O desporto mereceu em 2012 o maior dos destaques. No balanço do ano, assinalo a importante presença de Ana Rodrigues nos Jogos Olímpicos de Londres, como o acontecimento de maior relevo de 2012.
O percurso desportivo de Ana Rodrigues é sobejamente conhecido. Captada na escola Municipal de Natação, ensinada e fidelizada à modalidade na Associação Estamos Juntos, cedo viu o seu talento ser reconhecido, ao vencer campeonatos regionais e nacionais. Atempadamente integrou o desporto de alto-rendimento, com chamadas à seleção nacional e passou a ser esperança para os Jogos de Londres. Pelo meio, participou e conquistou uma medalha de bronze nos 50 metros bruços, nas primeiras Olimpíadas da Juventude, disputadas em Singapura.
Em 2012, foi exigido a Ana a obtenção dos tempos mínimos para estar presente em Londres. Em Março, no nosso Nacional Absoluto, esse tempo foi conseguido, embora essa marca só fosse homologada, como tempo de admissão às olimpíadas, a quinze dias do início do torneio olímpico.
A 29 de Julho, pouco depois das 10 horas da manhã, Ana Rodrigues mergulhava para a piscina de Londres cumprindo o seu sonho de atleta. Para trás ficavam horas de sacrifício, de treino, de apuramento de forma física, de competições essencialmente contra o relógio, enfim de dedicação a uma modalidade desportiva extremamente exigente.
Com o feito de Ana, o desporto em S. João Madeira talhava uma nova página na história da cidade. A página dourada do desporto, como eu próprio lhe chamei em Julho.
Anos de trabalho, anos de paciência e de esperança.
O reconhecimento da atleta, do seu treinador e do próprio clube foram atempadamente testemunhados. A natação, ao longo dos últimos cinco anos, teve um destaque na imprensa local, não muito comum no panorama nacional da comunicação social. A própria autarquia cedo apoiou Ana Rodrigues na sua cruzada, concedendo-lhe subsídios individuais e passando a transferir verbas de montante superior para a Associação Estamos Juntos.
Ana Rodrigues foi um projeto do desporto local. Essencialmente, do seu treinador e por inerência do seu clube. Um projeto integral de desporto de alto rendimento, da escola aos jogos olímpicos. Com todas as fases a serem executadas na cidade. Excetuando os treinos de outono, inverno e primavera em piscina de 50 metros (e as chamadas à seleção nacional). Evidenciando-se desta forma, ser possível com os meios existentes em S. João da Madeira, desenvolver projetos sérios no desporto, salvaguardando a exceção atrás mencionada.
Em setembro, no arranque da época 2012/2013, Ana mudou de clube. Parte para o novo ciclo olímpico, a terminar em 2016 no Rio de Janeiro, com enormes perspetivas de sucesso. A experiência adquirida até Londres, permitir-lhe-á enquadrar o próximo desafio de forma segura. É evidente que o seu novo clube, FC Porto - campeão nacional da modalidade, lhe oferece outras condições de treino e competitivas e obviamente isso, em desporto de alto rendimento, é fundamental.
Com a saída de Ana Rodrigues, o desporto em S. João da Madeira ficou amputado. Perdeu definitivamente a sua vertente de alto-rendimento. Recorde-se que, no ano passado, já havia encerrado o centro de alto rendimento de basquetebol, que trouxe qualidade e resultados à modalidade praticada na cidade pela ADS.
Em 2012 foi o fim.
Não nos devemos esquecer, apesar da saída de Ana Rodrigues, que o técnico, Luís Ferreira continua nos quadros da AEJ - tal como foi mencionado por Fernando Moreira na semana passada no jornal - e a experiência por si adquirida nestes últimos anos, poderá ser importante para se fazer a ligação entre a escola municipal de natação e os restantes degraus de competição nesta modalidade.
A natação poderá servir como o bom exemplo, a seguir por outras modalidades desportivas. Terá que se ponderar para o futuro, que tipo de política desportiva se pretende para os clubes de S. João da Madeira? Como enquadrar o desporto de alto-rendimento? E claro desenvolver políticas de captação, identificação de talentos, além das necessárias para o ensino e fidelização dos jovens como praticantes de desporto federado, de preferência olímpico.
Esperemos que o novo ano, traga mudanças no paradigma desportivo da cidade e a presença futura de atletas sanjoanenses em Jogos Olímpicos seja reconhecida pelo seu mérito e não apenas, como obra do acaso, como infelizmente alguns verbalizaram.
(a publicar dia 28/12/12)