Em 2010, ao ser consagrado como o melhor concelho para se viver, segundo o estudo divulgado pelo jornal Sol e patrocinado pelos concorrentes, S. João da Madeira mereceu os mais elevados elogios e destaques na imprensa nacional. A autarquia local apostou em melhorar o seu resultado nesta competição, coroando o seu esforço de anos anteriores, na modernização dos equipamentos e espaços públicos, tornando o concelho apelativo e demonstrando existir por cá uma óptima qualidade de vida. Uma estratégia bem delineada, para conseguir publicidade institucional. Praticamente atingida na sua totalidade.
Este ano, da obtenção do título de “concelho mais cuidado”, termina com evidências de que os bens públicos, não são afinal correctamente cuidados. Equipamentos com responsabilidade de gestão e conservação exclusiva da autarquia local. O encerramento temporário da piscina municipal, devido à falta de manutenção das instalações, evidenciou que a autarquia se desinteressou do equipamento desportivo mais utilizado pelos habitantes locais. Na aflição e na impossibilidade de culpar outros, em especial, o Estado central, o Presidente lançou areia aos olhos dos seus munícipes, prometendo piscinas novas, segundo o edil mais baratas do que a remodelação da actual, o que deixou incertezas quanto à continuidade da utilização da piscina no actual ano lectivo, no que se previa um retrocesso nas actividades desportivas, de saúde e de lazer da população. Neste cenário, o bom senso imperou e a piscina reabriu, com mais um remendo no tecto. Entretanto, as certezas dissiparam-se. Agora, ponderam-se soluções e analisam-se orçamentos. Reconhece-se desta forma a falta de intervenção atempada no equipamento municipal. Nos anos de gestão do actual presidente da Câmara é primeira vez que tal acontece. E desta vez, com nove anos da sua gestão, a responsabilidade é do próprio. Não há desculpas.
Falta de dinheiro não se pode alegar, veja-se o restauro no edifício que albergou o Centro de Arte. Milhares de euros gastos na recuperação do imóvel, para estar fechado e sem ocupante previsto. Não se percebe porque não se opta por fazer regressar o antigo inquilino às suas instalações. Além disso, para 2011 a verba no orçamento municipal para reparações em arruamentos é elevada. Uma fatalidade segundo li, embora não compreenda as prioridades e a obsessão em arranjar sempre o mesmo.
O pequeno episódio do aquecedor numa escola do ensino básico, a negação do facto e a procura de justificações para a necessidade de quotização dos pais, promovendo o conforto dos filhos, não abonou em nada a autarquia. Relembre-se que esta sempre procurou ter escolas equiparadas às dos países “desenvolvidos”.
Perante estas duas evidências negativas, o conceito de qualidade fica penalizado. A realidade é diferente do resultado do concurso do jornal semanário. A expectativa criada após o destaque alcançado na imprensa nacional, não corresponde na totalidade aos anseios básicos da população. Promove-se essencialmente uma qualidade virtual. Algo em conformidade com os indicadores em estudo, contudo, diferente das necessidades do quotidiano da população.
A ilusão não termina aqui.
A promoção do concelho baseia-se obviamente no que se transformou nos últimos tempos e por outro lado, efabula-se imenso com os novos projectos, sobretudo, com os de índole cultural, com requalificações para albergar dois centros de criatividade.
As dúvidas quanto a resultados destes projectos ganham propriedade. Por se prever a concretização num futuro duplamente incerto. Temporal e financeiramente.
Todos se recordam da apologia da internet sem fios gratuita, extensível a todo o concelho – jamais concretizada. De igual modo, a decisão de abandonar o projecto do comboio interno, tipo “vai e vem”, conforme sempre foi defendido pela sensatez, demonstra a pouca fiabilidade de promessas eleitorais e a fraca consistência do projecto autárquico em execução. Os dois novos grandes projectos para S. João da Madeira, a requalificação do cinema Imperador e da Oliva, mais do que ponderação, obrigam a uma explicação pormenorizada aos munícipes. Mesmo verificando-se a sua construção antes de 2013, só entrarão em pleno funcionamento após essa data. A partir daí, ou seja, após a saída da presidência da Câmara Municipal de S. João da Madeira, de Castro Almeida, por limitação do número de mandatos, é que se analisará os reais efeitos destes projectos culturais. Ao nível de programação, da captação de público, da fixação de criativos e claro, de toda a envolvência financeira dessas soluções culturais.
Um fiasco será fatal para o destino da cidade.
(a publicar no dia 30/12/10)