidatura de Ricardo Figueiredo. Passei a ver os meus argumentos em sua defesa, expressos nas páginas deste jornal, a ser partilhados por muitos dos seus apoiantes. Em 2016, fiz parte da Comissão de Honra da sua candidatura. Por estes factos, encetei uma maior proximidade aos partidos que o apoiavam. Neste contexto, apareci, este ano, como membro da Comissão de Apoio de Paulo Cavaleiro, tendo igualmente contribuído para a elaboração do programa eleitoral. Contributo que exerci de forma desinteressada, sempre com a dedicação apropriada. Feito o esclarecimento aos leitores, não nego que no meu passado político, apoiei há vinte anos o candidato do PS, Josias Gil, por simpatia partidária. Mas, entre simpatias e relações afetivas, prefiro as últimas.

 

(a publicar no dia 19/10/17)

quarta-feira, setembro 27, 2017

Do Parque ao Fórum

                A participação no Campo de Férias “Estamos Juntos” fez-me conhecer muitos conterrâneos ainda de tenra idade. Entre os anos de 1982 e 1987, as traseiras da escola primária do Parque recebiam, nas manhãs de Julho, os participantes daquela iniciativa, pioneira no preenchimento ocupacional dos tempos livres das crianças e jovens, entre os 4 e os 12 anos de idade.
Essas manhãs eram preenchidas com atividades desportivas, contacto com algumas e aprendizagem rudimentar de outras. Além da promoção do convívio entre os demais participantes, completava-se o tempo com a experimentação de artes performativas, com peças de teatro e danças a serem as mais eleitas. Com base neste esquema, foram-se sucedendo as edições do Campo de Férias. O número de participantes foi aumentando de edição para edição, apesar de surgir concorrência após as primeiras edições. Uma constante desses anos foi inovação implementada, que atraía os participantes dos anos anteriores e fidelizava outros para os anos vindouros. Neste capítulo, recordo-me da construção de um campo de basquetebol, nos quinze dias anteriores ao início de uma das edições, ou do fim-de-semana em acampamento na Serra da Freita, ou mesmo, a receção de um grupo de ingleses ao abrigo dos programas de intercâmbio, para exemplificar o que se conseguia fazer em tempos remotos.
Neste contexto conheci Paulo Cavaleiro. Lembro-me dele ainda criança, sempre com vontade de descobrir novas modalidades desportivas, de competir com os mais velhos e de se superar. À medida que o conceito do “Estamos Juntos” foi evoluindo, ao ponto de se constituir como Associação e passar anos depois a organizar os Campos de Férias nas Corgas, teve sempre a companhia do Paulo. Recordo quatro desses momentos, que podem ajudar a caraterizá-lo:
I) nos torneios desportivos do Campo de Férias, por vezes, havia provas a decorrer em simultâneo, uma final do torneio de xadrez coincidiu com as provas de Natação, voluntarioso o Paulo manteve a participação em ambas, abandonava o tabuleiro e ia nadar e depois da prova, voltava ofegante para o tabuleiro e repetia o vaivém porque estava inscrito para outra;
II) anos antes, num dos primeiros acampamentos na Serra da Freita, um dos inscritos tinha 4 anos, Paulo era o mais velho, ficou responsável durante os três dias por cuidar do mais novo, a criança foi entregue aos pais sem qualquer arranhão;
III) numa determinada manhã, Paulo e sua irmã Sónia apareceram a correr pelos acessos da escola do Parque com umas folhas na mão, tinham criado um jornal do Campo de Férias – “o Férinhas” – tudo escrito à mão e assim copiado, a iniciativa vingou, tendo sido nesse título em que publiquei o meu primeiro texto;
IV) por fim, na tal evolução da AEJ, organizaram-se vários espetáculos na Praça Luís Ribeiro, em 1989, o “Adeus ao Verão” espetáculo com artistas sanjoanenses e durante vários anos da década seguinte, a festa final do Campo de Férias, escusado será dizer que Paulo participava sempre, mobilizando outros jovens para o palco, enfrentando a assistência sem qualquer dificuldade.
Ao longo do seu percurso de vida, que fui acompanhando, encontrei sempre estas caraterísticas. Primeiro no futebol, depois na sua dedicação à ADS, mais tarde como profissional de desporto e por fim, na sua carreira política. Tudo etapas mais ou menos conhecidas dos leitores e que têm sido lembradas na propaganda política.
Paulo entrou na vida partidária muito jovem, fez a ascensão política de baixo para cima, ou seja, da juventude partidária até ser candidato a presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira, subindo os sucessivos degraus em mais de 25 anos de filiado. É olhado com desconfiança, por um certo elitismo, que não acredita na sua simplicidade e na sinceridade do seu discurso. Esquecem a sua capacidade de mobilização, de iniciativa e da energia que deposita nas suas convicções. Não compreendem que a sua política é próxima dum humanismo preocupado em cuidar dos mais desfavorecidos, promovendo o desenvolvimento e a justiça social. Felizmente, Paulo Cavaleiro não alterou o seu discurso, nem se iludiu com uma perspetiva económica nas suas palavras. Manteve-se focado na cidade, nas suas instituições e associações e sobretudo, nos seus habitantes.
Para chegar ao 7º piso do Fórum Municipal falta-lhe apenas ultrapassar um degrau democrático, vencer as eleições deste domingo.
 

quarta-feira, setembro 20, 2017

Como vai a campanha

A argumentação política, em torno das autárquicas do próximo dia 1 de Outubro, continua aquém do esperado.

Por um lado temos os partidos ou coligações a apresentarem candidatos e o programa eleitoral, ou seja, com um espírito positivo e tentando manter uma elevação eleitoral. Por outro, temos o costume… a centralização na pessoalização, entrando-se na tentativa de denegrir a imagem dos adversários, utilizando-se, desta vez, as querelas partidárias como argumento. Cada vez mais, temos as redes sociais como fator de mobilização. Passando as ideias ali expressas para os textos de opinião nos jornais e até neste contexto surgiu uma notícia não assinada, no jornal labor, na qual a deontologia jornalística parecia ter ficada esquecida.

Poderia escalpelizar os casos e dar vários exemplos, através dos textos que fui recolhendo ao longo deste últimos quinze dias, acrescentando alguns de Julho, quando ficou oficializada a candidatura de Paulo Cavaleiro como candidato pela coligação PPD-PSD / CDS-PP. No entanto, seria maçador para os leitores prosseguir com o exercício exaustivamente, por isso, apenas será apresentado um ou outro exemplo, de forma reduzida.

Ficou visível para a sociedade a inversão de juízo que os agentes de oposição passaram a fazer do presidente da Câmara Municipal em exercício. Ricardo Figueiredo durante três anos e oito meses não foi reconhecido meritoriamente. Sofreu alguns ataques, como nunca tinha sido visto em S. João da Madeira. A partir do momento em que anunciou a sua indisponibilidade para se recandidatar e ficando-se a conhecer os pormenores desse processo, tal facto provocou uma inflexão na opinião que os seus opositores tinham sobre si.

Há quatro anos, utilizavam-se argumentos de elitismo para atacar Ricardo Figueiredo. Hoje, é o inverso. Apelida-se a candidatura de Paulo Cavaleiro de “populismo”. O populismo é um flagelo na democracia ocidental, que assenta em pilares como o ataque aos refugiados, aos imigrantes e sobretudo, às elites. Não se verifica a utilização de qualquer ataque por parte da coligação PSD / CDS a um dos grupos mencionados. Antes pelo contrário, há uma mensagem explícita que as “elites” de S. João da Madeira não querem Paulo Cavaleiro como presidente. Não me parece que tal seja verdadeiro. Estive na apresentação do candidato no Largo S. António em Julho e muitas das pessoas presentes, tinham estado igualmente em 2013 na Casa da Criatividade na apresentação de Ricardo Figueiredo, à qual igualmente compareci. Em ambas como independente. Há uma catarse argumentativa, uma expiação do populismo exercido em 2013, que fica bem se o arrependimento for sincero e não pontual. 

As redes sociais são hoje um instrumento ideal para o poder de manipulação. Devia ter escrito a frase entre aspas, pois é uma citação retirada de um texto de Pacheco Pereira. O contexto era a comemoração das 10.000 edições do jornal Público. O historiador alertava para a necessidade de mediar os comentários anónimos nas páginas on-line dos jornais nacionais. Quando li, lembrei-me dos ataques que existem no jornal “O Regional” aos cronistas residentes. É certo que existem outros esquemas de manuseamento das redes sociais a favor quer de políticos, quer de políticas, tudo isto sem qualquer transparência, utilizando-se páginas anónimas tentando ridicularizar candidatos, como tem acontecido nas eleições deste ano. Na mesma semana, uma página do Facebook, especializada em satirizar os agentes da política, publicou dois posts alusivos ao candidato de PSD / CDS de S. João da Madeira. Pelo meio ainda o brindaram com uma alcunha.

                Perante tudo isto, aguarda-se pela publicação de novas sondagens, para verificarmos qual a mensagem que melhor é acolhida pelos eleitores: a positiva, respeitando os adversários políticos e promovendo uma campanha dinâmica de informação ou, no campo oposto, a ziguezagueante com argumentos antagónicos conforme o adversário e sobretudo, com apreciações dos candidatos que em nada abonam a classe política que o permite.

                O escrutínio do primeiro dia de Outubro dissipará todas as dúvidas. 

 

(a publicar no dia 21/09/17)

quarta-feira, setembro 06, 2017

Apontamentos de Agosto (não necessariamente autárquicos)

1. Em 1986 quando a Praça Luís Ribeiro ficou liberta de trânsito, havia a ingénua expetativa de a tornarem num espaço amplo, como algumas praças de cidades europeias (incluindo as vizinhas espanholas), mantendo a traça arquitetónica do lado nascente, que nessa época tinha o seu lado sul a fechar. Infelizmente, o Parque América, apesar de ainda não estar finalizado, já era uma realidade edificada, demonstrando a sua monstruosidade. O anunciado progresso com arranha-céus, centro comercial, discoteca e cinema inibiram a população de se pronunciar contra a construção. Houve sempre a esperança, atendendo às dificuldades da empreitada, que o edifício jamais terminasse. Ano após ano, a obra esteve parada e durante todo esse tempo não houve nenhuma manifestação veemente, ruidosa e organizada. A passividade continuou com a ideia de aplicar uma chaminé bem no centro, retirando amplitude à Praça. Nessa época, a possibilidade de promover concertos de música era uma realidade bem aproveitada, enchendo-se o centro com centenas de pessoas, para ouvir grupos de vários estilos musicais, havendo um critério rigoroso na seleção dos mesmos. E não havia sábado, domingo ou feriado em que não estivesse a praça cheia, mesmo na véspera. O elemento arquitetónico, depois de entrar em funcionamento em 1992,nada trouxe ao centro. Na perspetiva de espaço musical, a redução de capacidade na plateia, devido ao volume de construção no centro, associado a uma escolha sofrível nos concertos promovidos, foram afastando a população. Entretanto, novos espaços da cidade recebiam concertos a sério. O elemento arquitetónico era pouco visitado, até surgir a ideia de ali instalar uma associação de jovens. Tudo mudou já neste século, esta associação foi despejada, o elemento arquitetónico ficou vazio, a ocupar espaço no centro da Praça e aos poucos a sua utilidade foi posta em causa, bem como, a sua estética. Este Agosto desapareceu. A Praça ganhou de novo amplitude, visibilidade de nascente para poente, trinta anos depois. Houve protestos. Chegaram atrasados. Três décadas, uma geração. Tempo perdido.

2. Foi simpático aparecer um cachecol da ADS, durante o concerto de Manel Cruz no Festival de Paredes de Coura. Passei por lá quatro dias, a ouvir bandas emergentes e outras consagradas, muitas ao meu gosto, noutros casos a descobrir novos sons e a educar o ouvido. Sobretudo ouvir jovens que se inspiram em bandas que acompanhei devotamente, nos tais anos 80 do século passado. No rescaldo das férias, passei o mês a ver concertos. Logo no início a assistir à homenagem da cidade do Porto e do festival PianoFest à pianista Olga Prats. Além dos dias do Alto Minho, ainda tive tempo de passar, no sul do país, pelos Xutos e Pontapés, para mesmo no fim de Agosto e passados 33 anos, conseguir assistir ao filme Stop Making Sense. Um concerto dos Talking Heads filmado pelo falecido Jonathan Demme (realizador referência do cinema norte americano da década de 90). Numa sala de cinema, tive oportunidade de ver um documento que mostra o divertimento que pode ser um concerto, para o público e para os músicos. Além disso, a prestação de David Byrne é excelente e deu para arrepiar ao assistir ao seu desempenho, levando-me a perceber como sempre gostei da exuberância, no momento apropriado.

3. Assunto de Agosto, resolvido no início de Setembro, compareço na apresentação da nova equipa de Natação da ADS. Como sócio fico contente pela aposta do clube. A ADS continua a prestar um grande serviço à comunidade local e como bem afirmou o seu presidente, Luís Vargas Cruz, seria imperdoável que a atleta olímpica da cidade, Ana Rodrigues, tivesse que ir representar um clube de outro concelho. Dos novos diretores da secção, espera-se a dedicação apropriada para constituir uma nova equipa de acordo com os pergaminhos do clube. Ao treinador, Luís Ferreira, pela experiência acumulada, pede-se o empenho de sempre e sobretudo, audácia, para lançar um projeto de longo prazo para a Natação de competição de S. João da Madeira.                 

 

quarta-feira, agosto 30, 2017

Clima eleitoral

Foi necessário esperar pelo mês de Agosto, para finalmente se ficar a conhecer a totalidade dos candidatos às eleições autárquicas, do próximo dia 1 de Outubro.

Entre surpresas pela positiva, com o ingresso de novas caras entre os candidatos e a estupefação, pela saída de nomes consagrados da política local, os demais partidos ou coligações optaram claramente por uma maior renovação das suas listas, nos mais variados órgãos. Sendo certo que há recandidatos e alguns a encabeçar determinadas listas.

Existem dois fatores a destacar nas listas dos partidos com mais hipótese de vencer, segundo a sondagem publicada pelo semanário “O Regional” no dia 27/07.

Em primeiro lugar, a semelhante idade dos candidatos à presidência da Câmara Municipal de S. João da Madeira, ambos na casa dos quarenta anos. O que é um sinal de renovação e uma aposta no futuro, seguindo o princípio de que a experiência vai-se acumulando no exercício do cargo. Contudo, atendendo à sua idade, estes candidatos sofrem da desconfiança da população.

O aumento da esperança de vida tornou a população mais envelhecida, havendo uma grande percentagem de habitantes na casa dos 50, 60, 70 e 80 anos ainda ativos e com vontade de exercer o seu direito ao voto. Perante candidatos mais novos, desencadeia-se uma certa dúvida acerca das suas aptidões políticas. Porém, contraria-se as incertezas com o vasto currículo político dos candidatos. Sobrando, apesar de tudo, um sentimento paternalista dos eleitores mais velhos, estando sempre prontos a dar conselhos aos candidatos, mais novos.

O outro destaque vai para a composição das listas para o executivo municipal. O PS com uma aposta clara e corajosa em independentes, atribuindo lugares elegíveis a duas mulheres, o que reforça o esforço pela igualdade de género daquele partido. A este equilíbrio, a coligação PSD / CDS-PP respondeu com maestria. Primeiro recuperou mais dois dos vereadores que acompanharam os primeiros mandatos de Castro Almeida, reforçando a ideia da aposta em experiencia autárquica. Além disso, contemplou o parceiro mais pequeno da coligação com um lugar destacado, o que não só, é um reforço político, atendendo à experiência de João Pinho de Almeida, como também a tentativa de fixar o voto de direita nesta coligação.

E este é um ponto fulcral na eleição deste ano: a ausência do movimento independente.

Depois do surpreendente resultado de 2013, com a eleição de um vereador, o eleitorado penalizou esta força política, nas eleições intercalares de 24 de Janeiro de 2016, esvaziando-a nas urnas. Saber como vão reagir os 6,5% de eleitores no presente ano, é um dos desafios para os partidos. Para já, atendendo à matriz conservadora associada ao movimento independente S. João da Madeira Sempre, a coligação, pelo 3º lugar atribuído ao CDS conforme atrás mencionado, alarga mais os seus limites eleitorais e pode vir a recolher dividendos políticos para a obtenção de uma maioria tranquila.      

 Perante tudo isto, ultrapassado os atribulados convites, a apresentação de candidatos que afinal eram mandatários, chegamos a Setembro com tudo definido e em tempo de apresentação de propostas eleitorais.

Olhando para o calendário, verificamos que apenas falta um mês, para se saber quem será o vencedor das eleições autárquicas de S. João da Madeira.

As eleições deste ano, entre a apresentação de candidatos e a contagem de votos, ficarão resolvidas em seis meses, o que pode parecer curto. Ou antes pelo contrário, poderá ser o tempo ideal para um período eleitoral.

 

(a publicar no dia 31/08/17)

quarta-feira, julho 19, 2017

Vizinhos

A 1 de Outubro, seja qual for o resultado eleitoral, São João da Madeira vai conhecer um novo presidente da câmara. 

Depois de 18 anos da presidência de Manuel Cambra e de 12 de Castro Almeida, não haverá recandidatura de Ricardo Figueiredo, pelo que um novo ciclo começará no concelho.

Os 30 anos de estabilidade presidencial permitiram uma melhoria significativa da estrutura da cidade e das condições de vida da sua população. Embora alguns dos períodos de Manuel Cambra tenham sido de alguma turbulência, nada comparados com os primeiros anos da década de 80 do século passado, que antecederam o seu mandato, a verdade é que o então presidente, além da dinâmica implementada na autarquia, conseguiu unir esforços com os concelhos vizinhos, implementando uma série de serviços intermunicipais, ao abrigo da Associação de Municípios das Terras de Santa Maria. O próprio Castro Almeida continuou a aposta com os vizinhos e conseguiu fazer progredir a intermunicipalidade, lançando vários projetos comuns, tanto na área digital, como na gestão de energia, de resíduos, entre outros.

Ambos tinham ascendente sobre os presidentes da câmara da terra vizinhas. Um pela experiência de vida e pela capacidade de concretizar obra, outro pelo percurso político e pela capacidade de captar fundos comunitários. Tanto um como o outro foram os verdadeiros líderes da sub-região, designada por Entre Douro e Vouga.

É certo que a integração desta sub-região na área metropolitana do Porto retirou força às parcerias de vizinhança.

Dos projetos em comum subsistem poucos. No entanto, nos últimos 4 anos, o Conselho Metropolitano do Porto foi liderado pelo autarca eleito de Oliveira de Azeméis e mais recentemente pelo de Santa Maria da Feira. Embora não tenha retido nenhuma medida agregadora durante o exercício de Hermínio Loureiro para os concelhos do Entre o Douro e Vouga, já nos últimos meses, voltaram a surgir notícias em que o interesse comum da sub-região passou à ordem do dia. Nomeadamente, na questão dos transportes, com a intenção da transformação do troço do Vouguinha entre Espinho e Oliveira de Azeméis a ser servido por comboio urbano, o que permitirá uma maior coesão territorial e rápida acessibilidade à cidade do Porto. Outro facto a realçar, prende-se com a renovação do coletor intermunicipal das águas residuais. Dois exemplos que permitem verificar que é necessário continuar a apostar nas boas relações com os vizinhos, apesar da inserção em espaço Metropolitano mais alargado.

As questões ambientais seriam porventura as mais fáceis de convergir e reivindicar em conjunto, como por exemplo, no processo de limitação dos odores do “casqueira”. A soma das partes afetadas ascenderia a quase 50.000 habitantes, considerando freguesias ou união delas, em redor da sede da empresa.

Haverá outros casos em termos ambientais, como por exemplo, a despoluição de rios com percursos a atravessar mais do que um concelho, em que o princípio deveria ser o mesmo, o bem-estar e a qualidade de vida da população.

Há, contudo, outras matérias em que S. João da Madeira pode voltar a liderar, o turismo é uma delas. Atendendo ao produto diferenciador implementado na cidade, com os roteiros de turismo industrial, seria importante pensar-se na sub-região quer no complemento na oferta, ou como integração no mesmo conceito, aumentando os processos e produtos industriais a incluir em roteiros. De qualquer forma, a ideia será avançar para captar a atenção dos operadores turísticos, diversificando a oferta dos milhões de estrangeiros que aterram no aeroporto Sá Carneiro e que podem ter uma experiência nova, num conceito novo intitulado de Porto industrial.

 

(a publicar no dia 20/07/17)

terça-feira, junho 27, 2017

da Madeira

                José Mattoso, prestigiado historiador português, desenvolveu a tese que alguns nomes das localidades derivam da sua principal atividade económica. Porto é o mais significativo e serve como exemplo. Do mesmo modo, a concentração de artesãos em determinada rua, ou mesmo, localidade, serviu como designação das mesmas. Neste sentido, tal como já o escrevi anteriormente neste jornal, S. Paio de Oleiros, S. Félix da Marinha e S. João da Madeira, seriam nas terras medievais de Santa Maria a localização de artífices da olaria, da pesca e do trabalho em madeira.

                Esta tese fundamenta a apetência histórica da indústria de S. João da Madeira.

Em época anterior ao aproveitamento do vapor como fonte de energia, a transformação de madeira servia essencialmente para a construção civil, mobiliário e armazenamento de alimentos. Ficou na toponímia da cidade o lugar do Orreiro, vocábulo associado à trave que entra na cavidade das lajes de certos moinhos, ou seja, um termo de edificação. É certo que em épocas tão remotas, o trabalho em madeira cingia-se à serração para tábuas e ao debaste através da enxó. Pode-se ainda pressupor que dessa madeira, cortada nas oficinas da povoação, conseguia-se produzir tamancos, socas e chancas, no que terá sido a génese da indústria do calçado. A toponímia, também aqui, tem um papel importante, pois identifica-se, precisamente, uma Rua dos Tamanqueiros, no norte da cidade, numa artéria perpendicular à Rua do Condestável.

                Não há transformação de madeira sem árvores e continuando pela designação de nomes de ruas ou lugares de S. João da Madeira, é possível identificar espécies como castanheiros (através do topónimo Largo do Souto, sendo este o nome coletivo para um conjunto destas árvores, o que é uma evidência histórica do arvoredo existente outrora na localidade), carvalhos (a existência de um lugar nas imediações chamado Carvalhosa, prova a presença antiga destas árvores, embora, tenha apreciado umas fotografias antigas de um belo carvalhal na zona de Fundões), além da Devesa-Velha, cujo significado indica lugar cercado por árvores, ou noutra versão, alameda ladeada por árvores. 

Tudo mudou com a revolução industrial.

Primeiro com o consumo de lenha para alimentar as caldeiras. Aumentado a procura nas imediações dos novos centros industriais.

O que acredito ter tido repercussões no negócio dos artesões da madeira foi a construção do caminho-de-ferro, com o fabrico de traves para as linhas e o facto das próprias locomotivas serem alimentadas a lenha. As serrações passaram ter outra capacidade de produção e como o produto tinha muita procura, a maior parte destas pequenas indústrias começaram a formar-se na proximidade da principal linha ferroviária do país, a linha do Norte.

                As serrações mais distantes da ferrovia foram-se especializando em outros produtos. É certo que a construção e o mobiliário continuavam a absorver muita madeira, no entanto, a especialização e por outro lado, a reconversão dos artesãos locais, fizeram com durante o século XX, ainda assim, vigorassem em S. João da Madeira algumas serrações, a produção de urnas, associadas à indústria de outros artigos funerários, como a cera, a produção de tábuas de passar a ferro e noutra perspetiva, os lápis de madeira, que ainda hoje são produzidos. 

A história da indústria da madeira muda com a chegada da eletricidade e mais tarde das locomotivas movidas a diesel e claro, com a introdução do betão na construção civil. Aqui, a transformação de madeira teve que descobrir outras soluções: caixas para acondicionar frutas ou legumes foi uma delas e após à utilização de polímeros naquelas embalagens, a produção de paletes tornou-se a solução ideal para quem trabalha no sector da madeira. Outra solução passou por painéis em platex, mdf, ou outros aglomerados.

                A produção florestal está associada à procura da indústria transformadora. Das espécies autóctones evoluiu-se para pinheiros, por insistência do Estado Novo (desenvolvendo-se a industria resineira e o aproveitamento do pinho para os mais variados fins) e mais tarde para as manchas de eucaliptos, alimentando-se as celuloses, que são hoje os principais clientes da floresta.

O desenvolvimento urbano da cidade, com a inerente industrialização, confinou a pequenas manchas as espécies florestais. Não é por isso que S. João da Madeira fica indiferente aos trágicos acontecimentos vividos na pretérita semana nos concelhos do interior do país.

                Sendo a produção de eucaliptos a principal fonte de riqueza da florestal nacional, pelo seu rápido crescimento até ao abate, parece-me importante, que não esteja sujeito a ações de vilipendiação, como fogos. Todas as ações de prevenção são importantes, assim como, recuperar os ensinamentos do passado: limpeza, acumulação de águas pluviais, evitar as monoculturas, introduzir pelo meio do pinhal ou do eucaliptal várias espécies autóctones, com maior resistência ao fogo e desta forma evitar a sua propagação por extensões tão elevadas. No fundo, é necessário reverter os erros dos últimos cinquenta anos e procurar encontrar um desenvolvimento sustentável na floresta.

 

(a publicar no dia 29/06/17)

terça-feira, junho 13, 2017

Os estáveis e os instáveis

Na passada semana prosseguiram as entusiasmantes eleições em alguns países europeus.

Em Março, na Holanda começou a esboçar-se o desmoronamento do populismo da extrema-direita nacionalista. Seguiram-se as eleições presidenciais franceses. Uma primeira volta, com grande incerteza sobre quem seriam os dois candidatos mais votados, que permitiu fazer-se toda e qualquer especulação sobre a política francesa. Mesmo após a vitória de Emmanuel Macron, na eleição definitiva, surgiram vários reparos: o fim da dicotomia “jacobinos” e “girondinos”; o voto “útil” republicano contra a Frente Nacional (FN) da família Le Pen, empolando-se o resultado desta força política, afirmando-se precipitadamente ser o maior partido de França; a impossibilidade do presidente eleito poder governar, pois o parlamento a eleger em Junho ser-lhe-ia hostil.

Chegados ao dia 11 de Junho, os resultados eleitorais de França permitem chegar a conclusões diferentes das premissas ventiladas após as eleições presidenciais. Em primeiro lugar, o novo partido “social-liberal” fundado em torno das convicções do novo Presidente passou a ser a maior força do parlamento, garantindo assim, a governabilidade da França. Em segundo lugar, a dispersão de votos pelos restantes partidos, fazendo com que a FN seja apenas a quarta força eleitoral, à frente do Partido Socialista (PSF), mas atrás do Partido Republicano e da esquerda insubmissa de Mélenchon. Por último, como se pode ver pelas linhas anteriores, o PSF perdeu completamente o seu eleitorado.

Ainda falta apurar os resultados definitivos das eleições legislativas, a segunda volta, a decorrer no próximo Domingo, no entanto, dá para perceber que o PSF está a ser penalizado pela péssima atuação do anterior Presidente da República Francesa e o seu indeciso governo. O PSF, mesmo com a sua deriva ideológica à esquerda, solução encontrada para evitar processos eleitorais semelhantes aos socialistas gregos, ou mesmo, holandeses, não cativou. Desta vez, o seu eleitorado preferiu o discurso claro, integrador e pró-europeu de Emmanuel Macron, optando por apoiar um partido central.

Um partido “social-liberal”, como se definiu o “A República em Marcha”, pode ser novo em França, no entanto, em Portugal já existe há alguns anos, precisamente o PPD / PSD, que alterna entre a ideologia liberal e a social-democracia de inspiração cristã. Curiosamente nos gráficos dos resultados eleitorais do passado Domingo, nos órgãos de comunicação social franceses, os resultados do partido de Macron apareciam a laranja.

A estabilidade eleitoral francesa, a sua opção europeia, contrasta com a instabilidade inglesa. Ambos os países tinham resultados nas eleições europeias semelhantes – uma clara vitória de partidos que pretendiam uma saída da União Europeia (em França, a FN e no Reino Unido, o UKIP). Para agravar a posição dos britânicos, no referendo sobre a permanência na Europa, o voto foi dividido, com ascendente para o “Não”. Com o “Brexit” na agenda, a primeira-ministra britânica forçou eleições antecipadas, para garantir maior capacidade negocial, baseando-se em sondagens que eram favorável ao seu partido, o Conservador. Uma campanha eleitoral com várias contradições, um discurso pouco claro, com pouco apoio dos jovens, não permitiu a Theresa May alcançar a maioria absoluta e corre o risco de governar com uma oposição maioritária no parlamento, caso não consiga fazer uma coligação séria com algum partido.

Por seu lado, o Partido Trabalhista conseguiu o melhor dos resultados dos últimos anos. Com um discurso, apelidado de retrógrado, do seu líder, Jeremy Corbyn, que agradou sobretudo ao eleitorado mais novo, o que não deixa de ser uma curiosidade. No meio da instabilidade inglesa, parece plausível afirmar que a convicção do líder Trabalhista foi o único argumento estável das eleições britânicas.

Pela diferença de posições dos partidos da esquerda moderada, em França e no Reino Unido, podemos verificar que as derivas ideológicas não correspondem exatamente aos mesmos resultados eleitorais. Cada país é diferente de outro, havendo sempre voto penalizador para discursos e atos pouco claros. Acontecendo o contrário, quando a convicção é grande, quer seja ideológica, quer seja inclusivamente pragmática, ou pró-Europeia, o eleitor prontifica-se a premiar a coerência.

A terminar, umas palavras para as eleições autárquicas em S. João da Madeira. Após a recusa de Ricardo Figueiredo em ser candidato pela coligação PSD/CDS-PP, recordo a ideia democrática portuguesa baseada nos partidos políticos. Cada vez mais me convenço, que o caminho dos independentes é seguir o exemplo de Rui Moreira: pela cidade, sozinho e quem quiser apoiar… não fica com os “louros” políticos.

 

(a publicar no dia 14/06/17)

quarta-feira, junho 07, 2017

O convite

                A aproximação temporal às eleições autárquicas e o desconhecimento dos candidatos de alguns partidos contrasta com o período que antecedeu o sufrágio de 2013.

                Sendo certo que em 2016,ano de eleições intercalares, a agitação partidária culminou com a vitória com maioria absoluta da coligação PSD / CDS-PP, no presente ano, o processo eleitoral ainda permanece em “banho-maria”.

                Durante os quatro anos alguma coisa mudou.

                Um balanço autárquico pode ser efetuado por três indicadores financeiros: despesas com o pessoal; endividamento e investimento efetuado. Na apresentação do relatório de contas referente ao ano de 2016, a autarquia de S. João da Madeira anunciou a redução da dívida municipal, para quase metade do valor de 2013, informando simultaneamente que em igual período o investimento tinha sido de 20 milhões. Sobre as despesas com o pessoal, confesso não ter retido nenhum número no último ano e recordo que em tempos houve a tentativa de empolar os números dos funcionários municipais, por parte de um antigo vereador, posição contrariada e demonstrada pelo executivo liderado por Ricardo Figueiredo.

                Aos três indicadores tradicionais, deve-se acrescentar um quarto: capacidade de atrair investimento para o município. Neste ponto, a reabilitação urbana financiada através de fundos comunitários (PEDU), com o consequente investimento privado em torno da Rua Oliveira Júnior ajudam a quantificar o montante global de euros a investir, que transformarão a entrada norte da cidade. No presente ano, a existência de uma grua naquela zona da cidade, é um sinal que os tempos são de mudança.

Outra forma de se fazer um balanço autárquico, é verificarmos a capacidade de resolução de assuntos herdados do executivo anterior. Se Castro Almeida, em oito anos, conseguiu resolver problemas antigos: pontão no Orreiro, túnel na Rua 5 de Outubro, restauro no Palacete dos Condes, finalização do arranjo da rua dos “jeitos”, acrescentando-se ainda o Jardim na Avenida da Liberdade, o Parque Urbano no Rio Ul, o Museu da Chapelaria, os Paços da Cultura, rematando a lista com a diminuição da dívida municipal, muito suportada pela venda de terreno para centro comercial.

Para o futuro presidente subsistiriam as inaugurações da Casa da Criatividade e da Oliva Creative Factory. Restauros com financiamento garantido, ficando Ricardo Figueiredo com a tarefa facilitada. O mesmo não aconteceu com a Piscina projetada por Souto Moura, com o desfecho conhecido de todos, que não vou relembrar.

Pelo caminho, neste mandato com intervalo eleitoral, concretizou-se o Museu do Calçado, enriquecendo o núcleo museológico da cidade, apoiou-se o empreendedorismo com a diversificação de incubadoras de empresas, lançaram-se obras para inaugurar antes do final do mandato, tendo em vista a melhoria geral da cidade e da sua população.

É certo que estes anos ficarão lembrados pela reabertura da Urgência do Hospital de S. João da Madeira. Desfecho que conheceu vários episódios, com duas resoluções diferentes, uma revertendo a outra. 

A partir do próximo ato eleitoral, haverá a necessidade de intervir de novo na Praça Luís Ribeiro, para emendar erros do passado. Há a necessidade de dar ocupação aos edifícios municipais devolutos (Palacete dos Condes e Casa do Rei da Farinha). Será imperioso resolver o problema da sobrelotação da piscina municipal. E para finalizar, haverá necessidade de se continuar a apostar na animação da cidade.

Neste sentido, o convite endereçado a Ricardo Figueiredo para se recandidatar, pela capacidade política demonstrada, pela resolução de problemas, pelo lançamento de projetos para a cidade, faz todo o sentido.

 

(a publicar no dia 08/06/17)